segunda-feira, 27 de junho de 2022

Em busca da felicidade


Por CRISTIANA AGUIAR

No início dos anos 2000 Will Smith foi protagonista do filme À Procura da Felicidade. Resumidamente a história relata a luta de um pai separado, desempregado e sem reservas financeiras que reúne todas as suas forças para ficar com seu filho, aguardando e buscando muito uma oportunidade para sustentar a si mesmo e ao pequeno Christopher.

A perseverança do personagem e o amor para com o seu filho dão o tom da narrativa.
Será que eles estavam em busca da felicidade? Ou será que é possível dizer que já eram felizes e juntos conseguiram viver em meio ao caos?

Como se constrói a felicidade?
Interessante pensar que a ideia de se sacrificar hoje para ser feliz amanhã é de certa forma muito bem aceita e praticada por grande parte das pessoas, ainda que em uma espécie de inconsciente coletivo.

Acreditamos que vale a pena padecer hoje e viver melhor amanhã. Mas será que precisa ser assim? Será que felicidade é uma espécie de poupança, abrimos mão hoje para ter mais no futuro?
Pesquisadores da ciência da felicidade afirmam que não.

Ao contrário do que imaginamos, pessoas felizes têm chances maiores de construir um futuro feliz.

De acordo com 225 estudos analisados pelos pesquisadores da ciência da felicidade Sonja Lyubomirsky, Edward Francis Diener e Laura King, pessoas felizes apresentam mais chances de ter ótimos relacionamentos, melhores desempenhos no trabalho, ganhar mais dinheiro, ter mais criatividade, saúde, otimismo, energia e altruísmo.

Na linha do pensamento que o futuro se constrói agora, o sucesso em vários aspectos da vida flui melhor quando é construído em uma vivência feliz, ou seja, o seu sucesso no futuro depende da sua felicidade hoje.

Lembrando que felicidade e alegria são coisas distintas, é possível ser uma pessoa feliz, ainda que não se esteja passando por um momento alegre ou de grande entusiasmo.

Mas afinal de contas, felicidade, o que é?
Para responder essa pergunta, ainda que de forma um tanto simplista, acho melhor começar descrevendo o que não é felicidade de acordo com a ciência.

Felicidade não é uma divindade a ser venerada.

Vejo muitas pessoas falarem: “se te faz feliz, faça”, e o final da história pode ser desastroso. Não é prudente, sábio ou maduro fazer tudo que me faz feliz.

Felicidade não é acúmulo de coisas ou dinheiro. Richard Ryan da Universidade de Rochester e Tim Kasser, autor do livro The High Price of Materialism (o alto preço do materialismo), concluíram que quanto mais as pessoas colocam o sucesso financeiro como valor central do propósito de suas vidas, mas estão propensas a sofrer de depressão e ansiedade. Além disso, ambos concluíram que há também uma correlação entre essa busca e escolhas fortemente guiadas pelo que terceiros esperam que essas pessoas façam. É quase um "perder a alma".

A Ciência da Felicidade fala da esteira hedonista. Ao supervalorizar dinheiro, roupas, carros, joias, a pessoa acaba se adaptando cada vez mais rápido às novas conquistas e precisando de cada vez mais para alcançar os mesmos níveis de felicidade.

Estudos nesse campo também revelam que experiências com pessoas queridas produzem sensações de felicidade mais duradouras do que compras.

Felicidade pode ser comparada à integridade. Integridade é um alinhamento entre o que se pensa, se sente e se faz.

A felicidade não é definida da mesma forma para todas as pessoas.

No século XVIII o filósofo iluminista Emmanuel Kant, na obra “Crítica da razão prática” definiu a felicidade como “a condição do ser racional no mundo, para quem, ao longo da vida, tudo acontece de acordo com o seu desejo e vontade”.

Nos evangelhos Jesus chamou de felizes ou bem-aventurados os que choram e os que têm fome e sede de justiça, pois serão fartos e consolados.

Para o sábio Salomão em um de seus provérbios, a casa do luto era mais feliz do que a casa onde havia festa, dando um sentido de que a dor é uma mestra insubstituível, que nos faz crescer e consequentemente nos torna mais felizes.

E quanto a nós? São muitos os questionamentos, o que no tempo em que vivemos, referem-se a uma forma inteligente de viver a vida. Hoje as perguntas são mais relevantes em certo sentido do que as respostas, uma vez que a era tecnológica nos permite obter respostas para praticamente qualquer questão com apenas um click.

É preciso entender que paradigmas, estereótipos, vieses, mindsets, influenciam nosso estado de felicidade. É essencial construir e alimentar sentimentos felizes. É possível ser feliz, ainda que circunstâncias ao nosso redor permaneçam desagradáveis.

Felicidade é um estado de espírito, é um caminho a ser percorrido, é um verbo a ser conjugado, é uma construção de pequeno, médio e longo prazo...

Não existe receita, mas existem escolhas, não é preciso preocupação com distâncias, é preciso foco no caminho.

O mais difícil mesmo é convencer nosso cérebro a algumas vezes mudar de ideia, quando conseguimos isso, podemos perceber que a felicidade está impressionantemente perto de nós!

Cristiana Aguiar. Economista, CEO da Jeito Certo Consultoria, cristiana@jeitocertoconsultoria.com.br

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