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Nenhuma autoridade do Judiciário, do Ministério Público ou da Polícia Federal se manifestou, até agora, sobre a grave denúncia de José Yunes, a "mula" do ministro Eliseu Padilha, de que dinheiro de propina da Odebrecht entregue ao hoje licenciado chefe da Casa Civil foi utilizado, com o conhecimento de Michel Temer, para a compra de votos dos 140 deputados que elegeram Eduardo Cunha presidente da Câmara. Graças a esse negócio Cunha ganhou a oportunidade de viabilizar o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, dando partida ao processo que culminou com o afastamento dela do Palácio do Planalto. Os mesmos deputados que venderam o seu voto, portanto, aprovaram o impeachment, o que significa que a destituição de Dilma foi comprada. A farsa, que teve lances vergonhosos no plenário da Câmara, está desmoronando em meio ao estranho silêncio, entre outros, do Supremo Tribunal Federal, do Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, e do juiz Sergio Moro.
Além de complicar a situação de Padilha, que saiu de fininho da frente dos holofotes alegando questões de saúde, a denúncia de Yunes, considerado o melhor amigo de Temer, também o deixou mal. Na verdade, Temer e Padilha, que formam a linha de frente do governo golpista, dificilmente terão argumentos para contestar Yunes que, estranhamente, vinha sendo preservado pelo juiz Sergio Moro. O comandante da Operação Lava-Jato, aliás, também ficou muito mal nessa sórdida trama, porque desconsiderou a insistência do ex-deputado Eduardo Cunha para que Yunes fosse ouvido como sua testemunha de defesa. Ficou agora a impressão de que Moro, ao cancelar qualquer menção a Yunes, na verdade pretendeu preservar Temer. Ele chegou a censurar Cunha, acusando-o de tentar pressionar o Presidente da República, deixando o ex-deputado a ver navios no seu esforço para defender-se e conseguir a liberdade.
Vale registrar, também, que todos os deputados antes fiéis a Cunha e que tentaram impedir a sua cassação, estão calados, sem nenhum gesto em sua defesa. Nem parece aqueles que em determinado momento gritavam "somos todos Cunha" e que, por isso, também deveriam estar presos com ele. No mínimo deveriam ter o mandato cassado pela venda dos votos. A esta altura, porém, passada a euforia inicial da vitória do golpe que colocou Temer no poder, já tem muita gente se preparando para abandonar o barco, que começa a fazer água. José Serra e Padilha foram os primeiros a pular fora, alegando questões de saúde, mas tudo indica que outros ratos igualmente deixarão a embarcação que, pelos sinais, promete afundar no máximo até abril, levando junto a Lava-Jato, que escancarou os seus objetivos políticos antes mascarados pelo pretexto de combate à corrupção.
Na realidade, parece que a Lava-Jato está com seus dias contados. Depois de fazer a sua parte no processo de afastamento da presidenta Dilma Rousseff, na perseguição a Lula e no desmonte das grandes empreiteiras do país, a operação, que conquistou fama internacional e transformou o juiz Sergio Moro em celebridade, começou a ser descartada porque não mais interessa aos promotores do golpe. No momento em que começou a ameaçar membros do governo, focando no PMDB, a Lava-Jato, antes aliada, virou inimiga e os golpistas começaram a se mobilizar para estancá-la, conforme deixou claro o senador da suruba Romero Jucá numa conversa com o ex-diretor da Transpetro Sergio Machado. E começaram a surgir críticas aos procuradores da força-tarefa e ao juiz Moro até de ministros do Supremo Tribunal Federal. E depois das críticas do ex-presidente do STF Nelson Jobim, em entrevista divulgada domingo, parece que o super-herói está perdendo os seus poderes e se transformando mesmo em vilão.
Tudo indica que, passado o carnaval, novos fatos relacionados ao golpe virão à tona e o governo Temer ficará insustentável. Resta saber, no entanto, se o Supremo vai continuar mantendo o sigilo das delações da Odebrecht e ignorando a compra do impeachment, participando da blindagem de Temer e dos seus ministros, além dos tucanos, que prosseguem pulando de galho em galho sem serem incomodados. Na verdade, já é tempo da Suprema Corte deixar de ser um órgão político para começar a fazer justiça de fato, com isenção, recuperando a confiança do povo brasileiro. Já é tempo de rever decisões escandalosamente políticas e praticar a justiça como, por exemplo, libertar presos "preventivos" que se tornaram prisioneiros perpétuos por conta de convicções políticas. Se até um assassino confesso, como o goleiro Bruno, foi libertado, por que pessoas apenas citadas por delatores, sem provas convincentes, devem permanecer na prisão?
Depois do "mensalão" e da Lava-Jato matar alguém passou a ser um crime menos grave do que receber propina. Marco Valério, por exemplo, foi condenado a 43 anos de prisão, sob a acusação de ser o "operador do mensalão", enquanto o goleiro Bruno, que matou cruelmente Elisa Samudio, não chegou a 30 anos e já está em liberdade. Pelo visto, para a nova justiça, que surgiu após a politização do Poder Judiciário, a vida vale menos do que um punhado de reais. Ou seja, no Brasil de hoje roubar é um crime muito mais grave do que matar. Não há dúvida de que alguma coisa está errada.
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