domingo, 29 de outubro de 2023

Palmeiras e Corinthians em defesa do comunismo

Foto do histórico Jogo Vermelho entre Palmeiras e Corinthians.

ARTUR DE ABREU MAGALHÃES
jacobinlat.com/
TRADUÇÃO: FLORENCIA OROZ

Em outubro de 1945, dois rivais históricos no Brasil se uniram por uma causa comum: a causa do comunismo. Palmeiras e Corinthians organizaram uma partida de futebol conhecida como “Jogo Vermelho” com o objetivo de arrecadar fundos para o Partido Comunista após sua saída da ilegalidade imposta pela ditadura de Getúlio Vargas.

Em 1945, o Brasil passava por um período de turbulência política após a recente queda do Estado Novo de Getúlio Vargas e a restauração do regime democrático. En este contexto tuvo lugar uno de los acontecimientos más insólitos de la historia del fútbol brasileño: Corinthians y Palmeiras, dos de los mayores rivales del deporte nacional, se unieron bajo una bandera común y organizaron un evento multitudinario con el objetivo de recaudar fondos para el Partido Comunista.

Durante o Estado Novo, o Partido Comunista passou anos fora da lei e muitos dos seus membros foram perseguidos, presos, torturados e assassinados. Esse foi um período sombrio para os militantes comunistas no Brasil, pois além da violência física, o país foi bombardeado durante décadas por propaganda anticomunista que visava desmobilizar a classe trabalhadora.

Uma das principais características do governo Vargas foi a organização dos sindicatos como aparelhos de Estado. Ou seja, embora os sindicatos ganhassem muita força naquela época, eram controlados por intervenientes do governo federal. Para contrariar esta situação, surgiu o Movimento de Unificação dos Trabalhadores (MUT), uma organização com reivindicações de esquerda concebida como um meio de participar nas eleições sindicais e servir como base sindical do Partido Comunista.

Em 1945, o partido precisava arrecadar 750 mil cruzeiros antes de dezembro, quando ocorreriam as eleições federais. Assim, o MUT começou a organizar ações para arrecadar fundos para que o comunismo recentemente legalizado pudesse lutar a nível institucional. Com o objetivo de ajudar na reorganização do partido após o fim da ditadura e na preparação para as próximas eleições, surgiu a ideia de reunir dois dos clubes mais populares do país, Corinthians e Palmeiras, em uma partida beneficente cuja renda seria revertida para a campanha.

A partida, que ficou para a história como Jogo Vermelho , foi marcada para 13 de outubro de 1945, no estádio do Pacaembú, em São Paulo. O evento, que além da partida de futebol incluiu apresentações artísticas, festas, exposições de arte e jantares beneficentes, foi um sucesso financeiro e arrecadou quase 115 mil cruzeiros, valor crucial para que a partida cumprisse seu objetivo.

Aquela partida histórica terminou com vitória do Palmeiras por 3 a 1, em um clássico muito disputado e até violento, segundo os jornais da época. Além do campo de jogo, o evento foi fundamental para reconstruir a imagem do Partido Comunista entre o povo brasileiro, que passou os últimos quinze anos sob intensa propaganda anticomunista. Essa iniciativa, assim como o movimento que a promoveu, ajudou o partido a eleger Luis Carlos Prestes senador pelo Rio de Janeiro e a obter outros quatorze deputados federais, incluindo Carlos Marighella e Jorge Amado.

No médio prazo, porém, não conseguiu reverter o destino da política institucional do Partido Comunista Brasileiro. Apenas alguns anos depois, em 1947, Eurico Gaspar Dutra se tornaria presidente da República e o Partido Comunista seria novamente proscrito e todos os seus representantes eleitos desqualificados. Apesar disso, aquela partida ficou para a história como a única vez que estes dois grandes rivais se uniram pela mesma causa. Uma causa que, aliás, no contexto da época, era revolucionária.


ARTUR DE ABREU MAGALHÃES

Jornalista esportivo, escreve para o médium Peleja (@peleja no Twitter).

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