quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Honda + Nissan e a centralização do capital


P. Andrés G.R. [*]
resistir.info/

Uma das acusações mais frequentes às ideias de Marx é a de que estão desatualizadas, mas as secções de negócios dos jornais diários, com as suas frequentes notícias sobre fusões e aquisições de empresas, estão determinadas a desmentir isso.

A este respeito, o último anúncio é a fusão da Honda e da Nissan (e possivelmente da Mitsubishi) até 2025. A nova empresa seria o terceiro maior construtor automóvel do mundo, com 3,65 milhões de unidades, atrás apenas da Volkswagen (4,34) e da Toyota (5,16). Além disso, a Nissan, que atravessa uma má situação depois de ter despedido mais de 9000 pessoas (em 2021 encerrou a sua fábrica de Barcelona) com uma redução progressiva dos lucros, aceita que a Honda mantenha a maior parte da direção. Um dos argumentos para esta mudança de negócio é a concorrência da indústria automóvel chinesa, que está mais bem posicionada no sector dos veículos eléctricos, que deverá dominar nos próximos anos.

Este facto reúne vários dos elementos previstos por Marx na sua investigação sobre a acumulação de capital (capítulo 23 da sua obra O Capital): mercado mundial, luta e concorrência entre capitalistas, centralização do capital (fusão), aumento da dimensão das unidades de produção capitalistas, mudança de tecnologia. Vejamos, em traços gerais, a sua relação.

A acumulação de capital, ou seja, o aumento do capital, sob a forma de reunião de diferentes capitais (como no caso da Honda e da Nissan acima mencionado) para formar um novo capital individual, confere-lhe novos poderes.

Por um lado, sendo um capital maior, aproveita melhor a elasticidade da força de trabalho (mais horas de trabalho, maior intensidade de trabalho, recurso a formas mais simples de força de trabalho, por exemplo), bem como obtém maiores poupanças através da utilização de mais meios de produção. Ambos os aspectos resultam em maior produtividade e redução de custos devido à maior dimensão do novo capital.

Por outro lado, se o capital centralizado operar com uma alteração do rácio entre meios de produção e força de trabalho, de modo a que o processo de produção resultante seja mais produtivo, a diminuição do custo de produção será acentuada.

Assim, o novo aumento de capital resultante da união dos capitais já existentes, a expropriação dos capitalistas uns dos outros, como diria Marx, resultará numa maior produtividade e numa diminuição do custo de produção das mercadorias. Esta será a base para a descida dos preços e o consequente alargamento do mercado. O resultado de ambos os fenómenos é um aumento dos lucros do capital centralizado.

Ao mesmo tempo, a luta entre os capitais no mercado intensifica-se, o que faz com que alguns concorrentes percam compradores e sofram um declínio nos lucros (caso da Nissan mais acima).

Marx concluirá que, como regra geral e como lei inexorável, os capitais mais pequenos são deslocados para outras esferas e, se não o fizerem, insistindo em competir com os grandes, acabam arruinados ou nas mãos dos grandes (veja-se o caso da Nissan).

25/Dezembro/2024

Ver também:

Compreender a economia, de Jacques Gouverneur
[*] Economista, espanhol.
Este artigo encontra-se em resistir.info



 

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