Uma rede social pensada nos
moldes da criação americana tem semelhanças com o falecido Orkut, streaming de
música, login social, ativismo político e virais no mínimo curiosos
Por Monise Berno / http://www.revistaforum.com.br/
Em 2006, o russo Pavel Durov
criou o VKontakte depois que um amigo apresentou o Facebook a ele. A ideia era
ser mais um canal social que oferecesse um leque de entretenimento mais rico
que a rede do Zuckerberg.
O resultado prático desse projeto
foi uma rede que oferece informação, música, vídeos e interatividade – esta
impulsionada pelo modelo de comunidades, que atraem pessoas do mundo todo com
interesses em comum.
Durov é constantemente comparado
ao criador do Facebook. Isso porque os dois nasceram no mesmo ano e estão no
“negócio” das redes sociais. Porém, o trabalho do russo ao criar o Vkontakte se
coloca como modelo de comunidade independente e alternativa.
Com 2,320,767,532 visualizações
de página no período entre junho e agosto de 2015 (relatório da liveinternet.ru
atualizado em 20 de agosto), o VK se mantém no topo do ‘social ranking’ na
Rússia.
VK e outras redes sociais
Pelo que se vê navegando pelo VK,
é impossível não fazer conexões com algumas das mais populares redes sociais.
Layout que lembra o Facebook
Assim que se faz o acesso, tanto
em plataforma desktop quanto no app, o botão ‘Login com Facebook’ chama a
atenção. Se o usuário optar por ele, os dados são transferidos automaticamente,
incluindo a foto de perfil. O layout da página ‘feed’ é extremamente parecido
com as primeiras versões da rede americana. Também é possível seguir seguidores
e confirmar presença em eventos, tal qual o site americano.
Comunidades que remontam ao Orkut
A formatação dos ‘interesses’ dos
usuários do VK são divididos por comunidades – um modelo que fazia bastante
sucesso no Orkut, dado que estes grupos são bem menos formais que as conhecidas
‘fan pages’ do Facebook. Os temas vão desde comunidades relacionadas a games, esportes,
produtos televisivos e causas sociais, até piadas e vida dos famosos.
Streaming de música à la Spotify
Um dos grandes diferenciais do VK
é o serviço de streaming de música. Estando logado na rede, o internauta
consegue ouvir músicas, escolher estilos musicais e compartilhar faixas na sua
página. Algumas pessoas que tiveram contato com a rede declararam que o VK era
o melhor lugar para encontrar e ter produtos midiáticos – filmes e músicas –
sem a necessidade de pagar por eles.
O sucesso do VK em acessos e a
gama de ‘serviços’ oferecidos aos internautas chamaram a atenção do Serviço de
Segurança Federal da Federação Russa – FSB, o serviço de contra-inteligência
doméstica e vigilância, que atua de forma bem próxima a órgãos como a CIA e a
KGB.
Sucesso no Brasil
Depois do anúncio do fim do
Orkut, os brasileiros avessos ao Facebook foram atraídos para o VKontakte. Um
dos apelos mais importantes para essa migração são as comunidades de interesse.
Segundo dados do VK sobre acessos e usuários ativos no mundo, até julho de 2014
existiam cerca de 340 mil perfis brasileiros na rede. Entre os brasileiros
presentes na VK encontramos militantes virtuais de esquerda e comunidades de
oposição ao governo Dilma, estas com pouco movimento.
Em uma busca rápida também
encontramos perfis de veículos de comunicação do Brasil, como uma comunidade
dedicada à revista Veja, sem nenhuma atualização.
Virais polêmicos viram caso de
polícia
Campanhas virais acontecem nas
redes sociais o tempo todo. Essa semana começaram a circular pelo VK diversas
selfies de usuários da rede ao lado de pessoas mortas…
Como uma competição, os
internautas disputam a audiência revivendo um tipo de fotografia que era
bastante conhecido e que já teve ondas no Instagram e no Facebook.
As autoridades russas investigam
a campanha e pretendem identificar os criadores da competição viral. Já existem
relatos de internautas que, após participarem da ação, tiveram seu perfil
bloqueado no VK.
Em tempo: tirar fotos com mortos
é um hábito antigo. No século XIX era comum encontrar, ao folhear álbuns de
fotografia, imagens de pessoas vivas com cadáveres de seus parentes e amigos, a
título de recordação.
Ativismo político e o ‘case’ de
oposição ao governo
O anúncio da candidatura de Putin
à reeleição em 2011 foi o estopim para entidades e militantes de oposição
dominarem o espaço do VK na internet para propagar notícias e eventos
contrários a ele.
Um evento dos opositores foi
bloqueado na rede por conta de sua intensa atividade, e denúncias de que o
governo tinha intenções de neutralizar os ativistas e o VKontakte.
Durov teria modificado os
algoritmos do VK para contribuir com a causa dos opositores de Putin.
Essa proximidade dos opositores
com Durov fez com que o fundador do VK recebesse em sua casa uma visita
inesperada de policiais exigindo que ele apagasse da rede todas as páginas e
perfis ligados à oposição.
O argumento dado (e aceito) foi
simples e direto: VK é um negócio e, comercialmente, negar espaço a qualquer
usuário seria ruim para o posicionamento da rede, além do que seu único
compromisso era o de oferecer “o melhor produto possível”.
Após a visita, Durov promoveu
mais mudanças na programação do VK, aumentando o alcance orgânico das
atividades em grupos e eventos da rede. Depois das mudanças na programação,
afirmações via Twitter:
“Eu não posso apoiar nenhuma
forma de oposição, nem as autoridades nem nenhum outro partido”
“VKontakte – Uma organização 100%
apolítica.”
Em 2013 novas polêmicas
envolvendo Durov e supostas colaborações com o FSB colocaram o VK no centro das
discussões políticas russas novamente. Um portal de notícias russo teve acesso
a ‘emails hackeados’ trocados entre o criador da rede e Vladislav Surkov,
ideólogo do Kremlin. Estava posta a dúvida.
Pouco tempo depois, um acidente
de trânsito deflagrou outra crise. O motorista do carro, um dos executivos da
rede, teria atropelado um policial e fugido do local. Esse episódio gerou uma
série de batidas policiais na sede do VKontakte, inclusive com acusações de que
quem de fato estaria no volante seria Durov.
A divisão e venda gradual das
ações da rede social colocou a administração do VK nas mãos de aliados do Kremlin.
Além de perdas financeiras, Durov perdeu também autoridade, mesmo mantido por
um tempo no cargo simbólico de Diretor Geral do VK. A essa atura, a intenção
dele em cultivar um espaço ativista na rede era conhecida e declarada.
Apesar da resistência, Durov
acabou deixando o controle administrativo da empresa em 2014.
Conheça a página da Fórum no Vkontakte
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