sábado, 27 de abril de 2024

Mudar a estratégia para derrotar o bolsonarismo

Fontes: Esquerda Online (Brasil) [Imagem: Lula apoiado pela população após discurso diante do Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo (São Paulo). Créditos: Ricardo Stuckert]

Por Editorial 'Esquerda Online'
rebelion.org/

A volta da extrema direita às ruas e a queda de popularidade do governo Lula são um alerta. É necessário reorientar a nossa linha política.

A situação no país apresenta grandes desafios. Apesar do crescente cerco do STF (Supremo Tribunal Federal) em torno de Bolsonaro e dos demais golpistas, a extrema direita mantém enorme força política e volta a ocupar as ruas. Embora os indicadores económicos sejam positivos, com o crescimento do PIB e a queda do desemprego, a popularidade de Lula está a diminuir, revelando uma crescente insatisfação popular. Embora a esquerda tenha vencido as eleições presidenciais, a dificuldade em mobilizar a sociedade dentro do seu próprio campo é inegável. Embora o projeto de mudança progressista tenha vencido a votação, existem muitos obstáculos ao progresso num Congresso dominado pelo centrão (uma nebulosa de partidos de direita e extrema direita) e face às limitações impostas pelo quadro fiscal.

O fato é que a receita adotada até agora pelo governo ficou aquém e é incapaz de reduzir a influência da extrema direita na sociedade e de aumentar os índices de aprovação de Lula. O perigo do bolsonarismo continua vivo, mesmo com a derrota do golpe de 8 de janeiro e os processos judiciais em curso. Fortalecido pelo ato paulista de fevereiro, Bolsonaro convocou há poucos dias uma manifestação golpista no Rio de Janeiro para o dia 21 de abril.

O governo, refém no Congresso da chantagem de Artur Lira (Lira fez campanha para Bolsonaro e confronta o executivo sobre a aprovação do orçamento, e questiona o poder de iniciativa do governo federal), aposta na gestão econômica conservadora de Fernando Haddad, que que o mercado tanto gosta, e pela atuação firme de Alexandre de Moraes (presidente do Tribunal Supremo Eleitoral) contra Bolsonaro e os golpistas. Mas tudo isto não é suficiente. Cabe destacar que a deterioração da aprovação governamental, se não for revertida a tempo, poderá afetar negativamente a esquerda na batalha contra o bolsonarismo nas eleições municipais. Ciente da situação complicada, o governo está a debater internamente como corrigir o rumo.

Que rumo tomar?

Qual deverá ser o novo rumo do governo Lula? Há setores da esquerda que sustentam que, diante das adversidades, é necessário aumentar as concessões ao centro, ao mercado financeiro, aos militares e ao agronegócio.

Esta avaliação é a base para algumas políticas do governo, que nada fazem para aumentar a popularidade do governo ou o necessário confronto com Bolsonaro. Por exemplo, o ajuste fiscal, a proposta de reajuste zero para os servidores públicos, o silêncio de Lula no 60º aniversário do golpe de 64 e a promoção de colaborações público-privadas, que se traduzem em privatizações, vão contra o programa daquele em que Lula foi eleito. Esta estratégia de concessões permanentes à direita desconsidera a importância da construção de mobilizações em defesa de medidas populares, contra as quais o centro Lira e a extrema direita atuam sistematicamente no Congresso.

Pensamos de forma diferente. Dados os perigos da situação, acreditamos que o governo Lula precisa dar uma guinada na direção oposta, uma nova estratégia. A primeira e mais importante linha de mudança deve ser a reorientação da política económica, sufocada pelo quadro fiscal.

É preciso oferecer melhorias concretas e sólidas ao povo trabalhador, para recuperar o apoio popular e avançar com base em Bolsonaro. Precisamos de mais medidas como o programa Pé de Meia (estímulo financeiro para prevenir o abandono escolar), anunciado esta semana, que beneficiará estudantes pobres do ensino médio.

No dia 1º de maio, Lula poderá anunciar novo aumento real do salário mínimo, reajuste do Bolsa Família, aumento salarial para servidores em greve e isenção de Imposto de Renda para quem ganha até 5 mil reais. Um plano eficaz para baixar o preço dos produtos alimentares básicos também seria muito importante. Estas medidas seriam muito bem recebidas pela classe trabalhadora, especialmente aqueles com rendimentos mais baixos.

O segundo aspecto da mudança tem a ver com a adoção pelo governo Lula de uma linha ativa na promoção de campanhas de conscientização política e ideológica entre a população. Trata-se, entre outras coisas, de promover a mobilização popular para apoiar a aprovação de medidas sociais e democráticas progressistas. Um dos desafios na luta pela conscientização das massas é, por exemplo, manter e ampliar a maioria social favorável à prisão de Bolsonaro e dos generais envolvidos na tentativa de golpe. Sem anistia!

Mobilizar o povo contra as ideias do bolsonarismo

Enquanto Bolsonaro trabalha para manter sua base social intacta, coesa e mobilizada, o governo permanece completamente distante da disputa nas ruas. Atua apenas a nível institucional, o que acaba por reforçar a desmobilização que reina na esquerda e a falta de coesão política da sua base de apoio social. Até o momento, Lula não convocou nenhuma manifestação popular. Além disso, enquanto a rede mediática de Bolsonaro se expande e é cada vez mais eficaz, o governo parece tímido no seu compromisso político e ideológico, com uma política de comunicação fraca e obsoleta.

O Brasil de hoje é muito diferente do período dos primeiros governos do PT, quando a oposição era liderada por um PSDB fraco. Existe agora uma extrema direita influente e fanática, com uma forte base social e ligações internacionais. Esta força fascista mobiliza a sua base social em torno de bandeiras políticas e ideológicas bem definidas e organiza-a diariamente nas redes sociais, nas igrejas evangélicas e nos quartéis. O bolsonarismo atua no plano institucional e eleitoral, mas não renuncia à disputa ideológica na sociedade e à luta direta nas ruas. Portanto, é um grave erro acreditar que somente com pequenas melhorias econômicas e a atuação do STF será possível derrotar a extrema direita e garantir a reeleição de Lula. É necessária uma viragem à esquerda, com medidas concretas dirigidas aos trabalhadores, uma intensa luta ideológica e a construção da mobilização popular.




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