Daniel Quoist - Carta Maior
É que a indignação tucana é um
primor de seletividade e parcialidade: só há indignação se houver suspeita de
malfeito que envolva, mesmo que com meros sinais de fumaça, o PT ou Dilma
Rousseff, seja o governo, seja a pessoa.
Qualquer denúncia urdida na
grande imprensa - das rotativas de Veja às empresas de comunicação da Globo,
passando pelos jornais Folha de S.Paulo e Estado de São Paulo – que tenha poder
de desgastar o PT ou o governo Dilma Rousseff, recebe desdobramentos
previsíveis e imediatos por parte do PSDB.
No Senado, a indignação assoma à
tribuna juntamente com Álvaro Dias. Na Câmara, perfaz o espetáculo
“indignadosinho de sempre” emulado por Carlos Sampaio. Na blogosfera tucana
repercute nos textos de Augusto Nunes e Reinaldo Azevedo, ambos abrigados no
portal de Veja.
Se é contra o PT/Dilma Rousseff a
força da marola é potencializada em tsunami indonésio.
Mas se o assunto é corrupção
envolvendo próceres tucanos, o silêncio, além de constrangedor, é sepulcral. É
o caso do cartel permeando contratos dos trens de São Paulo. É o caso da máfia
do ISS também em São Paulo. É o caso do mensalão tucano, envolvendo o deputado
Eduardo Azeredo e dando origem aos esquemas criminosos chancelados por Marcos
Valério, personagem-chave e onipresente no chamado mensalão do PT.
Este maniqueísmo tucano é o mesmo
maniqueísmo midiático que vem solapando a fugidia credibilidade de veículos de
nossa grande imprensa, acima nomeados. A mídia tonifica a indignação tucana com
supostos escândalos envolvendo seu inimigo figadal, o PT, e reduz a poucos tons
de cinza a repercussão de maracutaias das grossas envolvendo os quase vinte
anos de poder tucano em São Paulo, passando pelos governos Covas, Alckmin e
Serra.
É tão desigual – e tão
partidarizada – a cobertura de uns e de outros que não tardará o dia em que a
Associação Nacional de Jornais e o Instituto Millenium irão requerer
participação no Fundo Partidário, a par com o PSDB, PT, PMDB, DEM, PSOL.
A defesa do PSDB é valsa de uma
nota só. “Tudo é armação. Não passa de perseguição. Isso se chama aparelhamento
do Estado”. No caso do “trensalão tucano” nenhum porta-voz pessedebista
estranhou que o procurador Rodrigo de Grandis tenha justificado a perda do
prazo de cooperação com as autoridades suíças afirmando que havia arquivado
numa pasta errada os ofícios do Ministério da Justiça que continham os pedidos
de cooperação sobre o cartel da CPTM. E o engavetamento, ôpa!, o arquivamento
em pasta errada vem desde 2010. Não é algo por demais estranho? E exótico, mesmo
para os padrões brasileiros?
Ninguém viu Álvaro Dias no Senado
pedindo instalação de CPI para investigar o cartel dos trens de São Paulo e
muito menos propor a convocação do procurador De Grandis para receber aula da
Comissão Permanente do Senado sobre a arte de arquivar corretamente documentos.
A TV Câmara não transmitiu nenhum discurso estabanado de Carlos Sampaio
descendo a lenha em Rodrigo De Grandis. Trens, então, nenhum piado.
Ao mesmo tempo, sempre em conluio
com a grande imprensa, o PSDB se fez de morto com a recente operação em que a
Polícia Federal apreendeu 445 quilos de cocaína em helicóptero do senador
mineiro Zezé Perrela. Optou por fazer gênero indignação zero. Também nenhum
chiado. Silentes estavam, calados ficaram. E por quê? Simples, é muito delicado
colocar em uma mesma frase palavras como Cocaína – PSDB – Aécio. E no caso do
helicóptero o que mais se especulou foi a muito próxima amizade entre Zezé
Perrela e o senador Aécio Neves, ambos torcedores apaixonados do Cruzeiro, mas
não só isso, atestam muitos perfis nas redes sociais da internet.
Fato é que imagem de helicóptero
com quase meia tonelada de cocaína apreendida, sendo de propriedade de um
figurão da política mineira e cujo piloto é lotado como assessor de seu filho,
deputado na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, jamais deixaria de ser capa
de revistas semanais e de jornais de circulação nacional.
Mas no Brasil, país que tanto se
preza a liberdade de imprensa, simplesmente deixou de ser capa. No caso de
Veja, a capa foi sobre games. Peculiar, não? E é assim que com pés e mão de
barro desejam empunhar a bandeira da moral e dos bons costumes, onde
imoralidade e maus costumes só se pode ver no lado do governo.
Ridículo se não fosse
pateticamente risível.
Créditos da foto: Orlando Brito /
OBritoNews
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