http://operamundi.uol.com.br/ // Por Max Altman
Um dos temas mais fascinantes da
política internacional é de como Cuba se irá desenvolver nos próximos anos
política, ideológica e economicamente depois do restabelecimento de relações
com o seu inimigo regional, os Estados Unidos. Cientes da validade de um dos
principais lemas ideológicos – “o socialismo nasceu da miséria para acabar com
ela” -, a liderança e o povo cubano dispõem-se a criar as condições para um
desenvolvimento sustentável capaz de garantir o progresso e o bem-estar de sua
população sem violentar os princípios e os valores do socialismo. Terão êxito
nesta formidável empreitada?
Após alguns fatos, como a
bem-sucedida visita do papa Francisco, o encontro de Francisco com o patriarca
Kirill e as negociações de paz entre o governo da Colômbia e as Farc, que
garantiram a Havana uma presença de respeito no cenário político internacional,
acontecimentos mais recentes estão a indicar um avanço sério e concreto.
O governo Barack Obama aprovou a
instalação da primeira fábrica norte-americana em Cuba em mais de meio século.
Uma pequena empresa do Alabama vai construir uma linha para a montagem de
implementos agrícolas. Os sócios Horace Clemmons e Saul Berenthal estão
autorizados a produzir tratores e outros equipamentos pesados em uma zona
econômica especial – a de Mariel, cujo porto foi construído pela empresa
Odebrecht, com financiamento do nosso BNDES, estão os leitores e os não
leitores lembrados? – criada pelo governo cubano para atrair investimento
estrangeiro.
As autoridades cubanas endossaram
o projeto, pública e entusiasticamente, pois tende a enfrentar o calcanhar de
Aquiles da economia cubana, a produção alimentar autóctone.
“Todo mundo quer ir para Cuba
vender alguma coisa, mas não é isso que estamos tentando fazer. Estamos
estudando os problemas e vendo como ajudar Cuba a resolver os problemas que
eles consideram os mais importantes”, disse Clemmons.
A fábrica de tratores, batizada
de Oggún –homenagem a uma divindade da Santería, religião sincrética cubana–,
montará autopeças já disponíveis comercialmente para produzir um trator durável
e de fácil manutenção, com motor de 25 HP, que deve ser vendido por menos de
US$ 10 mil.
Berenthal afirmou que está
otimista quanto a exportar os tratores da Oggún a outros países latino-americanos
que têm tarifas baixas ou zero para as exportações cubanas, o que tornaria os
veículos competitivos em termos de preço. “Creio que teremos um impacto
tremendo sobre a capacidade da fábrica não só de ajudar a economia do país mas
de estabelecer um exemplo para o Caribe e América Latina”, disse Berenthal.
Cuba e Estados Unidos assinaram
um acordo que dá sinal verde à retomada de voos entre os dois países pela
primeira vez em mais de meio século. O acordo aéreo permitirá até 110 voos
diários entre aeroportos dos Estados Unidos e 10 aeroportos cubanos. Várias
empresas norte-americanas já anunciaram interesse em explorar a rota.
Imaginemos uma lotação média de um avião de 150 passageiros; 110 voos diários
significam o transporte de 16,5 mil passageiros/dia ou 495 mil passageiros/mês
ou ainda 5,9 milhões de passageiros/ano. A perspectiva do crescimento
vertiginoso do turismo norte-americano é real. Atualmente, só podem visitar
Cuba norte-americanos que se enquadrem em uma de 12 categorias, entre as quais,
jornalismo, pesquisa e educação. Não se trata ainda do fim da proibição a
viagens de turismo para cidadãos dos Estados Unidos, o que só pode ser revogado
pelo Congresso.
A secretária de Comércio dos
Estados Unidos, Penny Pritzker, e seu homólogo cubano, Rodrigo Malmierca,
concordaram em seu otimismo pelo futuro das relações entre ambos os países ao
deixar inaugurado em Washington o segundo encontro para intercambiar sobre o
âmbito das regulações vigentes, especificamente a possibilidade de outorgar
créditos para a venda de produtos aprovados que não sejam agrícolas, enquanto
perdurar o bloqueio financeiro e comercial contra a ilha. Pritzker assegurou
que recebeu uma clara mensagem de que empresas estadunidenses querem fazer
negócios com Cuba.
Em Cuba não há zika, nem
chikungunya, nem febre amarela, declarou o ministro de Saúde Pública Roberto
Morales, quem fez um apelo a todos os trabalhadores na área da saúde a envidar
o máximo dos esforços em apoio à campanha epidemiológica para evitar a entrada
do vírus no país.
Se bem que não se tenha
registrado nenhum caso de contágio, em 55 municípios existe alta infestação de
mosquitos do gênero Aedes, especialmente o Aegypti e o Albopictus, causadores
da transmissão da dengue, razão por que não se deve descartar o risco de
transmissão da Zika.
Por sua vez, Santiago Badías,
secretário geral do Sindicato dos Trabalhadores na Saúde ressaltou as
principais conquistas de 2015: a taxa de mortalidade infantil de 4,3 por cada
mil nascidos vivos; a expectativa de vida de 78,45 anos e a declaração da
Organização Mundial da Saúde de que Cuba é o primeiro país livre da transmissão
de mãe para filho do HIV/Aids e da sífilis.
E, por fim, algo que vai
contentar os manifestantes que gritaram e gritam pelas ruas e pelas redes
sociais, o “Vai pra Cuba”. O presidente Barack Obama aceitou seu convite e “Vai
pra Cuba”. Estará na Ilha em 21 e 22 de março e manterá um encontro com o presidente
Raúl Castro para “fazer avançar nossos progressos e esforços que podem ajudar a
vida dos cubanos”. Por certo não se furtará – e terá grande prazer – em manter
um papo descontraído com Fidel Castro.
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