Veja - Edição 1 624 -17/11/1999
Até a semana passada, imaginava-se que o
bem-sucedido programa Bolsa-Escola, de Brasília, fosse uma unanimidade. Copiado
por dezenas de municípios brasileiros, premiado pelo Fundo das Nações Unidas
para a Infância, Unicef, e aprovado com elogios pela Organização das Nações
Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, Unesco, que está levando o projeto
para países de três continentes, o Bolsa-Escola encontrou seu primeiro
adversário em cinco anos de existência: o governador Joaquim Roriz, do PMDB.
Ele jogou no lixo sua promessa de campanha de ampliar e duplicar o programa
social mais aplaudido
do país e maior bandeira política de seu antecessor, o petista
Cristovam Buarque. O curioso é que Roriz, ao anunciar o enterro do
Bolsa-Escola, lançou o seu substituto. Atende pelo nome de Sucesso no Aprender
e, em vez de um salário mínimo para estimular as famílias muito pobres a manter
seus filhos na escola, o programa vai distribuir cesta básica, uniforme,
mochila, sapato e até meia. "Os programas de garantia de renda mínima são
muito mais eficientes do que os assistencialistas tradicionais de distribuição
de cestas básicas", critica o sociólogo argentino Julio Jacobo Waiselfisz,
da Unesco.
"Muitos pais utilizavam o dinheiro para tomar
cachaça", justifica Roriz. Ele entregou a sua secretária de Educação,
Eurides Brito, a missão de explicar o fim do Bolsa-Escola. Eurides diz ter
gasto 580 000 reais em pesquisas para avaliar
o programa. Não precisava. No Brasília Black Tie, da TV Brasília,
exibido no dia 19 de dezembro do ano passado, Eurides Brito já tinha suas
conclusões sobre o Bolsa-Escola. Ela disse que no bairro onde mora, o Lago Sul,
a área mais nobre de Brasília, pelo menos cinco amigas dela tinham perdido suas
passadeiras quando seus filhos começaram a receber o Bolsa-Escola. "Ganhou
o peixe, não precisa mais pescar", disse Eurides. Quem sabe, agora, as
passadeiras voltem a trabalhar nas casas das amigas de Eurides. O problema é o
futuro de seus filhos.
Sandra Brasil
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