Mauro Santayana
No JB Online
A situação criada com as
numerosas manifestações, no Brasil, nas últimas semanas, não se resolverá com a
reunião realizada ontem (segunda-feira) em Brasília, da Presidente Dilma
Roussef, com governadores e prefeitos de todo o país – embora o encontro seja
um importante passo para atender às reivindicações dos que foram às ruas.
Seria fácil enfrentar a questão,
se as pessoas que vêm bloqueando avenidas e rodovias – levantando cartazes com
todo o tipo de queixas – fossem apenas multidão bem intencionada de
brasileiros, lutando por um país melhor.
A Polícia Civil de Minas Gerais
já descobriu que bandidos mascarados, provavelmente pagos, recrutados em outros
estados, têm percorrido o país no rastro dos jogos da Copa das Confederações,
provocando as forças de segurança, a fim de estabelecer o caos.
Mensagens oriundas de outros
países, em inglês, já foram
identificadas na internet, como parte da estratégia que deu origem às
manifestações.
É preciso separar o joio do
trigo. Além do Movimento Passe Livre, com sua postulação clara e legítima, há
cidadãos que ocupam as ruas, com suas famílias, para manifestar repúdio à PEC-37, que limita o poder do Ministério
Público, ou para exigir melhoria na saúde e na educação.
E há outros que pedem a cabeça
dos “políticos”, como se eles não tivessem sido legitimamente eleitos pelo voto
dos brasileiros. Esses pregam a queda das instituições, atacam a polícia e depredam prédios públicos,
provavelmente com o intuito de gerar material para os correspondentes e
agências internacionais, e ajudar a desconstruir a imagem do país no exterior.
O aumento brusco do dólar, a
queda nos investimentos internacionais,
a diminuição do fluxo de turistas em eventos que estamos sediando, como a
visita do Papa, a Copa e as Olimpíadas, não prejudicará só o Governo Federal,
mas também as oposições, que governam alguns dos maiores estados e cidades do
país, e dependem da economia para bem concluir
os seus mandatos.
Os radicais antidemocráticos se infiltram, às centenas, no meio das
manifestações e nas redes sociais, para pregar o ódio irrestrito à atividade
política, aos partidos e aos homens públicos, e a queda das instituições
republicanas. Eles não fazem distinção, posto que movidos pela estupidez, pelo
ódio e pela ignorância, entre situação e
oposição, entre esse ou aquele líder ou partido.
Eles apostam no caos que desejam.
Querem ver o circo pegar fogo para, depois, se refestelarem com as cinzas. Não
têm a menor preocupação com o futuro da Nação ou com o destino das pessoas a
que incitam à violência agora. Agem como os grupos de assalto nazistas, ou os
fascistas italianos, que atacavam a polícia e os partidos democráticos nas
manifestações, para depois impor a ordem dos massacres, da tortura, dos campos
de extermínio, dos assassinatos políticos, como o de Matteotti.
Acreditar que o que está
ocorrendo hoje pode beneficiar a um ou ao outro lado do espectro político é
ingenuidade. No meio do caminho, como mostra a História, pode surgir um aventureiro qualquer.
Conhecemos outros “salvadores da
pátria” que atacavam os “políticos”, e
trouxeram a corrupção, o sangue, o luto, a miséria e o retrocesso ao mundo.
O encontro de ontem entre a Chefe
de Estado, membros de seu governo e os governadores dos Estados é o primeiro
passo em busca de um pacto de união nacional em defesa do regime democrático,
republicano e federativo. A presidente propôs consultar a população e a
convocação de nova assembléia constituinte a fim de discutir, a fundo, a
reforma política, que poderá, conforme as circunstâncias, alterar as estruturas
do Estado, sem prejudicar a sua natureza democrática.
É, assim, um entendimento que
extrapola a mera questão administrativa – de resposta às reivindicações dos
cidadãos honestos que marcham pelas ruas – para atingir o cerne da questão, que
é política. Há outras formas de ação da
cidadania a fim de manifestar suas idéias e obter as mudanças. A proposta
popular de emenda constitucional, como
no caso da Ficha Limpa. Cem mil pessoas que participam de uma manifestação,
podem levantar 500 mil assinaturas em uma semana, a fim de levar ao Congresso
uma proposta legislativa.
Não é preciso brincar com fogo
para melhorar o país.

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