sábado, 23 de dezembro de 2017

Fifagate, uma sentença que encurrala o comando do futebol brasileiro

José Maria Marin condenado FIFA
José Maria Marin, condenado por corrupção em escândalo da FIFA.  (REUTERS)

BREILLER PIRES - São Paulo
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Justiça norte-americana considera José Maria Marin, ex-presidente da CBF, culpado em seis das sete denúncias por corrupção

Depois de sete semanas de julgamento, o Tribunal Federal do Brooklyn, em Nova Iorque, condenou o ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin, de 85 anos, por seis dos sete crimes pelos quais havia sido indiciado no escândalo de corrupção da FIFA. Pelo entendimento da Justiça norte-americana, que o denunciou por ter recebido aproximadamente 6,5 milhões de dólares em propinas, Marin é inocente na acusação de lavagem de dinheiro na Copa do Brasil, porém culpado por integrar organização criminosa, três delitos de lavagem de dinheiro e outros dois de fraude em subornos envolvendo a cessão dos direitos de televisão e marketing das Copas América, Libertadores e do Brasil. A pena só será conhecida após a publicação da sentença, no início de 2018, mas a juíza Pamela Chen determinou que o ex-dirigente comece a cumpri-la imediatamente em um presídio federal dos Estados Unidos. Assim, pela primeira vez na história, um mandachuva do futebol brasileiro é condenado por corrupção – ainda que fora do país.
Ex-governador biônico de São Paulo ligado à ditadura militar, José Maria Marin presidiu a CBF entre 2012 e 2015. No mesmo ano em que deixou o comando da confederação, ele foi detido na Suíça em uma operação do FBI, que desencadeou o escândalo conhecido como “Fifagate”. Desde então, o ex-cartola estava em prisão domiciliar em Nova Iorque aguardando o julgamento. Quem assumiu a presidência da CBF em seu lugar foi Marco Polo Del Nero, que era vice de Marin e também é acusado pelos mesmos crimes do antecessor. Ele deixou de viajar para jogos da seleção e compromissos internacionais por receio de ser detido no exterior. O Brasil, por exemplo, era a única seleção que não teve o presidente da federação local como representante no sorteio dos grupos da Copa do Mundo realizado no início de dezembro, na Rússia. Como não foi preso na operação norte-americana, Del Nero se livrou de ir ao banco dos réus e seguiu presidindo a confederação até ser suspenso por 90 dias, há uma semana, pelo Comitê de Ética da FIFA, que o investiga devido a suspeitas de recebimento de propina. De acordo com a defesa de Marin no julgamento, o réu era apenas figura decorativa na presidência da CBF, pois “quem realmente mandava era Marco Polo Del Nero”. A sentença pode complicar ainda mais a vida de Del Nero, já que aumenta as chances de um banimento definitivo por parte da FIFA.

Na mesma situação de Del Nero está Ricardo Teixeira, antecessor de Marin, que comandou a CBF por mais de 20 anos. Ele também foi indiciado no Fifagate e pela Justiça espanhola, que o acusa, ao lado do ex-presidente do Barcelona, Sandro Rosell, de integrar uma quadrilha que desviou cerca de 15 milhões de euros em receitas angariadas com jogos da seleção. Como a Constituição brasileira impede a extradição de cidadãos nascidos no país, tanto Del Nero quanto Teixeira não devem ir à prisão pelos desdobramentos do julgamento nos Estados Unidos. A punição a Marin, porém, fragiliza o grupo que sucedeu Teixeira e dá fôlego a um ensaio de revolução na cúpula da CBF, atualmente presidida de forma interina pelo vice Coronel Nunes. O senador Romário (Podemos), que chegou a liderar uma CPI para investigar a confederação, já manifestou o desejo de concorrer à presidência da entidade e encampa o movimento “Diretas Já na CBF”. Por sua vez, o atual comando ensaia adiar a eleição inicialmente prevista para abril de 2018, mas uma frente formada por ex-jogadores e alguns dirigentes de clubes promete pressionar a CBF por um processo de sucessão no poder mais ágil.

O julgamento encerrado nesta sexta-feira condenou ainda o ex-presidente da Conmebol, Juan Ángel Napout, por dois crimes de fraude bancária envolvendo os direitos de transmissão das Copas América e Libertadores e por associação a organização criminosa. O tribunal, entretanto, não chegou a uma conclusão a respeito da participação do ex-presidente da Federação Peruana de Futebol, Manuel Burga. O caso dele segue em análise pela Justiça norte-americana.

Com agências internacionais.

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