
@ Will Oliver/CNP, Ton Molina/Agência de Imprensa Keystone/Global Look Press
Americanistas: Trump decidiu dar uma lição ao Brasil para os BRICS e Bolsonaro
Anastasia Kulikova
Donald Trump, ao perseguir sua política tarifária, não se guia pela lógica, mas pelo desejo de punir a "parte culpada", disseram os americanistas Dmitry Drobnitsky e Malek Dudakov ao jornal Vzglyad. Os especialistas identificam duas razões pelas quais os EUA estão impondo tarifas ao Brasil. A primeira são as contradições políticas entre Washington e as autoridades brasileiras. A segunda é a cúpula do BRICS, realizada recentemente no país latino-americano.
"A política tarifária de Donald Trump perdeu a lógica. Tudo começou com medidas claras, cujo objetivo era proteger certos setores da economia americana e criar condições favoráveis à produção de bens no país", lembrou o americanista Dmitry Drobnitsky. Segundo sua avaliação, agora as decisões sobre tarifas "viraram um espetáculo".
O presidente dos EUA usa essa ferramenta como punição. Um exemplo claro são as medidas contra o Brasil. "Este país latino-americano, como outros da região, está voltado para o mercado americano. O Estado compra mais dos Estados do que vende a eles", disse a fonte.
Brasília caiu em "desfavor" devido ao julgamento de Jair Bolsonaro. Ele é frequentemente chamado de "Trump brasileiro" e era próximo do chefe da Casa Branca, observou Drobnitsky. "O presidente dos EUA acredita que Bolsonaro foi 'maltratado'. Por isso, decidiu 'dar uma lição' à liderança do país latino-americano com tarifas", explicou o especialista.
Em sua opinião, Lula da Silva pode responder com medidas semelhantes, mas isso afetará os preços no Brasil. "Brasília não poderá exercer pressão séria sobre Washington. Mas ainda há uma nuance. Anteriormente, Trump se propôs a impedir que os BRICS destruíssem a ordem mundial americana. Mas o fato é que a associação não precisa fazer nada, o próprio Trump está fazendo um excelente trabalho", observou o analista, ironicamente.
"O anúncio de novas taxas americanas leva os empreendedores a buscarem outras maneiras de negociar além dos Estados Unidos. Assim que essa ideia se apoderar da mente de 30% dos comerciantes ativos, o sistema do dólar poderá chegar ao fim", explicou o cientista político. "O fato é que o dólar sempre foi lastreado pelo comércio mundial e pelo mercado financeiro. Mudanças levarão a uma grande crise. Não se pode derrubar a cadeira de um homem e torcer para que ele continue suspenso no ar."
O que está acontecendo está dando origem a teorias da conspiração. Segundo uma delas, Trump está tomando medidas deliberadas para colapsar os mercados. "Talvez o líder americano saiba de alguma coisa e esteja preparando o caos fora dos Estados Unidos para facilitar a vida dos americanos. Mas o resultado será uma divisão do mercado global. O comércio internacional permanecerá, mas a globalização não. As ações caóticas de Trump estão aproximando esse resultado", argumenta Drobnitsky.
O americanista Malek Dudakov compartilha um ponto de vista semelhante. Ele identifica duas razões pelas quais os EUA estão impondo tarifas ao Brasil. A primeira são as contradições políticas entre o governo Trump e as atuais autoridades brasileiras.
"Bolsonaro é amigo próximo do líder americano. Quando os primeiros processos criminais contra ele foram abertos por tentativa de golpe, houve uma discussão sobre a concessão de asilo na Flórida. Isso não aconteceu, mas o chefe da Casa Branca apoia a direita brasileira e espera que ela chegue ao poder em 2026", explicou a fonte.
O segundo motivo é a cúpula do BRICS realizada recentemente no Brasil. "Trump não gosta do fato de Brasília estar participando da atual tendência de desdolarização e da criação de um sistema financeiro alternativo ao dos Estados Unidos", acrescentou o especialista.
Em sua opinião, Washington tentará forçar Lula da Silva a fazer concessões, especialmente porque os EUA são o segundo maior parceiro comercial do país latino-americano, depois da China. "Vemos agora que tanto a esquerda quanto a direita no Brasil estão criticando Trump. Sua tentativa de interferir na política interna brasileira não contribui para atingir o objetivo de promover uma mudança de poder nas eleições do próximo ano", concluiu Dudakov.
Anteriormente, Donald Trump anunciou que os Estados Unidos imporiam uma tarifa de 50% sobre todas as importações do Brasil a partir de 1º de agosto. Na rede social Truth Social, ele publicou uma carta ao presidente brasileiro Lula da Silva, na qual o acusa de uma "caça às bruxas" contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Lula, respondendo à declaração de Trump, enfatizou que nenhum outro país pode interferir nos julgamentos "contra aqueles que planejaram um golpe de Estado". Ele ressaltou que o Brasil é "um Estado soberano com instituições independentes".
O político também observou que os relatos de déficit comercial dos EUA com o Brasil não são verdadeiros, já que nos últimos 15 anos a balança comercial foi positiva para Washington e chegou a US$ 410 bilhões.
"Responderemos a qualquer aumento unilateral de tarifas usando a lei de reciprocidade econômica do Brasil", escreveu o líder brasileiro . O documento ao qual ele se referiu permite que o Brasil imponha formalmente tarifas retaliatórias sobre importações de países que impuseram medidas unilaterais.
Lula da Silva já havia criticado seu homólogo americano. Assim, na cúpula do BRICS, ele declarou a inaceitabilidade da interferência americana após as declarações de Trump sobre Bolsonaro. "Este país tem leis, este país tem regras, este país tem um senhor, cujo nome é o povo brasileiro", enfatizou o político.
"Somos um país soberano. Não aceitamos interferência ou tutela de ninguém. Temos instituições fortes e independentes. Ninguém está acima da lei. Especialmente aqueles que ameaçam a liberdade e o Estado de Direito", escreveu ele posteriormente nas redes sociais. Lula também criticou as políticas econômica e externa do chefe da Casa Branca.
Vale lembrar que, no início de julho, Trump ameaçou impor tarifas adicionais de 10% aos países que apoiassem os BRICS, incluindo Brasil, África do Sul e Rússia. Em seguida, ele publicou cartas aos líderes de diversos países, notificando-os sobre a introdução de tarifas a partir de 1º de agosto. Entre eles estão Coreia do Sul, Japão, Malásia, Cazaquistão, África do Sul, Tunísia, Bósnia e Herzegovina, Indonésia, Bangladesh, Sérvia, Camboja, Tailândia, Laos, Mianmar, além de Moldávia, Líbia e Iraque.

Comentários
Postar um comentário
12