segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Até que ponto as milícias evangélicas servirão a Burguesia?, por Rogério Maestri

Enquanto o empoderamento dos neopentecostais é parcial e mantido por pastores vinculados à burguesia católica, há um controle desses pastores sobre o seu “rebanho”

           Por Rogério Maestri
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Até que ponto as milícias evangélicas servirão a Burguesia?

por Rogério Maestri

O Brasil está fazendo uma experiência sociológica inédita na história do Fascismo, a criação de verdadeiras milícias evangélicas que servem de suporte ideológico as elites econômicas brasileiras sem receber nada em troca disso, ou seja, o serviço de apoio político a grande burguesia nacional está sendo feito sem a mínima reciprocidade aos evangélicos pentecostais e mesmo até contra esses, algo que num futuro próximo poderá ter conflitos sérios entre esses dois grupos totalmente antagônicos, os evangélicos das classes menos desfavorecidas e a grande burguesia que é um verdadeiro oposto as suas milícias gratuitas.

Para entender melhor onde o fascismo entra nisso recorrerei ao fascismo italiano, devido ao seu ineditismo na época e a sua sobrevivência relativamente longa.

Um dos motivos da sobrevida do fascismo italiano, que a maior parte da inteligência de esquerda e de direita faz questão de esconder por razões estratégicas, deveu-se uma parte significativa ao apoio da igreja católica ao regime. A resiliência do fascismo italiano mesmo com a pauperização da classe operária, se deveu tanto pelo carisma de Mussolini, pelas suas mentiras e ardis como pela a forte repressão do operariado, esquecem esses autores pela ação de apoio ideológico tanto dos Papas Pio XI como Pio XII como pela cúria romana. Para quem desejar ter uma ideia de quão ativo foi esse apoio, sugiro que leiam o livro do historiador norte-americano David I. Kertzer, “O PAPA E MUSSOLINI, A conexão secreta entre Pio XI e a ascensão do fascismo na Europa” que foi escrito depois que os arquivos do Vaticano de Pio XI foram abertos ao público. Quanto ao papa Pio XII ainda a sua imagem foi pior, tanto que é denominado por seus detratores como o “Papa Nazista”.

Muitos podem dizer que tanto o vaticano como outras religiões não poderiam fazer nada, entretanto o conservador e anticomunista Cardeal Clemens August von Galen, ainda em 1941, no meio da guerra fez fortes discursos contra a eutanásia de pessoas com problemas mentais e contra a poderosa Gestapo, ele foi preso mas Hitler e seus asseclas tiveram medo da revolta dos católicos se ele fosse morto, logo sobreviveu até o fim da guerra.

O poder da Igreja católica na Itália era muito superior do que na Alemanha, mesmo assim a ação dessa foi mais de apoio ao fascismo do que repúdio. Porém todo esse apoio foi negociado entre os Papas Pio XI e XII e Mussolini, e mesmo terminada a guerra inúmeros criminosos de guerra nazistas que conseguiram fugir para a América do Sul obtiveram apoio de membros do clero.

Outro caso notável foi a sobrevivência do fascismo ibérico ao fim da segunda grande guerra, principalmente pelo apoio da igreja católica que utilizavam crendices populares como dos pastorzinhos de Fátima que foram amplamente utilizados como propaganda anticomunista. Na Espanha o uso da igreja foi intenso e a ignorância de seu povo para dominar a região. Para a formação de quadros superiores utilizam instituições como a “opus dei” principalmente para substituírem a ideologia Franquista.

O que vemos que provavelmente o fator religioso não foi o mais importante nem o único para manter os regimes fascistas, entretanto ignorá-lo é simplesmente perigoso.

Voltando no caso brasileiro, o que temos é uma clivagem religiosa associada a social no apoio do atual protofascismo brasileiro, temos um apoio das classes sociais mais baixas e mais numerosas que são preponderantemente neopentecostais, enquanto não só a burguesia brasileira, mas também as classes intermediárias que são preponderantemente católicas ou mesmo agnósticas.

Enquanto o empoderamento dos neopentecostais é parcial e mantido por pastores vinculados à burguesia católica, há um controle desses pastores sobre o seu “rebanho”, entretanto o que caracteriza o protestantismo não é o controle de uma rígida estrutura eclesiástica como no catolicismo e uma permanente releitura de seus livros santos que para evangélicos de primeira geração são dirigidas as leituras pelos pastores midiatizados e com bizarrices teológicas que não se sustentam nos mesmos livros santos, logo pode se prever que a medida que surgirá uma nova geração de evangélicos esses poderão tomar a si a interpretação desses livros.

A luta entre a TV Globo e a rede Record é a ponta do iceberg, tanto uma como outra apoiam o atual governo executivo federal, entretanto a estética de uma é mais baseada em pautas identitárias enquanto a outra se transveste de uma rede evangélica, apresar de ser dominada por uma religiosidade baseada na Teologia da Prosperidade, que serve ao programa neoliberal do governo. Entretanto por baixo da convivência eventualmente pacífica nos meios religiosos a estética é totalmente diferente entre as denominações neopentecostais e da religiosidade frouxa aceita pela religião católica.
Se a luta fosse resumida as redes de TV o embate morno entre as duas estéticas das redes principais não seria importante, entretanto considerando a quantidade de rádios que existem no Brasil de denominações religiosas o problema é bem maior.

Insisto aqui na palavra estética, pois na verdade a estética em senso amplo dos fiéis das denominações neopentecostais que não das adeptas da teologia da prosperidade em relação a estética dos católicos que ainda são dominantes nos meios sociais mais abastados são completamente diferentes e incompatíveis, porém enquanto os católicos dominantes ainda são maioria não haverá problemas devido a tolerância religiosa maior, entretanto quanto maior for o empoderamento dos evangélicos, a intolerância será bem maior e os conflitos surgirão.

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