Por Sérgio Saraiva
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O governo Temer tem uma escala de tempo própria. Não houve e se acabou. E, quando busca invertê-la, o tempo joga contra ele
Leia os blogs da esquerda e leia os jornais da direita e lá está o inaudito consenso - Temer não existe. Sintoma disso é a tal “crise da direita”, que nada mais é do que os grupos ajuntados no governo trocando trancos e empurrões, cada um tentando encontrar um lugar nos poucos escaleres do Titanic.
O melhor historiador deste governo é o Senador Romero Jucá – o governo foi atentado para “estancar a sangria” e tornou-se uma “suruba”. As duas ideias-força que o descrevem à perfeição.
Na parte "suruba", assim que assumiu o poder, Temer usou de um déficit de 154 milhões de reais para a liberação de emendas parlamentares e de aumentos a funcionários federais dos três Poderes e - claro - da bolsa mídia. Modernidade do atraso, comprou até alguns youtubers. Tornou-se inconteste, aprovou de tudo no Congresso e nas primeiras páginas dos jornais.
Porém, não tem mais como repetir o feitiço sem espremer da PEC 55 a última gota de sangue das rubricas sociais. As recentes convulsões na segurança pública mostraram que seria uma temeridade - com trocadilho e tudo.
Na parte "estancar a sangria" teve menos sucesso. A Lava Jato, mesmo não sendo mais a tempestade em alto-mar que foi no governo petista, balança o governo de Temer o suficiente para os ratos começarem a abandonar o navio. O capitão está encharcado e sem as calças e os pilotos e timoneiros caíram doentes ou foram jogados ao mar.
Moraes e Serraglio, os dois salva-vidas atirados por Temer, talvez venham tarde demais, talvez não cheguem para todos.
O crescimento não virá antes de 2019-20 com uma nova presidência eleita. Nenhum empresário, nacional ou estrangeiro, irá investir com tamanha incerteza sobre a continuidade do governo. O desemprego continuará acima de 12% da população ativa.
A melhoria momentânea nas contas não engana ninguém. O chefe da casa deixou a família um mês sem jantar para aumentar o saldo médio no banco para tentar impressionar o gerente.
Como muito bem diagnosticado, Temer se mantém porque, ainda não entregou o prometido ao poder econômico – o desmonte do nosso incipiente estado de bem-estar social – patrões cobram o fim da CLT para transformar funcionários em "fornecedores de mão de obra" e financistas pavlovianamente salivam na gravata à espera de bilhões de reais em planos de previdência privada. Empresários e banqueiros ainda acreditam que ele tem apoio no Congresso para fazê-lo.
Aqui começam as contradições do governo Temer.
no tempo político, faltam oito meses para 2018. A partir de outubro de 2017, serão as próximas eleições o principal fator a guiar as ações dos deputados e senadores.
Temer pode não estar preocupado com a seus baixíssimos índices de popularidade - 1,2% de avaliação ótimo e 26,5% de péssimo na última pesquisa CNT-MDA. Com 62,4% de desaprovação de seu governo e viés de piora, Temer não tem nenhuma condição de tentar a reeleição. Assim, a sua única perspectiva política é se aguentar no poder até 2018 e, então, encerrar a carreira. Será um João Figueiredo à paisana. Piorado - entrou e sairá pela porta dos fundos. Mais polido e pernóstico como uma mesóclise, mas tão medíocre quanto.
Temer pode não estar interessado nas próximas eleições das quais não participará, porém, deputados e dois terços dos senadores e os candidatos a candidatos a governador não pensam em outra coisa.
O tempo joga contra Temer.
Quem vai querer, às vésperas das eleições, bancar as reformas da previdência e trabalhista. Tirar dinheiro de viúvas e o direito dos trabalhadores se aposentarem. Transformá-los de funcionários com carteira assinada em terceirizados com vínculos trabalhistas precários. E, logo em seguida, pedir-lhes voto?
As defecções começam e as saudades de Lula crescem.
E o tempo joga contra Michel Temer.
PS1: até o Carnaval, que deveria ser um momento de diversionismo para o governo, tornou-se a celebração do "Fora Temer".
PS2: PS2: A Oficina de Concertos Gerais e Poesia agora com filial no Facebook.
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