JOSE CARLOS DE ASSIS // http://www.brasil247.com/
Se as gravações que levaram à prisão do senador
Delcídio Amaral são indício de crime, então elas deveriam ter sido usadas para
rastrear todas as pessoas que foram citadas nelas, notadamente os quatro
ministros do Supremo Tribunal Federal. Se elas não são indícios de crime então
seriam um blefe do senador Delcídio: ele estaria prometendo o que não pode
cumprir, especialmente contatos com os ministros, fugas, habeas corpus,
mesadas. Ora, se foi apenas um blefe, não foi crime. Se não foi crime, ele não
poderia ser preso.
Considere, agora, a delicada posição do ministro
Teori Zavascki: ele é o encarregado de examinar em primeira mão a acusação do
procurador geral Rodrigo Janot contra Delcídio, da qual a peça central são as
afirmações onde aparecem seu ilustre nome, junto com os dos ministros Gilmar
Mendes, Luiz Fachin e Dias Toffoli. Que constrangimento! Claro, ele não quer
tomar uma decisão sozinho. Recorre rapidamente a uma turma do Supremo a qual,
por unanimidade, decide mandar Delcídio e outros dois participantes da conversa
para a cadeia, e ignorar o resto.
Vamos supor, agora, o caminho que uma investigação
rigorosa teria seguido. Vou usar a analogia com uma investigação de terrorismo
em Londres depois do 11 de setembro nos EUA. As investigações evoluíram a um
ponto em que surgiram todos os indícios da preparação de um atentado em série
contra aviões com destino aos EUA. Mas os policiais não tinham o quadro
completo de participantes. Se se precipitassem na prisão dos suspeitos
conhecidos corriam o risco de espantar outros desconhecidos. Esperaram até o
último momento. Só então entraram em operação.
No caso Delcídio, uma investigação imparcial no
âmbito da Lava Jato teria que considerar a possibilidade de o senador ter
entrado em contato com os ministros do Supremo para cumprir suas promessas, se
elas foram para valer. A única forma de fazer isso era grampear os telefones do
Senador e dos ministros. Era da órbita de responsabilidades do procurador geral
da República ter pedido isso; a quem, não sei, porque todo o Supremo estaria
bichado. Se não fez, é porque considerou as afirmações de Delcídio nas
gravações um blefe. Se era um blefe, por que levou a sério as demais, ao ponto
de ver nelas um "componente diabólico"? Seria por causa dos quatro
diabos?
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