
Foi um vexame o primeiro discurso do novo presidente.
Antes da fala, o eleito e seus assessores, orando de mãos dadas e olhos fechados, pareciam membros de uma seita religiosa fundamentalista, e não dirigentes políticos de um Estado laico.
Não menos vulgares são os assessores e bajuladores que cercam o capitão.
Ao ver e ouvir as cenas patéticas da reza e da fala, me lembrei das frases de um conto de Tchekhov*:
“Estou cercado de vulgaridades por todos os lados […] Gente enfadonha, vazia… Não há nada mais medonho, mais ultrajante, mais deprimente do que a vulgaridade. Fugir daqui, fugir hoje mesmo, senão vou ficar louco!”
Mas não é preciso fugir. Vou ficar aqui, lendo, escrevendo, dando palestras sobre literatura, questionando democraticamente essa figura sinistra e o que ela representa.
*Tchekhov: “O professor de letras” (In: “O assassinato e outras histórias”, trad. Rubens Figueiredo, ed. Cosac & Naify, 2002)
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