Por Fernando Morais, em seu Facebook

Nonato Menezes
O Globo, fundado em 1925, foi o embrião das Organizações Globo. De lá, com seus quase cem anos de existência, a marca Globo nunca inseriu em suas pautas a defesa da Democracia. Jamais advogou pelo Estado de Direito. E pior, os interesses nacionais sequer fizeram, nem fazem, até hoje, parte de suas estratégias de poder e acumulação de riquezas. Em outras palavras, de 1925 até hoje, a Globo nunca falou pelo Brasil. Quando não se manifesta explicitamente contra os interesses da Nação, ela silencia. E assim tem sido em toda sua História.
Esta série demonstrará, ponto a ponto, como a Famíglia Marinho, uma das mais ricas do Brasil, vem desdenhando da Nação, enriquecendo mais e mais às custas do povo, em troca de seus interesses, de nações e corporações estrangeiras.
A Globo tem sido a expressão acabada da Casa Grande do Engenho Escravocrata, que não tem o escravo para esfolar, mas tem parte considerável da população para iludir e desinformar. Para isso, jamais recusou métodos criminosos para manter seu poder, notadamente em apoiar golpes de Estado, ditaduras sanguinárias, destruir reputações, proteger criminosos de colarinho branco nacionais e internacionais e sonegar impostos.
Siga a Globo e descubra como roubar uma Nação.
Nonato Menezes
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'MATARAM GETÚLIO!' — E O POVO SAI ÀS RUAS
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Enfurecidas, multidões em todo o país investem contra as forças oposicionistas
Logo após a notícia do suicídio do presidente Getúlio Vargas, multidões saem às ruas, enfurecidas, abortando qualquer hipótese de intervenção — muito embora o dispositivo militar montado para obrigar Getúlio a renunciar continuasse armado.
Populares ocuparam ruas e praças em todo o país e atacaram sedes de partidos de oposição — principalmente da UDN —, jornais alinhados ao udenismo e quartéis.
E não se esqueceram do maior inimigo do líder morto: Carlos Lacerda. Caçado nas ruas do Rio, ele se refugiou na embaixada dos Estados Unidos. Quando esta foi atacada, ele fugiu num helicóptero militar para o cruzador “Barroso”, ancorado na baía da Guanabara.
“Mataram Getúlio! Mataram Getúlio!”, gritavam os populares nas inúmeras manifestações que se seguiram à notícia do suicídio do presidente.
No Rio, São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte e capitais do Nordeste, a multidão mostrava a cara e manifestava profunda revolta com o desfecho trágico da dura campanha oposicionista contra Vargas. O Exército interviria em várias cidades.
Rio de Janeiro
No Rio, armados de paus e pedras, populares percorreram o centro da cidade destruindo material de propaganda da oposição. Só o jornal “Ultima Hora” pôde ir para as bancas, pois os manifestantes incendiaram carros e exemplares de “O Globo” e da “Tribuna de Imprensa”, que tiveram grande atuação na campanha sem trégua que levara Getúlio Vargas ao suicídio.
Mesmo com o centro da cidade ocupado por forças do Exército e da polícia, multidões apedrejaram jornais, emissoras de rádio e sedes de partidos oposicionistas. Não pouparam os prédios da embaixada dos Estados Unidos e de empresas norte-americanas, como Standart Oil, Light & Power, Companhia Telefônica e Helena Rubinstein.
Na entrada do palácio do Catete, cidadãos comuns esperavam a vez na enorme fila para ver o corpo do presidente. A visitação entraria pela madrugada e registraria cenas de desespero: desmaios, ataques de choro e crises nervosas. Calcula-se que mais de um milhão de pessoas tentaram chegar ao velório, mas apenas 67 mil conseguiram ver de perto o corpo do líder.
Na manhã do dia 25, uma enorme multidão seguiria o caixão até o aeroporto Santos Dumont, de onde um avião o levaria para São Borja, no Rio Grande do Sul. Barrada na entrada do aeroporto, a população se concentraria diante do quartel da 3ª Zona Aérea.
Só depois que o avião levantou voo, a multidão perceberia que estava em frente a um edifício da Aeronáutica, que nas semanas anteriores havia mantido o presidente sob intensa pressão, no que foi chamado de "República do Galeão".
Foi então que milhares de pessoas avançaram em direção ao quartel. Oficiais da Aeronáutica dispararam contra a população desarmada, afugentando os manifestantes, que se reagruparam no centro da cidade e, com a adesão de milhares de populares, sacudiriam a capital federal por mais um dia.
Porto Alegre
Desde as primeiras notícias sobre o suicídio do presidente Getúlio Vargas, populares se concentraram no Comitê Central Pró-Candidatura Leonel Brizola, da ala esquerda do PTB, em busca de informações. De lá, saíram às ruas carregando fotos de Getúlio e bandeiras nacionais tarjadas de preto, em sinal de luto.
Os primeiros alvos da multidão foram as sedes dos principais partidos de oposição: a UDN, a Frente Democrática, a Frente Popular, o Partido Socialista, o Partido Social Progressista (PSP) e o Partido Republicano (PR). Os prédios foram depredados e incendiados.
Furiosa, a multidão também investiria contra “O Estado do Rio Grande”, jornal ligado ao Partido Libertador (PL), as oficinas do “Diario de Notícias”, dos Diários Associados, e os prédios onde ficavam as rádios Farroupilha e Difusora.
O governador do Rio Grande do Sul, general Ernesto Dorneles, primo de Getúlio, só ao final da tarde solicitaria auxílio do Exército para conter os manifestantes. Os distúrbios na capital gaúcha terminaram com o saldo de dois mortos e dezenas de feridos.
São Paulo
Ao meio dia, os sindicatos já estavam lotados de trabalhadores que esperavam o início dos protestos que marcariam o dia do suicídio de Getúlio Vargas. Às 13 horas, começou a passeata, saindo dos sindicatos dos metalúrgicos e dos têxteis e dos diretórios do PTB em direção ao centro da cidade.
No caminho, lideranças sindicais acalmavam os manifestantes mais exaltados e evitavam depredações, sob o argumento de que isso apenas serviria aos inimigos de Getúlio. Na sede do PTB, realizaram um comício. Na Praça da Sé, outro grupo de trabalhadores participava do comício convocado pelo PCB e pelo PTB, mas foi dispersado pela polícia.
O PCB, que na véspera engrossava o coro de ataques contra Getúlio, seria pego de surpresa pela reação popular e se somaria a ela, juntando-se aos trabalhadores que se manifestavam pela cidade. Tentou, mas não conseguiu assumir o controle do movimento: os operários estavam no comando.
Na Zona Leste, onde comunistas se misturaram à multidão para levantar palavras de ordem, quem deu a voz de comando foi uma operária, que faria de sua anágua preta um estandarte de luto e gritaria, em frente à multidão: “Mataram Getúlio! Mataram Getúlio! Morreu nosso pai!”
A passeata começou, então, sem que qualquer liderança conseguisse conter a multidão entristecida.
Belo Horizonte
Na capital mineira, operários da indústria e da construção civil deixaram o trabalho e se concentraram no centro da cidade. Pouco depois, um grupo destruiu a sede do Instituto Brasil-Estados Unidos, enquanto outro invadiu o prédio do consulado norte-americano, quebrando móveis e danificando arquivos.
Manifestantes tentaram depredar o prédio do “Correio da Manhã”, jornal udenista, mas foram impedidos pela polícia. Os confrontos se sucederam durante o dia, na cidade ocupada pela Polícia do Exército, fortemente armada. O comércio fechou as portas e os bondes pararam.
De noite, as manifestações produziram sua única baixa: um vendedor ambulante foi atingido por uma bala disparada por um policial que havia sido ferido com pedradas dos manifestantes.
Nordeste
Na primeira manifestação ocorrida na Bahia, populares incendiaram o palanque onde a oposição pedira a renúncia de Vargas na semana anterior.
À noite, Salvador assistiu à “passeata do silêncio”: partindo da praça da Sé, milhares de pessoas marcharam com velas pelas principais ruas da cidade até a sede do PTB, rezando pelo presidente morto.
Em Recife, milhares de pessoas foram às ruas para obter notícias. Confirmada a morte de Getúlio, continuaram andando pela cidade ao som das rádios, que passaram a tocar marchas fúnebres. O comício marcado pelo antigetulista Clube da Lanterna foi cancelado. Tropas militares, em alerta máximo durante todo o dia, impediram agrupamentos de pessoas.
Em Natal, o comércio fechou as portas, as escolas suspenderam as aulas, e as tropas entraram em prontidão.
Em Teresina, o Exército impediu qualquer tipo de manifestação nas ruas.
Em Aracaju, ocupada por militares, manifestantes ainda tentaram depredar a casa do chefe local da UDN. Apesar de reprimidos, conseguiram destruir uma emissora de rádio.
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GETÚLIO VARGAS NA ÓTICA DO JORNAL O GLOBO (1953-1954)
O de Getúlio Vargas a presidência da república, na década de 1950, já foi intensamente explorado pela historiografia. Sendo assim, não existe a pretensão de revisitar o período de forma tradicional, pelo contrário, a partir de um corte específico, compreendido entre agosto de 1953 e agosto de 1954, e da observação de um veículo de imprensa em especial, tem-se o objetivo de apresentar novas perspectivas a respeito de um momento tão complexo da História do Brasil. A escolha do jornal O Globo como parâmetro para a análise do período proposto, leva em consideração algumas características apresentadas que o colocaram em uma posição singular frente a outros periódicos. Conhecer a trajetória do jornal O Globo, a partir da sua origem, mostra-se fundamental para compreender a narrativa construída pelo veículo, a respeito do presidente Getúlio Vargas, e como ela mostrou-se longe de uma pretensa isenção defendida pela direção do periódico como uma das suas principais virtudes. Inicialmente, O Globo, tratava-se de um periódico vespertino, tendo posteriormente se tornado matutino, fundado em vinte nove de julho de 1925. A tarefa coube a um triunvirato composto por Irineu Marinho, antigo diretor do jornal A Noite1 , Herbert Moses e Justo de Morais. Segundo os dados coletados junto ao DHBB, a proposta do jornal era renovar os padrões dominantes da imprensa carioca. O nome foi uma sugestão do jornalista Elói Pontes e foi ratificado através de concurso popular. Vale destacar as diretrizes propostas por O Globo para pautar a sua linha de atuação expressa logo em seu primeiro número. Nas palavras de Irineu Marinho, “o dever ineludível em que nos vimos de continuar a consagrar-nos, tanto quanto nos consinta a nossa reduzida capacidade, à defesa das causas populares que nos empolgaram e nos dominam há (sic) bem mais de duas décadas2 ”. Ainda nesse número inaugural, houve uma preocupação por parte dos redatores em deixar claro o posicionamento independente de O Globo em relação a qualquer tipo de interferência externa. É nesse sentido que:
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A prática nociva e as desculpas esfarrapadas
O suicídio do presidente Getúlio Vargas, em 24 de agosto de 1954, no Palácio do Catete, produziu uma onda de choques. Ela paralisou a oposição, que aumentava a pressão depois da comprovação de que o atentado contra Carlos Lacerda partira de Palácio, e projetou para o futuro uma extensa mitologia. Sobre a própria figura do presidente e também adversários. Entre eles, O GLOBO, que se opôs às políticas de seu governo.
Mas, em versões sobre os fatos daquele período, o jornal é considerado como um dos que teriam conspirado ativamente para derrubá-lo, gerando uma crise que levou o presidente ao suicídio. É falsa a acusação. Opor-se a um político não pode ser confundido com conspirar a fim de desestabilizá-lo e tirá-lo do poder.
A linha editorial do GLOBO sempre foi pelo cumprimento da Constituição, quando havia alguma em vigor, ou pela institucionalização do regime, por meio de uma constituinte, em momentos revolucionários, como em 1930 e 1945. Apoiou Vargas na Revolução de 1930, mas logo começou a cobrar a Constituinte para instituir o estado de direito. Insurgiu-se contra os comunistas em 35 e os integralistas em 38, pelo mesmo motivo. Na ditadura do Estado Novo, fundado pelo golpe de Getúlio e militares em 37, tão logo ficou livre da censura ergueu as mesmas bandeiras legalistas.
Em março de 54, a cinco meses do suicídio, Vargas enfrentava nova investida da oposição na segunda tentativa de aprovar o impeachment do presidente. Na primeira, em 53, em torno da questão da "Última Hora" e o Banco do Brasil, o pedido foi derrotado em plenário.
Na edição de 25 de março de 54, o editorial "Prestígio ao governo constitucional" se opõe à retirada do presidente do Palácio do Catete pelo Congresso.
O jornal cita o argumento de "crimes de responsabilidade", apresentado por Bilac Pinto e Aliomar Baleeiro, da UDN, na tentativa de aprovar o impedimento de Getúlio, mas não se considera convencido da oportunidade do afastamento legal do presidente. O GLOBO prefere que Vargas cumpra o mandato, até 31 de janeiro de 56, sem interrupções. Não acha compensadora para a nação a turbulência política que seria causada pelo impeachment (fac-símile na galeria de páginas). Não é uma postura de conspirador.
Vargas comete suicídio numa situação extrema, em que estava comprovado que sua guarda pessoal participara do atentado da Tonelero, contra Lacerda, no qual morrera o major da Aeronáutica Rubens Vaz. Antes de dar o tiro no peito, o presidente, reunido com o ministério, aceitara licenciar-se enquanto transcorresse o inquérito sobre a tentativa de assassinato de Lacerda e da morte do oficial. Mas os generais queriam depô-lo.
Morto Getúlio, O GLOBO defende, por coerência, a posse do vice-presidente Café Filho. E evita, também em editorial, julgar o presidente morto: "muito cedo, ainda, para estudar-se, imparcialmente, o homem e a obra...." —, para depois afirmar que ele desconhecia o atentado a Lacerda e os "delitos" de Gregório Fortunato (fac-símile na galeria de páginas)
Também isso não é típico de um conspirador.
O ataque à sede do GLOBO, no decorrer do dia 24, por grupos de militantes, não pode ser usado como argumento de que seria uma reação a supostos fins conspiratórios do jornal. Como descrito na primeira página da edição do dia 25, os agressores eram "tropas de assalto" teleguiadas, sem ligação com a "massa popular". E os ataques não foram apenas ao jornal e à rádio, nem exclusivamente no Rio (fac-símiles na galeria de páginas).
Deve-se considerar, ainda, que a Rádio Globo serviu de tribuna para Carlos Lacerda, então diretor da "Tribuna da Imprensa", criticar Getúlio e duelar com Samuel Wainer, enquanto transcorria uma CPI instalada para investigar o denunciado favorecimento do jornal do aliado de Vargas, a "Última Hora", pelo Banco do Brasil. O GLOBO informava na primeira página quando Lacerda falaria (fac-símile na galeria de páginas).
Raul Brunini, radialista da Globo, também político, aliado de Lacerda, reforçava os ataques pela rádio. Brunini criou, em 54, o programa noturno "Parlamento em ação" em que Lacerda comentava gravações dos debates do dia no Congresso.
Há grande distância, porém, entre dar espaço na Rádio Globo a opositores de Getúlio, mostrar no jornal as mazelas do governo, e conspirar para a queda do presidente.
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