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Entre o autoritarismo interno e a ameaça de intervenção externa, a Venezuela simboliza a luta pela autodeterminação, desafiando a América Latina a defender coletivamente o princípio inegociável da não intervenção
Houve um tempo – ou talvez apenas um breve período de calmaria – em que a América Latina acreditou ter escapado do radar militar dos EUA. Hoje sabemos que era uma ilusão: a região está novamente sob vigilância constante, obrigada a discernir se o próximo zumbido é o de um beija-flor ou o de um míssil. O sul do Caribe reapareceu como uma sala de máquinas onde os Estados Unidos calibram sua diplomacia da pólvora, enquanto os governos locais mal conseguem manter o silêncio.
Sob um céu vigiado
O aspecto mais estarrecedor não é a escala da operação, mas sim a sua banalidade. Os ataques a embarcações civis são noticiados como danos colaterais acidentais: um barco artesanal perfurado, onze mortos sem nome, tudo apresentado como higiene de rotina por um Estado que se arroga o direito de limpar mares estrangeiros.
Em vídeos que chocam até mesmo legisladores americanos, dois sobreviventes indefesos de um naufrágio recebem uma sentença de morte: “matem os sobreviventes”. A ordem é dada por Pete Hegseth, executada pelo Almirante Bradley e abençoada, por ação ou omissão, pelo sorriso impassível de Donald Trump, segundo o The Washington Post.
Às vezes, a história não se repete: ela piora. Pete Hegseth chegou ao ponto de sugerir a abertura de um tribunal militar contra um senador aposentado quando seis congressistas o lembraram de que ordens ilegais devem ser rejeitadas. Não foi um acesso de raiva, mas sim o prenúncio de um novo repertório: a fusão corrosiva da guerra interna e externa, onde a dissidência se transforma em suspeita.
Existem crimes que transcendem qualquer gramática nacional. O assassinato do pescador colombiano Alejandro Carranza, afundado sem aviso prévio por uma aeronave americana, revela outra lógica: a de uma superpotência que decide quem vive e quem morre longe de seu território, sem razão ou prestação de contas. A região está reaprendendo, letra por letra, o antigo alfabeto do terror: navios afundados, céus sitiados, radares que confundem barcos com inimigos. O que podem fazer as frágeis democracias se nem mesmo a Europa consegue conter a crueldade em suas próprias fronteiras?
E como se isso não bastasse, em 29 de novembro, Donald Trump anunciou que o espaço aéreo venezuelano deveria ser considerado “completamente fechado”: um ato de guerra sem justificativa legal. Nem a Convenção de Chicago, nem a Carta da ONU, nem a jurisprudência internacional permitem que um país feche o espaço aéreo de outro sem um conflito declarado. Esse gesto cria um precedente perigoso: transforma o ar em um campo de batalha sem fronteiras.
As águas onde a lei naufraga
As reações foram imediatas e reveladoras. A Venezuela denunciou uma flagrante violação do direito internacional; o Brasil classificou o ocorrido como um “ato de guerra”; a Colômbia optou pela tibieza burocrática, com frases neutras. Isso não é uma nuance diplomática: é um retrato do equilíbrio de poder. Em um continente cada vez mais fragmentado, as palavras não são mais declarações, mas sim alinhamentos.
A declaração da Frente Ampla do Uruguai se encaixa inevitavelmente nesse contexto. Ela destaca que o fechamento do espaço aéreo carece de fundamento legal e alerta contra o uso extraterritorial e indiscriminado da força. Isso não é solidariedade a um governo, mas sim a defesa de um princípio: a soberania não é um prato cheio à mercê do violador. Onde ela é obscurecida, toda a região fica vulnerável.
Mas nada disso acontece isoladamente. O Caribe está sendo militarizado novamente sem a necessidade de invasões: a presença constante de fragatas, radares e drones é suficiente para tornar a exceção a regra. A ocupação não exige mais tropas, apenas vigilância. Os mares estão repletos de avisos silenciosos, e as costas estão se tornando fronteiras móveis sem mapa.
Venezuela como porta de entrada para o hemisfério
A Venezuela, portanto, reaparece como o núcleo simbólico da disputa hemisférica. Não por causa do desempenho de seu governo, mas por seu valor estratégico: é lá que Washington mede a obediência e a desobediência. A transição que alguns vislumbram – negociada, acordada ou supervisionada – não altera o ponto central: o que está em jogo não é quem governa, mas quem decide as regras do jogo. E esse centro de gravidade não está em Caracas.
A atual administração apresenta várias razões para a rejeição, mas isso não torna virtuosa a oposição que Donald Trump busca legitimar. Nenhum dos lados representa uma visão democrática digna de defesa inabalável. No entanto, o direito internacional não é uma questão de simpatias políticas: nenhum governo, por mais detestável que seja, pode ser deposto por mísseis. A soberania não é um prêmio: é um limite.
Os EUA não precisam mais justificar suas ações: basta impô-las. Linguagem técnica, eufemismos e a lógica do “risco iminente” substituem qualquer evidência. Assim, operações letais são registradas como manobras de rotina e corpos desaparecem no vácuo. A força se legitima por si só. Porque se considera seu próprio tribunal.
Não há adversários políticos nem territórios soberanos: apenas “alvos” que podem ser neutralizados. Enquanto isso, no âmago político dos EUA, uma semente perigosa amadurece: a de uma eugenia revitalizada. Isso não é uma metáfora: o movimento MAGA defende abertamente hierarquias biológicas, purismo racial e uma estética de superioridade moral que transforma a violência em destino.
Nessa lógica, assassinar náufragos não é crime: é um ato higiênico, um gesto profilático na luta imaginária contra “os bárbaros do sul”. A fronteira deixa de ser uma linha e se torna doutrina. A guerra deixa de ser exceção e se torna cultura. E nessa cultura, os latino-americanos – sejam migrantes, pescadores ou simplesmente habitantes de nossas cidades – são inscritos no lado errado da espécie.
Donald Trump capitaliza-se sobre essa máquina. Transforma-a num espetáculo, numa pedagogia do medo e numa demonstração de poder. O seu projeto não mascara a violência: celebra-a. Cada ataque serve para reafirmar a ideia de uma nação que age sem limites, já não em nome da democracia, mas da sua própria sobrevivência imaginada. O militarismo adota um tom messiânico que apaga qualquer distinção entre segurança e vingança.
O Brasil compreende a gravidade do momento. Tentar uma equidistância forçada o obriga a caminhar sobre brasas: condenar sem ceder, advertir sem confrontar. Mas até essa prudência começa a se esgotar. Uma intervenção na Venezuela atrairia potências globais e fragmentaria a governança regional por décadas. O assessor de Lula, Celso Amorim, não está dramatizando: ele está descrevendo um risco real, latente e cada vez mais palpável.
A oposição venezuelana também não oferece uma visão emancipadora. Alguns de seus líderes depositam mais fé na intervenção estrangeira do que na organização interna, como se a história da América Latina não fosse um arquivo de tragédias. Essa dependência da tutela alheia reproduz, de outra forma, o mesmo desprezo pela soberania que critica no regime de Maduro. Democracia e liberdades não são importadas em contêineres nem construídas com mísseis: são conquistadas de baixo para cima ou jamais chegam. Quando a solução é imaginada como um desembarque, o presente deixa de ser uma transição e se torna um ensaio geral para a dependência.
Presa entre esses dois extremos – o autoritarismo interno e a tentação da intervenção – a sociedade venezuelana encontra-se num dilema. Sofre com o bloqueio, a inflação, o êxodo e a repressão, enquanto a possibilidade muito real de guerra paira no ar, transformando o país num tabuleiro de xadrez estrangeiro. Não há nenhuma visão épica neste horizonte: apenas vulnerabilidade e impotência.
Antes de Donald Trump fechar o espaço aéreo venezuelano como se estivesse baixando uma cortina, outro presidente já havia decidido isolar o território mexicano com o objetivo de anexá-lo por completo. As intervenções estadunidenses do século XIX, que devoraram territórios e populações, foram o documento fundador de uma política externa que se aperfeiçoou com os fuzileiros navais na América Central, os desembarques no Caribe, as invasões do Panamá e de Granada, a Operação Condor e a diplomacia da ALCA (Alto Comissariado das Nações Unidas para a Agricultura). Nessa continuidade, o presente não surpreende: é a continuação do mesmo padrão.
A história regional demonstra que nenhuma intervenção dos EUA produziu estabilidade. Todas deixaram ruínas, governos fantoches, deslocamentos e décadas de violência. A doutrina do inimigo externo opera como um molde reciclável: serve para reorganizar territórios de acordo com interesses estratégicos. Hoje, a Venezuela se encontra exatamente na linha divisória onde passado e presente se sobrepõem com uma clareza perturbadora.
O fato de essa crise estar surgindo em um continente politicamente fragmentado agrava a situação. A direita apoia a intervenção se ela enfraquecer seus adversários; alguns na esquerda hesitam em condená-la por medo de serem associados ao regime de Nicolás Maduro. Nessa oscilação, a região perde uma oportunidade histórica de afirmar um princípio básico: a soberania não pode depender dos caprichos de terceiros.
Se a América Latina abandonar o princípio da não intervenção, abrirá uma porta que não poderá fechar depois. Hoje é a Venezuela; amanhã poderá ser qualquer país cujas políticas desagradem a Washington. Os rótulos adaptam-se às necessidades do momento – narcotráfico, terrorismo, corrupção, crise humanitária –, mas o mecanismo é sempre o mesmo: declarar uma exceção para exercer a força sobre territórios estrangeiros. A região deixaria de ser um sujeito de direitos para se tornar um território descartável, um mapa que pode ser recortado de acordo com os medos e desejos de um outro distante.
Cada míssil que atinge uma embarcação indefesa também rompe o precário equilíbrio de tratados, convenções e pactos que deveriam – ao menos em teoria – impedir que um líder desequilibrado decida quem vive e quem morre além de suas fronteiras. A ONU permanece em silêncio, com o ar exausto de uma instituição que sobreviveu a guerras demais, mas não à desobediência sistemática daqueles que deveriam defendê-la.
A OEA confirma sua irrelevância com uma careta administrativa que sequer disfarça condenação. Nesse cenário, o direito internacional parece uma estrutura vazia, uma catedral sem fiéis onde as regras ressoam sem destinatários.
As palavras quebradas da lei
Nada disso deveria ser uma surpresa. Sempre que um governo dos EUA enfrenta uma crise interna, ele se volta para um inimigo externo para recuperar a coesão. A América Latina sempre foi um alvo fácil: próxima, vulnerável e fácil de rotular. A novidade não está na agressão em si, mas na sua transparência: Donald Trump não faz nenhuma tentativa de esconder seu desprezo; ele o ostenta como um atributo de liderança.
A questão central não é o que Washington fará, mas o que a América Latina fará. Será capaz de formular uma resposta coletiva? Será capaz de defender o direito internacional sem cair em simpatias automáticas ou silêncios táticos? A crise venezuelana serve como um espelho: reflete a arquitetura política que a região será capaz – ou incapaz – de construir.
A experiência recente demonstra que a inação é uma forma de cumplicidade. A resposta morna ao massacre em Gaza prenuncia um comportamento semelhante em relação à militarização do Caribe: condenações abstratas, gestos mínimos e silêncios coniventes. Se a região não defender o princípio que proíbe o uso unilateral da força, toda a estrutura normativa que o protege se tornará mera fachada.
Essa paralisia é agravada por outra, menos visível: a erosão da linguagem. Termos como “proibição” ou “neutralização” substituem palavras capazes de nomear a violência — invasão, assassinato, crime. O vocabulário técnico desumaniza os eventos e obscurece a responsabilidade. A barbárie se torna estatística; a linguagem, cúmplice involuntária do encobrimento.
Por isso, é urgente recuperar o significado original das palavras. Chamar uma invasão de invasão, um assassinato de assassinato e um crime de crime não é um gesto moralista, mas uma defesa mínima da política como ferramenta para a compreensão do mundo.
Quando o vocabulário técnico substitui a experiência humana, a violência torna-se banal e a injustiça adquire uma perigosa serenidade. Sem clareza conceitual, qualquer discurso sobre direitos humanos se transforma em uma liturgia vazia e repetitiva, um som que ressoa sem substância sob o fogo dos drones.
Nesse cenário, a voz latino-americana deve ressoar com firmeza. Não para apoiar um governo, mas para salvaguardar um princípio sem o qual o continente está indefeso: nenhum país pode ser disciplinado pela força. A história regional é também a história da resistência. E a cada vez que a memória se enfraquece, os antigos projetos de vassalagem ressurgem com novos uniformes, novos tratados, novas bases e o mesmo velho desprezo pela vida daqueles que habitam esses territórios.
O escritor Jorge Majfud, em seu livro monumental A Fronteira Selvagem, coloca isso de forma contundente: os EUA são um país que se apresenta como uma missão civilizadora, mas se comporta como uma máquina de exclusão. Dessa matriz surge a facilidade com que execuções extrajudiciais, sanções econômicas que destroem populações inteiras ou invasões apresentadas como atos de caridade geopolítica são justificadas. Em última análise, o que retorna não é o velho imperialismo: é a sua versão descarada, que já não precisa de desculpas, nem mesmo de metáforas morais.
Palavras resgatadas para iluminar a noite
Portanto, diante da escuridão que avança pelo Caribe, o gesto mais básico é, mais uma vez, o mais decisivo: nomear, resistir, dialogar. Não repetir slogans, mas imaginar uma região capaz de defender sua soberania sem renunciar à sua pluralidade. O futuro não está escrito: será moldado pela capacidade de impedir que o medo organize o mundo.
Não é sem razão que o caso venezuelano tenha sido escolhido como palco para essa pedagogia. É frágil o suficiente para ser vulnerável e simbólico o bastante para enviar uma mensagem a toda a região. Se Washington conseguir impor sua narrativa, o restante da América Latina será alertado. Se encontrar resistência, a disputa abrirá um novo capítulo de confronto geopolítico cuja dimensão ainda não podemos imaginar.
Defender a Venezuela hoje é também defendê-la de seus próprios algozes internos. A análise do regime de Nicolás Maduro terá que esperar por outro momento. A Venezuela está presa entre dois espelhos distorcidos (o regime de Nicolás Maduro e o regime de Machado).
A soberania latino-americana não pode depender da pureza de um governo – nenhum a possui –, mas sim de um princípio inalienável: nenhuma potência externa pode bombardear navios, assassinar pessoas sem o devido processo legal (ou mesmo com ele!), ou enviar porta-aviões para águas internacionais para disciplinar um país que não se encaixa em sua estrutura de comando.
É por isso que é vital nos distanciarmos de ambos os extremos. Defender a soberania da Venezuela não é defender Nicolás Maduro, assim como rejeitar a intervenção militar não equivale a aceitar a agenda de Machado. Ambas as opções, por caminhos diferentes, levam ao mesmo precipício: uma Venezuela sem autodeterminação.
O desafio, portanto, não é escolher entre governo e oposição, mas entre dependência e soberania. E é precisamente aí – nessa tênue linha onde a crítica também se torna uma responsabilidade histórica – que a América Latina deve recuperar sua própria voz: não para endossar governos falidos, não para abençoar oposições controladas, mas para lembrar que a soberania não é negociável, terceirizada ou subcontratada.
É neste ponto que vale a pena revisitar a experiência histórica. A doutrina do “inimigo externo” sempre foi uma fachada para reorganizar territórios estrangeiros de acordo com os próprios interesses. A Venezuela hoje corre o risco de se tornar o próximo capítulo dessa longa tradição.
Se a América Latina conseguir manter essa conversa – crítica, diversa e desafiadora –, talvez ainda possa impedir que o Caribe se torne, mais uma vez, um laboratório de subjugação. Talvez ainda haja espaço para uma política que não precise de uniformes nem de ameaças e para um continente que pense por si mesmo antes de aceitar que outros pensem por ele. No entanto, o que mais preocupa não é a força do império, mas a fraqueza daqueles que deveriam se opor a ele.
A América Latina já viu esse cenário antes: intervenções na Nicarágua, em Cuba, na República Dominicana, no México, no Panamá. Mais de quarenta intervenções em menos de um século. E, no entanto, cada geração parece condenada a se surpreender com a recorrência. Como se a memória fosse um luxo. Como se não soubéssemos que a história – quando não confrontada – sempre retorna com ainda mais violência.
O que aconteceu no Caribe não é um episódio isolado: é um sintoma. É o prenúncio de uma ordem hemisférica onde a lei é secundária e a vida latino-americana é descartável. Washington não concebe a soberania latino-americana como algo dado, mas como uma concessão revogável. A retórica do “narcoterrorismo” cumpre a mesma função que o anticomunismo ou a defesa da democracia cumpriram no passado: abre exceções. Sob essa categoria vaga, qualquer território pode se tornar um teatro de operações e qualquer governo, suspeito. A lei é esvaziada; a força preenche o vazio.
Não se trata apenas de denunciar os crimes cometidos no Caribe, mas de nomear claramente a disputa que os possibilita. O militarismo de Donald Trump não é um desabafo pessoal: é o cerne de um projeto que busca redefinir a relação entre os EUA e o continente. Um projeto que combina nostalgia imperial, supremacia e cálculo eleitoral. Nada disso deveria surpreender, dada a trajetória histórica.
O que está em jogo na Venezuela hoje não é o futuro do chavismo, mas o futuro da soberania continental. Se a região renunciar a esse princípio, abrirá uma porta difícil de fechar. Hoje, essa porta é a Venezuela. A justificativa ideológica para o ataque será definida de acordo com as necessidades do momento: narcotráfico, terrorismo, corrupção ou qualquer rótulo disponível. As justificativas mudam; o objetivo permanece.
A essa crise soma-se outra, mais profunda: a já mencionada crise de linguagem. As palavras que antes nomeavam com precisão a violência estão sendo substituídas por eufemismos técnicos que a despojam da responsabilidade humana. Formas de apagar o corpo que cai na água e o dedo que aperta o gatilho. A barbárie se torna estatística. Por isso, é urgente recuperar o significado original das palavras. A linguagem também é uma fronteira: quando ela se desfaz, a violência se torna a paisagem e a injustiça, a norma.
Nessas circunstâncias, a voz da América Latina deve ressoar com firmeza. Talvez seja por isso que, diante da escuridão que avança pelo Caribe, o ato mais básico seja, mais uma vez, o mais decisivo: nomear, resistir, dialogar. Impedir que o medo dite nosso alfabeto e que outros nomeiem, por meio de nossas vozes, o mundo que habitamos.
A história ainda não está escrita. Se a América Latina não escrever seu próprio destino, outros o escreverão com tinta emprestada e sua própria pólvora.
*Emilio Cafassi é professor sênior de sociologia na Universidade de Buenos Aires. Autor, entre outros livros, de Olla a presion: Cacerolazos, piquetes y asambleas sobre fuego argentino (Libros del Rojas). [https://amzn.to/442vaxw]
Tradução: Artur Scavone.
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