A Lava Jato sabe que as provas em posse de Tacla Duran podem levar seus procuradores e juízes à prisão.
Sempre que a defesa do ex-presidente Lula pediu à Lava Jato para ouvir o que o ex-advogado Rodrigo Tacla Duran tem a dizer, o pedido foi negado por Sergio Moro e, em seguida, pelo TRF4.
Num primeiro momento, logo em seguida ao vazamento à imprensa de trechos de um livro que Tacla Duran estaria escrevendo, Moro disse que a palavra de Tacla Duran não teria credibilidade por causa de seus problemas com a justiça brasileira. A explicação esbarrava na mais elementar lógica da própria Lava Jato, que, o tempo inteiro, usou e abusou de depoimentos de réus presos pela própria operação. Dezenas, quiçá centenas de pessoas foram presas, acusadas, condenadas, tiveram suas vidas destruídas, com base nesses depoimentos.
A delação premiada é, por essência, o depoimento de um criminoso confesso.
A troco que que Sergio Moro não queria ouvir Tacla Duran, que não é criminoso confesso, que ainda não foi condenado por nada, e que prometia, ao contrário de todos os outros delatores, apresentar provas do que dizia, inclusive provas originais, ao contrário do que fizeram executivos da Odebrecht, que trouxeram provas hoje comprovadamente fraudadas?
Igualmente estranho tem sido o desinteresse da grande imprensa brasileira por este personagem.
Recentemente, a própria Polícia Federal comprovou que os sistemas Drousys e Mywebday, conforme alegara Tacla Duran, foram fraudados. Mesmo assim, tanto a imprensa como a justiça lavajateira não demonstram interesse em ouvir o advogado.
Num segundo momento, diante da insistência da defesa do ex-presidente Lula de ouvir Tacla Duran, Moro alegou que não poderia convocá-lo por desconhecer seu endereço.
Tacla Duran, em “live” com o doutor Cristiano Zanin, asseverou que seu endereço era conhecido, até por constar em sua carteira de identidade, e que era impossível que Sergio Moro não soubesse. Bastaria, para isso, disse Tacla Duran, perguntar aos procuradores da Lava Jato, que o procuraram para ouvir o seu depoimento.
Ontem, o site Duplo Expresso publicou um documento bombástico, provando que o governo brasileiro, de fato, encaminhou às autoridades espanholas, em setembro de 2017, um pedido para marcar uma audiência entre Rodrigo Tacla Duran e procuradores da Lava Jato.
O documento é assinado por um alto funcionário do Ministério da Justiça do governo Temer, Isalino Antonio Giacomet Junior, cuja função é a de Coordenador Geral de Recuperação de Ativos. Isalino, pode-se dizer, é integrante da força-tarefa da Lava Jato. Tem sido ele um dos principais responsáveis pelos encaminhamentos desses pedidos, oriundos de Curitiba, de “cooperação internacional”.
Em março de 2017, o mesmo Isalino Antonio assinou artigo no Conjur, site especializado em direito, em que explica o “sucesso” da cooperação internacional da Lava Jato.
O fác-símile do documento segue abaixo:
O pedido pode ter sido feito por Sergio Moro, porque ele era a única autoridade judicial responsável por investigações envolvendo Tacla Duran. Ou então partiu do ministro responsável pela Lava Jato no STF. Ou do MPF. Em qualquer dos casos, o documento revela que a justiça brasileira e o MPF não apenas tinham o endereço de Tacla Duran como estavam interessados em ouvi-lo.
Por que desistiram?
Por que a Lava Jato pediu a Espanha para ouvir Tacla Duran, de maneira secreta, quase clandestina, e os procuradores jamais apareceram ao encontro?
Seria porque temeram que o depoimento ficasse registrado nos anais da Lava Jato, e que o conteúdo desse depoimento não interessasse justamente por revelar verdades incômodas às farsas lavajateiras?
É importante aqui uma breve cronologia. O pedido da justiça brasileira para ouvir Tacla Duran foi feito em 14 de setembro de 2017, várias semanas após reportagem, na Folha do dia 27 de agosto, dizendo que o advogado tinha informações que comprometiam um amigo de Sergio Moro. Ou seja, o motivo da desistência não foi essa matéria.
Segundo Tacla Duran, os procuradores brasileiros marcaram o encontro no dia 4 de dezembro, mas não apareceram. Provavelmente porque, após o depoimento de Tacla Duran na CPI mista, ao fim de novembro, estavam com medo.
Se queria ouvir em setembro de 2017, porque a Lava Jato agora não quer mais?
Por que nega, à defesa de Lula, que Tacla Duran seja ouvido?
Após sua participação na CPI mista, em novembro do ano passado, todas as revelações de Tacla Duran tem se confirmado. Diversas perícias feitas pela Polícia Federal atestam que os sistemas Drousys e Mywebday, da Odebrecht, foram fraudados, assim como havia dito Tacla Duran.
As provas do advogado também foram periciadas pelas mais altas autoridades espanholas, e sua autenticidade foi confirmada.
Tudo que Tacla Duran vem dizendo está se confirmando.
Por que a justiça lavajateira tem tanto medo de Tacla Duran?
Seria porque ele tem provas da corrupção dentro da Lava Jato, cometida pelos próprios procuradores, e por pessoas muito próximas ao juiz Sergio Moro?
Seria porque Tacla Duran é a prova viva de que a Lava Jato ignora, deliberadamente, provas que possam contestar suas versões?
O documento é mais uma confirmação de que os procuradores da Lava Jato, assim como Sergio Moro, tem mentido sistematicamente quando o assunto é Tacla Duran.
Diante das primeiras denúncias de Tacla Duran, o procurador Carlos Fernando de Santos Lima havia dito, em post no Facebook, que o advogado procurara a Lava Jato e fora “rechaçado”.
Isso não era verdade.
O Cafezinho publicou, em novembro do ano passado, um email dos próprios procuradores da Lava Jato, nos quais estes ofereciam um acordo a Tacla Duran. Ou seja, Tacla Duran não fora rechaçado. Ele, Tacla Duran, é que rechaçou o acordo com o MPF, por entender que estaria sendo vítima de uma extorsão.
A história revelada por Tacla Duran, como os leitores recordam, é escabrosa. Zucolotto, um advogado amigo íntimo de Sergio Moro, teria pedido US$ 5 milhões “por fora” a Tacla Duran para que o MPF encaminhasse exatamente a proposta que, dias depois, foi enviada ao advogado, reduzindo a multa inicial de US$ 15 milhões para R$ 5 milhões.
Tacla Duran printou as mensagens de Zucolotto e as entregou a CPI mista do Senado que investigava a indústria de delação no país.
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