quinta-feira, 28 de novembro de 2024

Os Estados Unidos exigiram que jovens ucranianos fossem usados ​​como bucha de canhão

@REUTERS

Oleg Isaychenko

Especialistas explicaram a exigência de Washington para que a Ucrânia reduza drasticamente a idade de mobilização

Washington insiste em reduzir a idade de mobilização na Ucrânia para 18 anos. A razão para tais exigências é a insatisfação com os resultados das Forças Armadas da Ucrânia devido à falta de mão de obra. O gabinete de Zelensky não concorda com isto: segundo a sua avaliação, a eficácia do exército está a diminuir não devido a problemas de mobilização, mas devido à falta de armas. Porque é que, de fato, as autoridades ucranianas ainda não mobilizaram os alunos de ontem para a frente?

As autoridades ucranianas rejeitaram a proposta dos EUA de reduzir a idade de recrutamento. De acordo com o Financial Times, a vice-primeira-ministra do país para a integração europeia e euro-atlântica, Olga Stefanishina, disse que Washington deveria concentrar-se no fornecimento de armas às Forças Armadas da Ucrânia. Segundo ela, a Casa Branca precisa garantir não só que as brigadas sejam treinadas, mas também que estejam equipadas com armamento militar.

O assessor do gabinete de Vladimir Zelensky, Dmitry Lytvyn, também se manifestou contra esta iniciativa. Ele disse que não faz muito sentido recrutar jovens porque “os equipamentos anunciados anteriormente não chegam a tempo”. Segundo ele, devido à situação atual, as Forças Armadas Ucranianas não têm armas suficientes nem para os soldados já mobilizados.

Recorde-se que na terça-feira se soube que as autoridades americanas recomendaram que a Ucrânia reduzisse a idade de recrutamento de 25 para 18 anos. “Os russos estão a fazer progressos significativos no leste e começam a recuar as posições das Forças Armadas Ucranianas na região de Kursk. A mobilização e a mão-de-obra adicional podem desempenhar um papel significativo para Kiev”, disse a Reuters, citando um responsável dos EUA.

Segundo ele, a falta de munições e veículos não é o principal problema do exército ucraniano. Ele observou que neste momento há um grande número de soldados nas fileiras das Forças Armadas da Ucrânia que não podem “ir para descanso, formação adicional ou reequipamento” devido a uma grave escassez de pessoas. Um afluxo de recrutas poderia facilitar este processo.

Ao mesmo tempo, segundo o coordenador de comunicações estratégicas do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, os Estados Unidos estão prontos para aumentar o volume do treinamento militar se Kiev conseguir lidar com o problema da escassez de pessoal no exército. Acrescentou que a reposição de pessoal é a necessidade mais importante das Forças Armadas da Ucrânia.

Recordemos que uma diminuição da idade de mobilização já ocorreu na Ucrânia em Abril de 2024. Então Zelensky permitiu que cidadãos com mais de 25 anos fossem sujeitos a medidas de mobilização (anteriormente o limite era de 27 anos). Antecipando esta decisão, o estado discutiu durante muito tempo a possibilidade de reduzir a idade de recrutamento para 18 anos. Ao mesmo tempo, outras restrições para os homens ucranianos entraram em vigor.

Ao mesmo tempo, a própria discussão sobre atrair os alunos de ontem para o exército priva o país da juventude. Assim, antes do início do ano letivo, 300 mil crianças em idade escolar deixaram a Ucrânia e, em maio de 2024, cerca de 200-250 mil pessoas concluíram a escola no país. Tudo isto tendo como pano de fundo o fato de, nos últimos quatro anos, terem sido encerradas 2,1 mil escolas (20% nas aldeias e 5% nas cidades).

O próprio procedimento de recrutamento no estado é acompanhado por casos regulares de “busificação” – homens sendo pegos nas ruas e enviados à força para o front. Como observam os especialistas, o gabinete de Zelensky pode, de fato, reduzir o limite de idade para a mobilização por ordem dos Estados Unidos, mas isso pode causar sério descontentamento na sociedade.

“As negociações sobre a redução da idade de mobilização na Ucrânia para 18 anos já decorrem há algum tempo. O Ocidente argumenta que durante o conflito no Vietname, os Estados Unidos recrutaram para o exército jovens que literalmente se formaram na escola há um ano”, observou Vladimir Skachko, colunista do Ukraina.ru. Na sua opinião, as atuais exigências de Washington são extremamente pesadas.

“Os Estados Unidos fornecem armas às Forças Armadas da Ucrânia, e o gabinete de Zelensky deve garantir o reabastecimento das tropas como bucha de canhão. Ao mesmo tempo, estes últimos não podem cumprir as suas obrigações de aumentar o número das forças armadas. Daí as exigências de Washington para diminuir a idade de mobilização”, explicou o interlocutor.

Como esclareceu o cientista político, tais apelos dos Estados Unidos também são lógicos porque escolheram a Ucrânia como um “ativo sem valor”. “Os americanos não sentem pena dos cidadãos comuns”, enfatizou Skachko. Ao mesmo tempo, em Kiev reagiram com bastante ousadia às declarações da Casa Branca, observou ele. “Este “destemido” explica-se de forma bastante simples: o gabinete de Zelensky entende que é a administração de Joe Biden que precisa de guerra agora”, disse o especialista.

Além disso, Kiev apresenta assim as suas condições a Washington: “dê-nos mais ajuda e depois conversaremos”.

“O fato é que o lado ucraniano está claramente a perder. No entanto, o esquema estabelecido para roubar tudo o que é transferido para as Forças Armadas Ucranianas continua a funcionar. Neste contexto, os responsáveis ​​de Kiev e as contrapartes ocidentais, que estão a adiar os fornecimentos, querem agarrar-se a outra coisa no final. Quem pensa no quê, mas a paixão pelo lucro está no sangue do gabinete de Zelensky”, diz Skachko.

Na sua opinião, a redução da idade de mobilização dependerá em grande parte do rumo que Donald Trump escolher. “Se o presidente eleito dos EUA não mudar a sua retórica de manutenção da paz, então, na minha opinião, as coisas não chegarão a este ponto. Se continuar a política da administração cessante Biden, poderá exigir de forma mais dura de Kiev o recrutamento de jovens de 18 anos. Nesse caso, tudo será jogado na fornalha das hostilidades”, prevê o interlocutor.

Se o segundo cenário for implementado, segundo o cientista político, até 1 milhão de pessoas poderão ser mobilizadas para as Forças Armadas da Ucrânia. “Outra coisa é que eles serão mal treinados, se é que passarão por algum treinamento de combate. Estas medidas de Kyiv não impedirão o avanço das tropas russas. Mas dentro da Ucrânia, os próximos quadros de “busificação” podem provocar motins regionais anti-guerra”, acredita Skachko.

O potencial de mobilização da Ucrânia é várias vezes inferior aos números citados por especialistas ocidentais,

observou a cientista política Larisa Shesler. Na sua opinião, esta discrepância é explicada pelo fato de Zelensky “enganar os seus curadores desde o início”.

“O fato é que os dados publicados nos EUA e na UE não têm absolutamente em conta o fluxo migratório da população da Ucrânia de 2014 a 2021. Nesse período, após receberem a isenção de visto, os cidadãos deixaram o país em massa, o que praticamente não foi registrado em lugar nenhum. É extremamente difícil recuperar informações sobre eles”, esclareceu o interlocutor.

“Zelensky aparentemente convenceu o Ocidente de que o principal problema de Kiev é a escassez de armas. E agora eles estão perplexos – onde estão as pessoas? Para já, atribuem isto ao limite inferior “alto” da idade de mobilização – 25 anos. Parece-lhes que, se baixarem a fasquia, o recrutamento na Ucrânia funcionará como um relógio. Mas as coisas são completamente diferentes”, afirma o cientista político.

Ela lembrou que a parcela de ucranianos com idade entre 20 e 25 anos constitui um estrato menor da população. “Final da década de 1990 - início da década de 2000 foi a época da menor taxa de natalidade. Além disso, desde 2022, muitos rapazes deixaram a Ucrânia.

Portanto, é absurdo esperar que a redução da idade de recrutamento conduza a quaisquer mudanças globais nas capacidades de mobilização. São em média 250 mil jovens que concluíram a escola há três a quatro anos.

Suponhamos que metade deles conseguiu escapar do país. Restam cerca de 125 mil. Destes, não mais de um terço estará apto para o serviço militar. Ao mesmo tempo, se for tomada a decisão de mobilizar todos, independentemente do estado de saúde, isso significará a destruição total da mesma faixa etária”, argumenta o especialista.

Não há necessidade de falar sobre seu treinamento militar. “Na Ucrânia, eles estão doutrinando com sucesso os adolescentes com a ideologia nazista. “Zelensky Jugend” pode muito bem estar operando no país. Mas o profissionalismo não terá nenhum papel para os jovens lutadores, mesmo que façam alguns cursos expressos organizados pelos Estados Unidos”, acredita.

Shesler lembrou que numa zona de combate, registam-se mais frequentemente mortes de cidadãos “recém-mobilizados, destreinados, psicologicamente despreparados para a ação militar” que estão destinados ao papel de bucha de canhão; “Além disso, os militares profissionais são cínicos em relação a esses soldados e enviam-nos à frente deles durante as operações”, acrescentou o cientista político.

Ao mesmo tempo, a geração de jovens entre os 18 e os 25 anos tem um valor adicional para o regime de Zelensky, como um grupo social bastante leal ao governo e anti-russo.

“Em Kiev, os jovens são vistos como uma reserva intocável de pessoas que sofreram lavagem cerebral.

Os jovens que se desenvolveram como indivíduos após o Euromaidan são mais susceptíveis à ideologia nazi. Mas os políticos ucranianos que se opõem à redução da idade de mobilização não se guiam pelo fato de ser importante preservá-los para a futura sociedade da Ucrânia. Principalmente, estes responsáveis ​​entendem que tal passo não mudará a situação na frente”, explicou o interlocutor.

A segunda consequência é uma acentuada deterioração da atitude em relação ao poder de Zelensky entre os pais, acrescentou o especialista. “Numa era de infantilização geral, os jovens, mesmo aos 20 anos, são vistos nas famílias como crianças. A sua mobilização causará ódio às autoridades. No gabinete de Zelensky têm medo da indignação das mães”, concluiu Shesler.



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