Mauro Santayana
Carta Maior
A imprensa e os internautas da
Espanha têm reagido com perplexidade e indignação, na internet e outros meios
de comunicação, às vaias e à antipatia com que a torcida brasileira tem tratado
a seleção espanhola nos estádios nacionais, nesta Copa das Confederações.
Quase sempre, quando a Espanha
está em campo, basta um jogador da “Roja” tocar a pelota para que se ouça
ensurdecedora vaia. E se a bola chegar ao pé de seu adversário, se ouvirá, das
arquibancadas, a cada passe, estrondoso “olé”, qualquer seja a seleção.
Assim ocorreu com a Nigéria e a
Itália, e até mesmo com o humilde e simpático Taiti, que perdeu para os
espanhóis por 10 a zero, mas saiu de campo ovacionado pelo torcedor nacional.
À falta de explicação melhor, e já
do alto de sua proverbial arrogância, a imprensa espanhola tem justificado
esses fatos com o “miedo”, verdadeiro pânico, que o Brasil estaria sentindo de
jogar contra a Espanha, mesmo que tenhamos sido nós os vencedores de nossa
última disputa - e isso há pré-históricos (em termos futebolísticos) 37 anos.
A situação piorou quando
funcionários do hotel em que estava hospedada a seleção espanhola em Fortaleza
impediram, logo após a vitória contra a Nigéria, que seus jogadores subissem
aos seus quartos acompanhados de mulheres não registradas no estabelecimento,
episódio que teria terminado com tentativa de agressão de funcionários por
parte de jogadores espanhóis, e o arremesso de móveis e objetos dos
apartamentos, que estavam ocupando, pela janela.
O episódio foi desmentido pela
delegação espanhola no dia seguinte, que atribuiu sua divulgação pela imprensa
brasileira a uma tentativa de “desestabilização” da seleção. A federação
espanhola ameaçou processar o hotel e a imprensa brasileira e a temperatura
subiu, com membros do staff de imprensa da seleção da Espanha dirigindo gestos
obscenos às arquibancadas e hostilizando colegas brasileiros durante o jogo com
a Itália.
Certamente, o selecionado da
Espanha seria bem tratado pelo público se fosse menos arrogante, como tem sido
nos últimos anos. E seria mais bem recebido se não pertencesse a um país que
expulsou e tratou como animais milhares de brasileiros em seus aeroportos.
Isso, antes de o Brasil implantar, no ano passado, medidas de estrita reciprocidade,
mandando, dos aeroportos de volta a Madri os “indocumentados” espanhóis.
Talvez seja, também em homenagem
a esses brasileiros, humilhados no Aeroporto de Barajas, que se esteja
cantando, a cada jogo da Espanha e cada vez mais alto, “sou brasileiro, com
muito orgulho, com muito amor”.
Se a Espanha vencer, hoje, a
Batalha do Maracanã, não importa muito.
Importa que deixamos claro ter
valorizado mais a simplicidade de uma seleção como a taitiana - formada por
homens educados - do que a espanhola com todas as suas manifestações de
arrogância.
Não poderíamos ovacionar em nosso
território as cores de um país que perseguiu, por tantos anos, nossos cidadãos
lá fora.
Com todos nossos problemas, ainda
temos menos de 6% de desemprego contra, infelizmente, 27% da Espanha; devemos
ao exterior uma fração do que devem os espanhóis, e somos, com quase 400
bilhões de dólares em reservas, o terceiro maior credor externo dos Estados
Unidos.
Enquanto isso, a Espanha,
controlada pelo FMI e pela Alemanha, abriu mão até mesmo de ter uma política
econômica ou externa própria. Se os espanhóis, que agora estão irritados com a
torcida brasileira - nos chamam pejorativamente de “bananeros” na internet -
prestassem mais atenção ao momento real que estão vivendo, talvez aprendessem a
ser mais modestos, fora e dentro dos campos de futebol.
Mauro Santayana é colunista
político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968
a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos
principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de
que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do
Norte.
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