Não se faz nada em benefício da sociedade sem incomodar
por Luis Carlos Valois
Sempre fui respeitado pelos presos. Nunca pensei que isso um dia ia me causar problemas, porque achava estar representando bem o poder judiciário junto ao seu jurisdicionado que, no caso da execução penal, são justamente os presos.
Mas um dia, a policia federal ouviu alguns presos me elogiando ao telefone, dizendo respeitarem minhas decisões. Eram, segundo eles, presos de facções. Eu nunca fiz diferenciação entre presos, porque sou juiz e acho que, como tal, não posso legitimar esse tipo de divisão, medidas duras ou de concessão de direitos não podem ter outra consideração que não seja a lei. Mas, segundo a polícia, eram presos de facção os que me elogiavam ao telefone.
Dessa “suspeita”, resultou um procedimento que levou à busca e apreensão na minha casa e no meu gabinete. Foram apreendidos meu celular e computador.
Aquilo tudo foi um terror, mas achei estranho, porque se eu fosse realmente um juiz corrupto, devia ser um corrupto muito incompetente, porque os presos que me elogiavam estavam todos presos, eu não tinha soltado nenhum.
Agora no mês de junho estaria completando dois anos esse procedimento.
Esse tempo todo, mesmo sabendo que nunca fiz nada de errado, mas representava o poder judiciário condignamente, eu sofri, tive medo de a polícia forjar algo nos meus aparelhos, tive muito medo. Um advogado me falou que um agente tentou obriga-lo a falar alguma coisa contra mim. Tive medo. Perdi “amigos”, fui ofendido nas redes sócias, cheguei ter depressão e me afastar do trabalho.
No início do ano passado, por ocasião da rebelião no COMPAJ, o secretário de segurança, que é delegado da PF, reconhecendo o respeito que eu tinha com os presos, me chamou para ajudar na negociação da rebelião, e fui, mesmo no recesso, mesmo sem estar de plantão.
Mais uma vez fui atacado, dessa vez somente pela imprensa, principalmente pelo jornal que se chama o Estado de São Paulo. Covardemente, porque coloquei minha vida em risco para ajudar a própria polícia. Foram atingidas a minha honra e a da minha família. Resultado da matéria do Estadão, dizendo que eu tinha algo com uma facção, recebi ameaças de morte.
Hoje soube que o procedimento se encerrou, que a própria polícia, mesmo de posse do meu celular, dos meus computadores, mesmo tendo entrado na minha casa e mexido em tudo, resolveu que não havia provas para me incriminar. Ela podia ter chegado a essa conclusão sem tanta violência.
Sei que nem imprensa nem o sistema costumam pedir desculpas, mas hoje é um dia feliz para mim, não de crença no sistema, mas de alívio.
Desculpem pelo texto longo. Termino agradecendo meus advogados Diego Gonçalves, André Hespanhol e Félix Valois, meu pai, e ao restante da minha família, por terem estado esse tempo todo do meu lado, e a todos vocês amigos virtuais que fizeram uma corrente muito legal de apoio.
De tudo aprendi que não se faz nada em benefício de alguém, nem muito menos da sociedade, sem incomodar! A luta continua!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
12