Joaquim Barbosa se aposentou. Segue para Miami, espécie de
Disneylândia da classe média rastaquera tupiniquim, onde comprou um
apartamento. Leva nos bolsos, para não passar apertos, uma aposentadoria de
cerca de R$29 mil – mas abre mão de um adicional de mais ou menos R$ 3 mil, que
continuaria a receber se continuasse na corte até a compulsória. Que descanse
em paz.
Barbosa é um homem como qualquer outro, com seus pecados e
virtudes, erros e acertos. Mas foi alçado pela mídia à condição de herói
nacional porque condenou e encarcerou, em determinados casos ao arrepio da lei,
alguns petistas graúdos, dois ou três caciques de outros partidos políticos,
altos executivos e uma herdeira de um banco. Mérito de Joaquim, pois assim
realizou o desejo de muitos brasileiros. Tá certo que muitos ludibriados por
uma mistificação (e mitificação) que o tempo se encarregará de revelar. Assim
como esse mesmo tempo, "senhor da razão", relegará Joaquim – o Justo,
muito provavelmente, ao ostracismo e ao vilipêndio.
Não, não é o que eu desejo, honestamente, é porque a
sociedade de espetáculo em que vivemos é assim mesmo em sua cruel "fábrica
de sucos": extrai o sumo dos indivíduos, jogando fora o bagaço na lata de
lixo. Não estou me referindo especificamente aos mais maduros e aposentados, é
bom ressalvar, mas a todos os indivíduos, inclusive e notadamente os jovens.
Muitos advertem (alguns lamentam) que o ex-ministro do
Supremo não poderá ser mais candidato à Presidência. O que é, diga-se, de fato
uma pena, pois jamais poderemos saber se o apoio e exaltação que ora recebe é
apenas resultado do sopro efêmero da fama midiática ou se eram mesmo para valer
as suas supostas/aludidas potencialidades, pretensões e popularidade. Jamais
saberemos se os seus pés eram de barro ou do mais puro concreto e aço, que
serviriam para fundar a "novíssima" República – como parece pensar
alguns.
Mas muitos, inadvertida ou propositadamente, esquecem que
Joaquim Barbosa ainda poderá dar continuidade à sua obra, ou ao seu
"nobre" intento, digamos assim, de destruição e derrocada do governo
petista – ou talvez, fosse mais honesto dizer, de ruína do petismo.
Ou teria Barbosa se aposentado sem conseguir realizar a sua
obra?
Na condição de ídolo dos intolerantes, com seu
autoritarismo, arrogância e seu jeito intempestivo de ser, vai fazer falta a
muita gente confortavelmente encastelada na nossa classe média e na nossa elite
mais conservadora. Basta ver os comentários, aqui mesmo no Brasil 247, daqueles
que o defendem com zelo e ódio extremos, como se defendessem a um santo ou como
se adorassem um ídolo de ouro.
Joaquim Barbosa, repito, com o intuito de lhes lembrar,
confortar e apaziguar, é apenas um homem. Com seus erros e acertos; vícios e
virtudes.
Li, estarrecido, certo colunista da grande imprensa
oligopolista, ídolo dos conservadores e, por extensão dos chamados
"coxinhas", lamentar, com todas as letras, o fato do agora aposentado
ministro Barbosa não ter esperado para ver se algum candidato da oposição
venceria a eleição deste ano e assim, quem sabe, lhe conseguiria um ministério
ou algum outro cargo importante no governo.
O que este afamado e "isento" colunista está
querendo dizer, em outras palavras, é que um ex-ministro do Supremo deveria
aguardar para receber o seu prêmio, a sua prebenda, a sua
"recompensa" – como a foca treinada recebe o peixe. Sem perceber,
tamanha é a sua arrogância e desfaçatez, ofende a hombridade do ex-ministro.
O intento de Barbosa pode/deve ter sido muito mais nobre do
que sugere o referido colunista em sua desabrida sinceridade. Mas as intenções
daqueles que lhe emprestam exageradas mesuras, louvores a apoio acrítico podem
não estar propriamente revestidas pelo manto da mais pura lisura e nobreza.
Com o pretexto de se fazer Justiça, muitos estão traficando
as mercadorias dos seus projetos e ambições pessoais; estão colocando mais
lenha na fornalha de seus projetos de poder e mais gasolina na fogueira da
inquisição que pretende queimar os petistas (e assemelhados) em praça pública.
A chama que queima alguns, a outros alimenta.
Entretanto, esses podem ficar tranquilos. Afinal, Miami fica
"logo ali". E, sejamos honestos, se Lula é "o cara" e o
principal cabo eleitoral de Dilma, por que Barbosa não poderá vir a ser o
grande cabo eleitoral de Aécio Neves?!
Não poderia ser este, afinal, o seu derradeiro trabalho, a
sua derradeira missão, antes da sua merecida aposentadoria?
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