Manuela D’Ávila, Edmilson Rodrigues e Marília Arraes (Foto: Reprodução/Facebook)
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Não se pode dizer que os partidos de esquerda largam bem nesse início de campanha para as eleições municipais nas principais capitais do país. Mas também não se pode dizer que a situação é desesperadora, pois algumas candidaturas apresentam potenciais competitivos. Convém lembrar que eleições municipais se definem na antevéspera do dia da votação. Fernando Haddad saiu com 4%. Em meados de julho de 2012 tinha 7%. Patinou um bom tempo no patamar de 9% a 12% para terminar ser eleito prefeito.
As eleições municipais se definem muito em função da dinâmica municipal e da conjuntura local. Dependem bastante de se a conjuntura local é de conservação das forças atuais que governam o município ou se é de mudança. Neste último caso, tende a vencer o candidato que melhor encarna a ideia de mudança, aquele que se conecta melhor com o sentimento de mudança do eleitorado e com seus interesses. Claro, dependem também da força do partido e, principalmente, da capacidade persuasiva do candidato, da sua imagem, do seu carisma etc. Para vencer é preciso ter uma astuciosa fortuna.
Assim, as candidaturas de esquerda precisam trabalhar para ganhar terreno e chegar na antevéspera das eleições com chances de passar para o segundo turno. As melhores chances das esquerdas parecem estar em Porto Alegre, com Manuela D’Ávila (PCdoB); em Belém, com Edmilson Rodrigues (PSol), e em Recife, com Marília Arraes (PT). Essas candidaturas saem na frente nas pesquisas, mesmo com o PT ter quase rifado Marília Arraes.
Em Fortaleza, Luizianne Lins (PT), aparece em segundo lugar, mas terá uma batalha duríssima contra o deputado Capitão Wagner (PROS), apoiado por bolsonaristas e tucanos, que lidera com 11 pontos de vantagem. A partir daí podem ser apontadas candidaturas com potencial, destacando São Paulo, com Guilherme Boulos (PSol), que aparece em terceiro ou quarto lugar dependendo da pesquisa. No Rio de Janeiro, Benedita da Silva (PT) também tem potencial de crescimento: aparece em quarto lugar com 7%. Em Belo Horizonte, Áurea Carolina (PSol) aparece em terceiro, com 4%, tecnicamente empatada com o candidato que ocupa o segundo lugar. Mas ambos estão muito longe do atual prefeito Alexandre Kalil, que aparece com 55%. Em Florianópolis, o candidato da frente de esquerda, Edson Pereira (PSol) também tem potencial competitivo.
Nestas eleições, o PCdoB parece estar procurando um rumo próprio, buscando se desvencilhar do PT. Além de visar o fortalecimento do partido, os comunistas articulam uma estratégia para 2022 potencializando o nome de Flávio Dino.
Essas eleições municipais abriram uma grande ocasião para o crescimento do PSol. Guilherme Boulos tem uma chance de projetar sua liderança se fizer uma boa votação e/ou se passar para o segundo turno. O PSol, contudo, não parece muito disposto a aproveitar esta ocasião. Já desperdiçou capital político com a desistência da candidatura de Freixo no Rio de Janeiro.
Mas o PSol tem um problema maior. Parece ter a vocação de não querer liderar o povo, mas de ser líder de minorias identitárias. As cartas-programas e cartas-manifestos dos candidatos apresentam este viés, inclusive o programa inscrito no TRE pela candidatura Boulos. O partido adota uma metodologia liberal-marxista: a de que a soma das partes (dos grupos identitários) constitui o todo. O liberalismo parte do princípio de que a soma dos interesses dos indivíduos constitui o todo, o interesse da sociedade. A melhor tradição política segue o método de Aristóteles, Maquiavel, Hegel, Lenin e Gramsci – o de que o todo é prioritário, vem antes das partes e deve abrigá-las e constituí-las.
Com esta metodologia, o PSol mostra que tem vocação para ser um partido pequeno, de luta parlamentar. Não será capaz de construir um programa nacional-popular que aponte uma saída para o Brasil e um caminho de liberdade, justiça, igualdade e emancipação do povo. Com isto não se quer dizer que os movimentos e lutas identitários devam ser desprezados. Mas eles devem estar posicionados no justo lugar num programa de sentido universalizante. É este programa que deve comandar e estratégia e não a soma das identidades fragmentadas. Elas só alcançarão unidade se forem integradas e orientadas por um programa universalizante, de natureza nacional-popular.
O grande desafio do PT consiste em superar o antipetismo que graça à larga nas periferias e em setores médios. A direção burocrática do PT vem se recusando há tempo em enfrentar este problema. Pelo contrário: o agrava. Justamente o partido de esquerda que mais se aproxima de uma concepção nacional-popular vem sendo sistematicamente deprimido pela sua direção, que o mantém na defensiva.
Ao não corrigir os erros do partido, a direção do PT comete um brutal atentado contra um dos maiores patrimônios políticos do povo brasileiro, pelo significado e o alcance que o PT atingiu. Se a direção do PT continuar nesse processo de dilapidação do partido, serão necessárias décadas para que algum partido de esquerda reconstrua a força e a legitimidade popular que o PT atingiu. Serão as lutas e as energias de milhões de brasileiros que estarão sendo corroídas paulatinamente.
Os partidos de esquerda vêm apresentando desempenhos insatisfatórios em suas ações nesse contexto de governo de extrema direita. Ao invés de corrigirem seus erros, convocar lutas, semear a coragem e a combatividade, disseminam o desânimo, a passividade, a covardia.
Durante a pandemia, as esquerdas se revelaram limpinhas, branquinhas, escondidinhas. Deixaram o campo livre para que Bolsonaro ocupasse inteiramente o cenário político. O resultado está aí para quem quiser ver. Em que pese o resultado adverso, as esquerdas continuam vendendo a ilusão de um amanhã que é um falso brilhante que nunca chega. Se recusarem corrigir seus erros e caem na lamúria da autocomplacência, colocando a culpa dos fracassos nos outros.
Ao não apresentarem caminhos promissores, ao não liderarem lutas que apresentem um horizonte de esperanças, os partidos de esquerda estão perdendo a fidelidade de seus eleitores, de suas bases. Há um nítido desânimo, um nítido cansaço, de muitos ativistas de esquerda com seus respectivos líderes e partidos. A apatia dos partidos de esquerda produz o malefício de empurrar ativistas e militantes de movimentos para partidos mais ao centro. Tornou-se urgente aumentar o tom da crítica e da cobrança aos partidos de esquerda.
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