Familiares e ex-ministros de Bolsonaro foram citados na investigação do golpe, mas não enfrentarão a Justiça.
Paulo Mororyn
O indiciamento de 37 pessoas, entre elas o ex-presidente Jair Bolsonaro e os generais Braga Netto e Augusto Heleno, no inquérito sobre a tentativa de golpe de Estado pode ter feito alguns familiares, militares e ex-ministros bolsonaristas respirarem aliviados.
Isso porque, embora a lista de indiciados inclua figuras-chave do governo Bolsonaro, há personalidades que escaparam da PF. Entre elas, estão ex-ministros, membros de alta patente das Forças Armadas e integrantes da família do ex-presidente citados na investigação sobre a trama golpista.
Alguns exemplos são a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro, mencionados na delação premiada de Mauro Cid como incitadores do golpe, e o general Heber Portella, que teria usado sua posição para contestar a integridade das eleições.
Outros nomes, como o coronel Elcio Franco e o ex-ministro Wagner Rosário, além do ex-secretário de Comunicação da Presidência André Costa, também apareceram durante as investigações como supostos articuladores de ações golpistas, mas ficaram fora da lista de indiciados.
Na quinta-feira, a PF indiciou 37 pessoas pelos crimes de organização criminosa, abolição violenta do estado democrático de Direito e golpe de estado. As penas máximas para cada crime vão de oito a 12 anos de prisão. Das 37 pessoas indiciadas, 25 são militares.
Segundo a PF, "os investigados se estruturaram por meio de divisão de tarefas, o que permitiu a individualização das condutas". Como o relatório final da investigação não foi divulgado, ainda não é possível saber detalhes sobre as condutas de cada um – e nem porque personalidades citadas na investigação não foram indiciadas.
Mas eu te ajudo a relembrar quem é quem.
QUEM ESCAPOU DA PF?
Coronel Elcio Franco: alocado no Palácio do Planalto depois de sair do Ministério da Saúde, foi flagrado em áudio defendendo a prisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, e incitando pressão contra os comandantes das Forças Armadas para que recusassem o resultado das urnas. Ele era um dos integrantes escalados para o gabinete de crise que governaria o país após o golpe de estado.
Coronel André Costa: chefe da Secom de Bolsonaro, o policial militar do Distrito Federal esteve na reunião ministerial golpista de junho de 2023 e também era um dos integrantes escalados para o gabinete golpista. Costa recebeu os chefes da PM do DF, réus no STF por erros e omissões no dia 8 de Janeiro, para pelo menos três reuniões dentro da Presidência da República depois da derrota de Bolsonaro nas urnas.
Michelle Bolsonaro: em delação premiada à Polícia Federal, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, disse que Michelle Bolsonaro integrava um grupo de conselheiros que incitava o ex-chefe do Executivo a dar um golpe de Estado depois das eleições de 2022.
Eduardo Bolsonaro: outro familiar implicado na delação de Mauro Cid, o deputado federal pelo PL de São Paulo, segundo o ex-ajudante de ordens, dizia ao ex-presidente que ele teria o apoio da população e de atiradores esportivos, conhecidos como CACs (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador), para operar um golpe de estado.
Wagner Rosário: o ex-controlador geral da União de Bolsonaro foi um dos mais exaltados em uma das reuniões ministeriais de teor golpista promovidas por Jair Bolsonaro. Além de duvidar da correição das urnas, propôs uma união inédita e ilegal da Polícia Federal, das Forças Armadas e da própria CGU para questionar a integridade das eleições.
General Heber Portella: o ex-chefe do Comando de Defesa Cibernética foi o representante das Forças Armadas na comissão de fiscalização do processo eleitoral coordenada pelo TSE. No cargo, espalhou desinformação sobre as urnas, contestou o processo de votação brasileiro e ainda indicou militares com inclinações golpistas para inspecionar o código-fonte na sede da Corte Eleitoral.
General Ramos: chefe do general Mário Fernandes na Secretaria-Geral da Presidência da República, foi um dos militares que permaneceu no Palácio do Planalto do início ao fim do governo Bolsonaro. A fama de "fofoqueiro", segundo a imprensa, fez com que fosse excluído de algumas articulações. Mas, desde 2020, fazia ameaças golpistas. Em entrevista à Veja naquele ano, exigiu que o STF "não esticasse a corda".
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