segunda-feira, 31 de março de 2014

Revelação dramática: Figueiredo soube do atentado do Riocentro um mês antes


A revelação política e trágica mais extraordinária dos 33 anos decorridos desde o atentado do Riocentro foi trazida ontem pelo jornal O Globo: no rodízio que a ditadura fazia a cada cinco anos com um general-presidente, o presidente da República de então, general João Baptista de Oliveira Figueiredo, soube um mês antes do atentado terrorista do Riocentro, praticado por agentes do DOI-Rio. E pode ter sabido até um mês e meio antes.

Não tomou nenhuma providência para impedi-lo. Não só não fez nada para impedir o atentado, como depois fez de tudo (ele e o governo dele) para encobrir e proteger os mentores e autores do atentado. Mais que isso, até os condecorou e promoveu os que eram das Forças Armadas, caso de um dos integrantes da equipe que levou as bombas ao Riocentro, o então capitão Wilson Machado, hoje coronel da reserva do Exército.

A revelação de que o presidente teve conhecimento com no mínimo um mês de antecedência está  em depoimentos prestados nos Inquéritos Policiais Militares (IPMs) arquivados no Superior Tribunal Militar (STM). IPMs sigilosos até O Globo divulgar agora.

Revelações surgiram em meio a briga de generais

As revelações só surgiram porque os generais que integravam a alta cúpula do poder no Palácio do Planalto brigaram – generais Octávio Aguiar de Medeiros, chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI); general Newton Cruz, comandante militar do Planalto, da Agência Central do SNI e depois do próprio serviço; e o general Danilo Venturini, chefe do Gabinete Militar da Presidência da República e depois ministro de Assuntos Fundiários do governo Figueiredo.

Diante das divergências surgidas entre eles sobre participação e como o governo deveria agir no caso Riocentro, o STM precisou fazer uma acareação entre os generais Newton Cruz e Octávio Medeiros, quando ambos trocaram acusações e os depoimentos que imaginavam que ficariam em sigilo para sempre, passaram a constar do IPM.

O presidente Figueiredo não só nunca puniu, como acobertou e protegeu os autores de um atentado terrorista que poderia ter matado muitos dos 20 mil jovens reunidos no Riocentro na noite de 30 de abril/madrugada do 1º de maio, num show de MPB alusivo ao Dia do Trabalho. No atentado, uma bomba explodiu um transformador, e outra estourou antes da hora, no colo do sargento Guilherme do Rosário, matando-o e ferindo o oficial que o acompanhava, o então capitão Wilson Machado. Investigações indicam que outros veículos transportavam outras bombas, mas eles desapareceram na confusão.

General não prendeu nem arrebentou. Ficou de cordeiro na história

Mentores  do atentado e generais que dele souberam com antecedência, como o general Newton Cruz (reformado) – então um dos principais integrantes do esquema militar e de inteligência da ditadura  -, insistem que a ação não era para matar ninguém, era só para estourar as casas de força, dar um susto nos jovens, estabelecer pânico no escuro dentro do centro de convenções e tumulto  na saída.

Como é que poderiam saber, ou ter imaginado que não ia morrer ninguém  na saída de 20 mil pessoas em pânico no tumulto que se estabeleceria no Riocentro?

O general Figueiredo, não se esqueçam, foi aquele presidente da República que  assumiu em meio a longa escalada que o antecessor, general Ernesto Geisel, não conseguira conter, de atentados e incêndios contra bancas de jornais e sede de entidades que lutavam contra a ditadura, promovidos por radicais da direita militar que não aceitavam a distensão política.

Figueiredo assumiu com a promessa de levar em frente uma abertura política. Numa entrevista em que foi lhe perguntado como faria pra levar adiante a abertura e o que faria contra os militares radicais da direita que eram contra, respondeu à la Figueiredo: “Prendo e arrebento”. No caso dos autores do atentado do Riocentro, não prendeu nem arrebentou, pelo contrário, acobertou, protegeu, promoveu e até condecorou os autores.

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