domingo, 30 de agosto de 2015

Demos um mergulho na VKontakte, o "Facebook" russo

Uma rede social pensada nos moldes da criação americana tem semelhanças com o falecido Orkut, streaming de música, login social, ativismo político e virais no mínimo curiosos


Em 2006, o russo Pavel Durov criou o VKontakte depois que um amigo apresentou o Facebook a ele. A ideia era ser mais um canal social que oferecesse um leque de entretenimento mais rico que a rede do Zuckerberg.

O resultado prático desse projeto foi uma rede que oferece informação, música, vídeos e interatividade – esta impulsionada pelo modelo de comunidades, que atraem pessoas do mundo todo com interesses em comum.


Durov é constantemente comparado ao criador do Facebook. Isso porque os dois nasceram no mesmo ano e estão no “negócio” das redes sociais. Porém, o trabalho do russo ao criar o Vkontakte se coloca como modelo de comunidade independente e alternativa.

Com 2,320,767,532 visualizações de página no período entre junho e agosto de 2015 (relatório da liveinternet.ru atualizado em 20 de agosto), o VK se mantém no topo do ‘social ranking’ na Rússia.

VK e outras redes sociais

Pelo que se vê navegando pelo VK, é impossível não fazer conexões com algumas das mais populares redes sociais.

Layout que lembra o Facebook

Assim que se faz o acesso, tanto em plataforma desktop quanto no app, o botão ‘Login com Facebook’ chama a atenção. Se o usuário optar por ele, os dados são transferidos automaticamente, incluindo a foto de perfil. O layout da página ‘feed’ é extremamente parecido com as primeiras versões da rede americana. Também é possível seguir seguidores e confirmar presença em eventos, tal qual o site americano.

Comunidades que remontam ao Orkut

A formatação dos ‘interesses’ dos usuários do VK são divididos por comunidades – um modelo que fazia bastante sucesso no Orkut, dado que estes grupos são bem menos formais que as conhecidas ‘fan pages’ do Facebook. Os temas vão desde comunidades relacionadas a games, esportes, produtos televisivos e causas sociais, até piadas e vida dos famosos.

Streaming de música à la Spotify

Um dos grandes diferenciais do VK é o serviço de streaming de música. Estando logado na rede, o internauta consegue ouvir músicas, escolher estilos musicais e compartilhar faixas na sua página. Algumas pessoas que tiveram contato com a rede declararam que o VK era o melhor lugar para encontrar e ter produtos midiáticos – filmes e músicas – sem a necessidade de pagar por eles.

O sucesso do VK em acessos e a gama de ‘serviços’ oferecidos aos internautas chamaram a atenção do Serviço de Segurança Federal da Federação Russa – FSB, o serviço de contra-inteligência doméstica e vigilância, que atua de forma bem próxima a órgãos como a CIA e a KGB.

Sucesso no Brasil

Depois do anúncio do fim do Orkut, os brasileiros avessos ao Facebook foram atraídos para o VKontakte. Um dos apelos mais importantes para essa migração são as comunidades de interesse. Segundo dados do VK sobre acessos e usuários ativos no mundo, até julho de 2014 existiam cerca de 340 mil perfis brasileiros na rede. Entre os brasileiros presentes na VK encontramos militantes virtuais de esquerda e comunidades de oposição ao governo Dilma, estas com pouco movimento.

Em uma busca rápida também encontramos perfis de veículos de comunicação do Brasil, como uma comunidade dedicada à revista Veja, sem nenhuma atualização.

Virais polêmicos viram caso de polícia

Campanhas virais acontecem nas redes sociais o tempo todo. Essa semana começaram a circular pelo VK diversas selfies de usuários da rede ao lado de pessoas mortas…
Como uma competição, os internautas disputam a audiência revivendo um tipo de fotografia que era bastante conhecido e que já teve ondas no Instagram e no Facebook.

As autoridades russas investigam a campanha e pretendem identificar os criadores da competição viral. Já existem relatos de internautas que, após participarem da ação, tiveram seu perfil bloqueado no VK.

Em tempo: tirar fotos com mortos é um hábito antigo. No século XIX era comum encontrar, ao folhear álbuns de fotografia, imagens de pessoas vivas com cadáveres de seus parentes e amigos, a título de recordação.

Ativismo político e o ‘case’ de oposição ao governo

O anúncio da candidatura de Putin à reeleição em 2011 foi o estopim para entidades e militantes de oposição dominarem o espaço do VK na internet para propagar notícias e eventos contrários a ele.

Um evento dos opositores foi bloqueado na rede por conta de sua intensa atividade, e denúncias de que o governo tinha intenções de neutralizar os ativistas e o VKontakte.

Durov teria modificado os algoritmos do VK para contribuir com a causa dos opositores de Putin.

Essa proximidade dos opositores com Durov fez com que o fundador do VK recebesse em sua casa uma visita inesperada de policiais exigindo que ele apagasse da rede todas as páginas e perfis ligados à oposição.

O argumento dado (e aceito) foi simples e direto: VK é um negócio e, comercialmente, negar espaço a qualquer usuário seria ruim para o posicionamento da rede, além do que seu único compromisso era o de oferecer “o melhor produto possível”.

Após a visita, Durov promoveu mais mudanças na programação do VK, aumentando o alcance orgânico das atividades em grupos e eventos da rede. Depois das mudanças na programação, afirmações via Twitter:

“Eu não posso apoiar nenhuma forma de oposição, nem as autoridades nem nenhum outro partido”

“VKontakte – Uma organização 100% apolítica.”

Em 2013 novas polêmicas envolvendo Durov e supostas colaborações com o FSB colocaram o VK no centro das discussões políticas russas novamente. Um portal de notícias russo teve acesso a ‘emails hackeados’ trocados entre o criador da rede e Vladislav Surkov, ideólogo do Kremlin. Estava posta a dúvida.

Pouco tempo depois, um acidente de trânsito deflagrou outra crise. O motorista do carro, um dos executivos da rede, teria atropelado um policial e fugido do local. Esse episódio gerou uma série de batidas policiais na sede do VKontakte, inclusive com acusações de que quem de fato estaria no volante seria Durov.

A divisão e venda gradual das ações da rede social colocou a administração do VK nas mãos de aliados do Kremlin. Além de perdas financeiras, Durov perdeu também autoridade, mesmo mantido por um tempo no cargo simbólico de Diretor Geral do VK. A essa atura, a intenção dele em cultivar um espaço ativista na rede era conhecida e declarada.

Apesar da resistência, Durov acabou deixando o controle administrativo da empresa em 2014.


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