terça-feira, 29 de outubro de 2013

Julgamento do escândalo das escutas incomoda imprensa britânica

Arquivo
Início do julgamento volta a colocar o grupo Murdoch no centro do cenário em um momento particularmente delicado para a imprensa escrita.

Marcelo Justo
Carta Maior


Londres - A mais de dois anos do estouro do escândalo das escutas telefônicas que provocou o fechamento do News of the Wordl, começou o julgamento das duas figuras mais importantes do caso, a ex-diretora do periódico, Rebehak Brooks, e o ex-chefe de imprensa do primeiro ministro David Cameron, Andy Coulson. Integrantes chave do grupo Murdoch no Reino Unido, Brooks e Coulson são acusados de conspiração para interceptar mensagens telefônicas, causar conduta ilegítima de funcionários públicos e encobrimento.


O julgamento colocará o foco também sobre o primeiro ministro britânico que mantinha uma estreita relação amistosa com Brooks e decidiu contratar Coulson quando já pesavam sobre ele sérias suspeitas sobre seu papel na espionagem jornalística informativa.



A investigação da escuta telefônica de celebridades provocou a renúncia de Coulson em janeiro de 2011 e se converteu em uma bola de neve em julho do mesmo ano, quando o jornal The Guardian revelou que o News of the Wordl havia grampeado o telefone celular de uma adolescente sequestrada que depois apareceu morta.
O escândalo provocou a queda de Brooks e expôs uma cultura de espionagem aberta de qualquer pessoa que pudesse aparecer na primeira página, fosse ator, jogador de futebol, política ou vítima de atentado terrorista ou violação. Desde então, a polícia efetuou 25 prisões e mais de 40 pessoas foram formalmente acusadas e se encontram em liberdade sob fiança.



Na segunda-feira, na abertura do julgamento de Brooks, Coulson e outros seis acusados, todos importantes figuras do Grupo Murdoch, o juiz John Saunders assinalou que, dada a importância do caso, estimava que as audiências se prolongariam até a Páscoa, ou seja, mais de cinco meses. O cálculo policial é que o New of The World realizou escutas telefônicas de umas quatro mil pessoas, mas um dos grandes enigmas é quem deu a ordem e quem sabia disso nas mais altas esferas: Ruppert Murdoch e seu filho James.



Em uma tentativa infrutífera de silenciar o escândalo, o grupo adotou uma estratégia de acordos extrajudiciais por cifras que sempre superaram os 100 mil dólares com um amplo leque de figuras, desde a atriz Sienna Miller até a cantora Charlote Church, a ex-ministra da Cultura, Tessa Jowell e os pais de Madeleine McCann, a menina britânica sequestrada em Portugal em 2007.



O julgamento volta a colocar o grupo Murdoch no centro do cenário em um momento particularmente delicado para a imprensa escrita. Nesta quarta-feira, com o julgamento em andamento, será anunciado o consenso alcançado entre os partidos políticos para a regulação da imprensa à luz das recomendações da Comissão Leveson, que investigou o escândalo das escutas. Os grandes grupos que dominam 75% da circulação no Reino Unido já apelaram à Justiça para rechaçar a proposta governamental argumentando que ela representa uma violação da liberdade de imprensa.



O terceiro grande foco de atenção do julgamento será a relação do primeiro ministro David Cameron com Coulson e Brooks. Quando era o chefe do Partido Conservador na oposição, Cameron contratou Coulson como diretor de imprensa, apesar dele ter renunciado à função de editor do News of the World depois que dois jornalistas foram condenados pela escuta telefônica do príncipe William. Coulson era uma figura chave para seu projeto político de recuperar o apoio de Ruppert Murdoch que, em 2009, com Coulson a frente, decidiu terminar seu “affaire” com os trabalhistas e voltar ao seu território natural: os conservadores.



Ao ganhar as eleições de maio de 2010, Cameron nomeou o ex-editor do News of the World como chefe de imprensa no momento em que voltavam a surgir suspeitas sobre seu papel do caso das escutas telefônicas. Sete meses depois Coulson se viu obrigado a renunciar a seu cargo. O caso de Brooks mostrou a relação incestuosa que havia entre grupos midiáticos dominantes e a classe política. Cameron foi ao casamento de Brooks, trocava mensagens de texto com regularidade com a diretora do News of the Wordl e tomava chá junto com ela em sua casa de Oxford, tudo em momentos em que o governo tinha que decidir se o grupo Murdoch podia assumir o controle total da cadeia televisa Sky.



Tradução: Marco Aurélio Weissheimer


Créditos da foto: Arquivo

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