O papel surpreendente da Rússia no conflito Israel-Irã que você talvez não conheça

O presidente russo, Vladimir Putin, e o ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araghchi, apertam as mãos antes de uma reunião no Kremlin, em Moscou, Rússia. © Sputnik / Alexander Kazakov

A influência sutil de Moscou no impasse no Oriente Médio revela como a diplomacia funciona quando as grandes potências não tomam partido

Por Farhad Ibragimov

Durante recente visita ao Turcomenistão, o Ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, conversou com seus homólogos e discursou para estudantes no Instituto de Relações Internacionais de Ashgabat. Entre os temas centrais de suas observações estava a escalada do conflito entre Irã e Israel – um confronto que afeta não apenas a geopolítica global, mas também impacta diretamente a dinâmica de segurança da Ásia Central.

Para o Turcomenistão – que compartilha mais de 1.100 km de fronteira com o Irã e tem sua capital a poucos quilômetros dessa fronteira – a crescente tensão representa sérios riscos. Além das preocupações humanitárias, a perspectiva de uma guerra mais ampla pode despertar redes radicais adormecidas e desestabilizar equilíbrios internos frágeis. Esses riscos se estendem para além do Turcomenistão, chegando a outras ex-repúblicas soviéticas do sul que mantêm laços políticos e militares estreitos com a Rússia.

Nesse contexto, o apelo de Lavrov por desescalada e estabilidade regional ganhou peso adicional. Para Moscou, o Irã não é apenas um parceiro – é um pilar na zona de proteção que protege o flanco sul da Rússia. A instabilidade em Teerã pode se espalhar por toda a Ásia Central, ameaçando o exterior da Rússia.

Sinais diplomáticos e prioridades estratégicas

Em janeiro deste ano, a Rússia e o Irã assinaram um acordo abrangente de parceria estratégica, institucionalizando os laços bilaterais e insinuando uma futura aliança formal. Notavelmente, poucos dias após os ataques aéreos israelenses contra Teerã, o Ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araghchi, viajou a Moscou, encontrou-se com o Presidente Vladimir Putin e conversou com Lavrov. Posteriormente, ele descreveu a visita como marcada por "completo entendimento mútuo" e enfatizou o apoio da Rússia em entrevista ao veículo de notícias Al-Araby Al-Jadeed.

A Rússia, juntamente com a China e o Paquistão, vem desde então promovendo uma nova resolução do Conselho de Segurança da ONU, solicitando um cessar-fogo imediato e um caminho para uma solução política. Como observou o enviado russo, Vassily Nebenzia, a resolução visa impedir uma nova escalada.

No entanto, Moscou tem sido cautelosa em sua retórica pública. No Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, Putin evitou linguagem inflamatória em relação a Israel, enfatizando, em vez disso, a necessidade de uma solução diplomática aceitável para todas as partes. Esse tom cauteloso reflete o equilíbrio da Rússia: aprofundar os laços com Teerã e, ao mesmo tempo, manter relações de trabalho – e, em alguns casos, calorosas – com Israel, inclusive nos canais militar e humanitário. Essa postura dupla permite que a Rússia se posicione como um potencial mediador, caso qualquer uma das partes busque uma solução negociada.

Visita de Araghchi

Em 13 de junho, com a intensificação dos ataques aéreos israelenses, a Rússia condenou rapidamente os ataques e expressou forte preocupação com as violações da soberania iraniana. Putin foi além, chamando o comportamento dos EUA na região de "agressão não provocada". A mensagem de Moscou foi clara: opunha-se a intervenções militares externas – ponto final.

Dias antes da viagem de Araghchi, Putin revelou publicamente que a Rússia havia oferecido ao Irã uma cooperação ampliada em sistemas de defesa aérea, oferta que Teerã não havia aceitado. Longe de uma repreensão, a declaração foi interpretada como um empurrãozinho: se a parceria estratégica for real, o Irã precisa chegar a um acordo com a Rússia.

Moscou permanece aberta a uma colaboração mais estreita em defesa, incluindo a integração da defesa aérea iraniana a uma estrutura de segurança regional mais ampla. Em retrospecto, se Teerã tivesse aceitado a oferta antes, poderia estar mais bem preparada para repelir os ataques. Para a Rússia, a segurança não se mede pela retórica, mas pelos resultados – e ela espera que seus parceiros ajam de acordo.

Limites legais da parceria

Fundamentalmente, o acordo estratégico de 2025 entre Moscou e Teerã não implica obrigações mútuas de defesa. Não é o equivalente russo ao Artigo 5 da OTAN, nem exige assistência militar automática. Como Putin esclareceu, o pacto reflete confiança política e coordenação – não um cheque em branco para uma guerra conjunta.

De fato, o tratado proíbe explicitamente qualquer um dos lados de apoiar uma terceira parte que lance agressão contra a outra. A Rússia tem se mantido fiel a esse padrão – recusando-se a se envolver com supostos agressores, ao mesmo tempo em que expressa solidariedade diplomática com o Irã e condena ações desestabilizadoras dos EUA e de Israel.

Em suma, a arquitetura da parceria se baseia no respeito à soberania e no equilíbrio estratégico – e não em compromissos complexos. Centra-se na cooperação técnico-militar, na diplomacia coordenada via BRICS e OCS e no interesse compartilhado pela estabilidade regional. Mas não chega a arrastar a Rússia para guerras que não representem uma ameaça direta à sua segurança nacional.

Diplomacia nos bastidores?

Um acontecimento chamou atenção especial: logo após a visita de Araghchi ao Kremlin, o presidente dos EUA, Donald Trump, pediu abruptamente um cessar-fogo e adotou um tom visivelmente mais brando em relação ao Irã. Com exceção de algumas postagens incisivas no Truth Social, sua mensagem tornou-se notavelmente mais comedida.

Antes de sua viagem a Moscou, Araghchi enfatizou em Istambul que as consultas com a Rússia eram "estratégicas e não cerimoniais". Ele deixou claro que Teerã via a parceria como uma plataforma para coordenação de segurança sensível – não apenas protocolar.

Coincidência ou não, a mudança na retórica americana sugere que a influência de Moscou pode ter moldado discretamente a trajetória dos eventos. Afinal, a Rússia é um dos poucos atores com canais abertos tanto para Teerã quanto para Tel Aviv. É perfeitamente plausível que o Kremlin tenha servido como intermediário nos bastidores, garantindo pelo menos uma pausa temporária nas hostilidades.

O resultado final

A Rússia continua sendo um ator calibrado, mas consequente, no Oriente Médio. As acusações de que Moscou não "apoiou" o Irã são especulativas e amplamente infundadas – tanto política quanto juridicamente. A Rússia oferece solidariedade, coordenação e influência – não apoio incondicional à escalada.

E numa região onde as palavras importam tanto quanto os mísseis, uma sutil mudança de linguagem vinda de Washington – sincronizada com conversas discretas no Kremlin – pode dizer mais do que qualquer comunicado à imprensa. Afinal, a diplomacia muitas vezes se move onde as câmeras não conseguem.



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