por Jânio de Freitas
Prejudicar
manifestações de interesse público seria manifestar-se também, mas em marcha a
ré
Se as arruaças de marginais forem
motivo para opor-se à continuação das manifestações pacíficas, como se começa a
perceber, estará dada aos governos e suas polícias a solução mais fácil contra
os protestos e reivindicações. É só incentivar baderneiros. Ou, ainda mais
simples, não os reprimir.
Os ataques a bens públicos e a
quebradeira são revoltantes. Mas fazem parte da movimentação de protesto em
sociedades com presença grande de marginalidade e delinquência. No Brasil temos
vários outros casos de oportunismo arruaceiro na violência de torcidas
violentas, em festas de massa como a Virada Cultural paulistana e mais. Nem por
isso se acabaram os eventos.
As manifestações provocadas pelas passagens
de ônibus já trouxeram resultados muito além de sua motivação. A partir dos R$
0,20 nas passagens, estamos discutindo questões institucionais complexas. Seja
o que for que daí resulte, esses temas não terão recuo, deles só se irá
adiante, mais cedo ou mais tarde.
É difícil controlar as arruaças. Mas
prejudicar, por isso, manifestações de interesse público seria manifestar-se
também, mas em marcha a ré.
A CORRERIA
Uma gloriosa exibição de cinismo
coletivo --assim se define a repentina eficiência da Câmara e do Senado,
demonstrada até na quantidade de horas de atividade parlamentar, além das
aprovações de projetos já amarelados pelo tempo e pela perversão política.
As duas Casas do Congresso cumprem o
seu dever de ouvir as ruas, dizem os dirigentes do Senado e da Câmara, com ares
de pessoas ocupadas. Nos plenários, amplíssimas maiorias aprovam o que frearam
ou recusaram, como no episódio inigualável dos ruralistas dando votos
favoráveis ao projeto, que os levava à ira, contra o trabalho análogo à escravidão
no campo.
Até quando trabalha, o atual conjunto
de congressistas é a negação de um Congresso ao menos minimamente respeitável.
O BOM-SENSO
Quatro helicópteros, inúmeros carros
e motos da PM, contingentes de repórteres e fotógrafos, todos acompanhando
metro a metro a passeata de moradores da Rocinha à moradia de Sérgio Cabral, na
praia do Leblon. Tudo preparado pela certeza de uma baderna daquelas.
A PM não deixou que a passeata se
aproximasse do acampamento montado, e permitido, por um grupo da classe média
diante do prédio de Cabral. Agora, na certa viria o choque. Outra frustração: a
passeata apenas tomou o caminho de volta, sob a mesma vigilância. Se alguma
coisa foi quebrada, nos dois percursos, é o pé de quem pisou em um dos buracos
da avenida Niemeyer recém-recapeada.
A Rocinha perdeu a viagem, mas quem
não estava na passeata perdeu muito mais. A mensagem levada a Cabral era uma
demonstração prática, e fundamental, da distância entre as alturas políticas e
a realidade social: "Não precisamos de teleférico, use esse dinheiro para
o saneamento de que nós precisamos". O planejado pelos governos estadual e
federal é assim: no alto o bondinho suspenso, embaixo os valões de esgoto
aberto entre as casas.
Não houve a baderna, logo, ninguém se
interessou pelo que merecia interesse.

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