Uma ilusão muito importante é a
de que tudo vai muito bem pelo mundo, só no Brasil ou na América do Sul
dominada pelas esquerdas é que não.
Flávio Aguiar - http://cartamaior.com.br/
As ilusões da direita no Brasil
se dividem em dois grupos: o daquelas que ela quer vender para a população em
geral, e o daquelas que ela mantém por si mesma, e para si.
Dentre as primeiras – aquelas à
venda – destaca-se a de uma frase atribuída ao senador Aécio Neves: “para
resolver o problema da corrupção no Brasil basta tirar o PT do governo”, ou
algo parecido. Simplória, simplista, não li desmentido: ficou o não dito pelo
dito. Vai na esteira da superstição martelada pela mídia de que a corrupção foi
fundada pelo PT, alimentada por comportamentos no Judiciário de juízes como
Joaquim Barbosa e Sérgio Moro.
Mas há outras no mercado. Outra
muito importante é a de que nas aparências tudo vai muito bem pelo mundo, só no
Brasil ou na América do Sul dominada pelas esquerdas é que não. A Europa não
está em estado falimentar, os Estados Unidos não estão pressionados por uma
crise sem precedentes, só há corrupção no Brasil e no Terceiro Mundo, o Japão
vai muito bem, embora estagnado há décadas e por aí adiante.
Outras ilusões vendidas: caso
ganhe as eleições presidenciais algum dia, a direita não vai mexer nos direitos
trabalhistas. Vai sim. Vai mexer nas férias remuneradas, no salário mínimo, na
Justiça do Trabalho, nas indenizações, em suma, em tudo aquilo que ela vê como
elevação do “custo Brasil”, quer dizer, as obrigações sociais que o
empresariado tem de cumprir. Espero que quem viver não veja, mas quem ver a
vitória da direita, verá.
Mas as piores, as mais daninhas,
são aquelas que a direita mantém para si mesma. Vamos começar pelas internas.
Cada grupo, cada político da direita, alimenta a ilusão de que poderá
livremente instrumentar os e as demais. Serra acha que poderá instrumentar
Aécio e Alckmin, este que vai instrumentar os outros dois e aquele, este e
aqueloutro. FHC acha que poderá instrumentar todos eles em função de seu sonho
de garantir seu lugar no Panteão dos grandes chefes de estado nacionais,
transformadores e consolidadores, por ora ocupado por Pedro II, Vargas e Lula,
nesta ordem cronológica. Vã ilusão de todos. Haverá uma briga de foice entre
eles, e FHC já está condenado a ser o ex-intelectual brilhante, ainda que
conservador, que esqueceu tudo o que escreveu antes e se tornou um político
medíocre, aprendiz de golpista nos últimos tempos.
Além disto, os líderes da direita
pensam que poderão instrumentar os movimentos de rua, os pró-impeachment, os
pró-ditadura e os pró-coisa nenhuma, e estes pensam que poderão instrumentar
aqueles e os outros movimentos. Esta ilusão pode sair cara a eles, mas será
mais cara a nós, democratas pró ou contra o governo, pois se aqueles
prevalecerem eles começarão por comer quem a eles se opuser mas terminarão por
se comer a si mesmos, num processo longo, doloroso, inseguro, e cheio de
solavancos, como aconteceu com a ditadura de 21 anos que engolimos décadas
atrás.
Também alimentam a ilusão de que
serão recebidos como salvadores da pátria. A menos que tenham o apoio das
Forças Armadas e que estas calem os movimentos sociais à bala, o que parece
improvável, uma vitória do impeachment, por exemplo, mergulhará o país no caos,
além de liberar de fato uma gandaia de corrupção, pois a PF perderá a
autonomia, o Ministério da Justiça virará um bordel, o Procurador Geral da
Republica voltará a ser o Engavetador-Mór, etc., o arrocho em cima dos trabalhadores,
aposentados e estudantes seguirá o modelo europeu, enfim, o Brasil vai virar
uma república dividida entre a banana e o abacaxi, além do pepino.
Por fim, a direita alimenta a
ilusão, esta para si e também à venda, de que será recebida de braços abertos
pela “comunidade internacional”, aquela que para ela conta: a Europa Ocidental,
ou circuito Helena Rubinstein, os Estados Unidos, supermercados de Miami à
frente, e o Japão, recessão à parte. Vã ilusão. Seremos recebidos – pois
estaremos juntos nesta anti-aventura – com risotas de bastidor, finalmente
reconduzidos ao curral de onde nunca deveríamos ter saído, aquele reservado aos
pobres que não têm remédio nem saída, governados pelos oligarcas de plantão.
A outra ilusão é a de que tudo
isto é possível. Não é mais. O Brasil não voltará ser o que era. O Brasil
enveredou para o futuro. Seja lá o que seja ele.
Créditos da foto: Antonio
Cruz/Agência Brasil
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