segunda-feira, 29 de abril de 2024

A Globo e a ciência da Selic, por Luís Nassif



Lucro financeiro da Globo = custo financeiro do Tesouro + custo financeiro da grande empresa + custo financeiro da pequena empresa.



Quem lê as análises do mercado, dos jornalistas de economia, a verborragia do Copom (Comitê de Política Monetária) julga haver ciência por trás do palavrório técnico. Se sobe um pouco o preço do alimento, se o FED ameça não baixar mais as taxas de juros, tudo é motivo para reduzir o ritmo de queda da taxa Selic – que continua sendo uma das mais altas taxas reais de juros do mundo.

Na verdade, a ciência da abelha, da aranha e do Copom, muita gente desconhece (a menção à abelha e à aranha é uma homenagem a Luiz Vieira)

A conta é muito mais simples. E vamos demonstrá-la montando algumas hipóteses em torno de um caso concreto: o caixa de R$ 15 bilhões das Organizações Globo, o veículo âncora das altas taxas de juros praticadas pelo Banco Central.

Vamos analisar o impacto da Selic sobre quatro setores:

Os lucros da Globo.
O custo do Tesouro
O custo do crédito para grandes empresas.
O custo do crédito para pequenas empresas.

Numa explicação aritmética simples:

Lucro financeiro da Globo = custo financeiro do Tesouro + custo financeiro da grande empresa + custo financeiro da pequena empresa.

Vamos montar nossa simulação partindo das seguintes variáveis:Uma taxa Selic inicial de 13% ao ano.
Várias hipóteses de queda da Selic.
Um ganho financeiro da Globo de 1% acima da Selic.
Custo financeiro do crédito para grandes empresas de 5% acima da Selic.
Custo financeiro do crédito para pequena empresa de 15% acima da Selic.
Trabalhando sempre em cima de um volume de recursos de R$ 15 bilhões.

Aqui, uma tabela em cima da hipótese de queda de 0,5% da Selic em cada reunião do Copom.


Mesmo com a queda, o custo para a dívida pública seria de 10,6% no ano. O ganho da Globo seria de 11,59%, caso conseguisse 1% acima da Selic. Já o custo do crédito para a grande empresa seria de 15,63% e o das pequenas, de 25,69%. Nos Estados Unidos, o custo do crédito é 5,5% ao ano.

Aqui, uma síntese da tabela, de acordo com várias hipóteses de queda da Selic.


Ou seja, se a Selic ficar parada, o ganho anual da Globo será de R$ 1,9 bilhão. Se cair 0,50%, o ganho cai para R$ 1,7 bilhão, e a Globo perde R$ 194 milhões em receita financeira. A cada 0,5 ponto de queda da Selic, a Globo perde R$ 6 milhões por mês. Se a queda persistir em todas as reuniões do Copom, sua queda do ganho será de R$ 291 milhões. Se o ritmo de queda cair para 0,25%, a queda do ganho será de R$ 94 milhões.

Já a compensação das perdas do Estado será na forma de redução dos investimentos, congelamento dos salários, deterioração da máquina pública, redução dos gastos sociais.

Por outro lado, com a Selic caindo 05 ponto a cada reunião do Copom, os juros pagos pelas grandes empresas diminuem R$ 302 milhões; os juros das pequenas empresas caem R$ 328 milhões e o do Estado cai R$ 289 milhões.

Estenda esses cálculos para o universo total dos rentistas, das empresas e do Estado e entenderá a ciência da Selic. Nos exemplos, não mostramos a espoliação do crediário porque poderiam achar que é fantasia de terraplanista.

Aqui a tabela, supondo a Selic caindo 0,5% ponto a cada reunião do Copom. Ou seja, para um voluma de R$ 15 bi emprestados para as pequenas empresas, os bancos recebem de volta o que foi emprestado e mais R$ 16,3 bilhões de juros.


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