sexta-feira, 30 de junho de 2017

O empresariado que estimula a revolução social no país, por J. Carlos de Assis


O empresariado que estimula a revolução social no país

por J. Carlos de Assis

Os paulistas me surpreendem. Em especial os paulistas ricos. Conversei nesta quinta com o presidente da Abinee, Humberto Barbato, e esperava dele a manifestação de algum desconforto com os rumos da política econômica. Ao contrário, ele se mostrou exultante com a suposta recuperação da economia. Argumentou que em sua área, a indústria eletro-eletrônica, as coisas vão muito bem pelo testemunho dos seus pares. Claro que não pode haver retomada de uma vez. Isso quem pretende, sem razão, são “as esquerdas”.
Para Barbato, toda desgraça que ainda resta na economia se deve à herança dos 13 anos de governo do PT. Em especial “daquela mulher”. Obviamente que ele não inclui no espólio de Dilma a grande estupidez da isenção fiscal para a linha branca, de que os sócios da Abinee foram beneficiários diretos. Foram bilhões de reais para engordar o lucro da pauliceia rica, sem geração de um único emprego, ao contrário da forma como era justificada. Nos 13 anos o BNDES também esteve sempre aberto para os investidores produtivos.

Como foi um telefonema rápido, não tive tempo para dizer a Barbato que fui, ao longo dos 13 anos, um crítico frequente dos governos do PT em matéria de política econômica. Achava Palocci um ignorante de economia e Mantega um frouxo. Nenhum dos dois teria condições para dar uma virada na economia brasileira no sentido de cortar as asas da especulação financeira predatória. E capitularam aos interesses do grande capital interno, associado ao internacional, que nos mantém a todos escravizados de forma permanente.

O presidente da Abinee fez largos elogios à maioria governista da Comissão de Constituição e Justiça que aprovou o projeto da chamada reforma trabalhista. Parecia exultante com a possibilidade de restaurar no Brasil o trabalho escravo, o trabalho intermitente, o trabalho de grávidas em áreas insalubres, a terceirização ilimitada, o acordo acima da lei, a destruição da Previdência Social. Em mais de 40 anos de jornalismo e de economia, jamais pensei que alguém tão reacionário, tão retrógrado, a exemplo de Paulo Skaf, pudesse representar um segmento significativo do empresariado brasileiro.

Infelizmente não tive tempo de apresentar meus argumentos sobre a marcha atual da economia, de forma que os apresento agora. A recuperação é uma falácia. Esse fenômeno de circo chamado Meirelles já refez para baixo, como previ há meses, a estimativa do desempenho do PIB este ano. Não é mais 0,5%, como orgulhosamente havia anunciado, mas menos que isso, “porém positivo”. É claro que não será positivo coisa nenhuma pois o Governo, de vontade própria, simplesmente travou a economia inteira, desde o orçamento público ao BNDES.

O fato é que o investimento, o consumo e o gasto público continuam caindo, restando para crescimento apenas o agronegócio. Entretanto, o agronegócio não pode compensar as outras quedas, mesmo porque representa apenas 5,5% da economia. A queda da inflação, muito valorizada por Barbato, se deve a um fator extremamente negativo, justamente o desabamento do investimento, da demanda e do gasto público. E pior do que tudo, a taxa real de juros aumentou, em lugar de cair acompanhando a queda da inflação, devido à política criminosa do Banco Central.

Empresários como Barbato, por sua ignorância ou má fé, representam aquela parcela de ricos financistas do país completamente indiferentes à maior mazela de qualquer economia, o alto desemprego. Estamos chegando à casa dos 15 milhões. É uma realidade social que estimula o ódio entre as classes. A continuar assim, chegaremos à situação da Rússia de 1917, na qual, por falta de mediação do interesse nacional por parte de uma burguesia ilustrada, um punhado de revolucionários fez a revolução social antes da revolução burguesa, por cima da burguesia anti-nacional.   

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