Acordos permitiram que os governos dos países com clientes
envolvidos no esquema recebessem uma lista de nomes dos cidadãos implicados no
escândalo.
Alexandre Léchenet - LeMonde.fr / http://cartamaior.com.br/
A carteira de clientes da filial suíça do HSBC ia muito além
de clientes suíços ou “exilados fiscais”. Mais de cem nacionalidades diferentes
se cruzam nas listas obtidas pelo Le Monde. Entre 2006 e 2007, 106.500 pessoas
físicas e jurídicas detinham cerca de 135 bilhões de euros em contas neste
banco. De acordo com cálculos efetuados pelo ICIJ (International Consortium of
Investigative Journalists), organização americana que coordenou a pesquisa
mundial sobre as fraudes do HSBC, 203 países estão ligados aos perfis dos
clientes segundo diferentes critérios: documentos de identidade, endereços e
números de telefone.
Os arquivos obtidos cobrem o período entre 2006 e 2007. Eles
permitem ter uma ideia do montante máximo então disponível nestas contas. Não
causa surpresa que as somas mais importantes estejam em paraísos fiscais como
as Ilhas Virgens britânicas, Panamá, Bahamas e Ilhas Cayman. Os investigadores
franceses, que estimaram o total das contas em 180,7 bilhões de euros, haviam
calculado que quase a metade desta soma – mais exatamente 85,5 bilhões – estava
depositada em contas de sociedades de fachada nestes paraísos fiscais.
Arquivos compartilhados entre países
Acordos fiscais preexistentes entre países permitiram que os
órgãos do Fisco dos países com o maior número de clientes envolvidos no esquema
recebessem do Fisco francês a lista de nomes dos cidadãos implicados no
escândalo.
Assim, em 2010, no momento em que a Grécia é atingida pela
crise, Christine Lagarde, então ministra das Finanças francesa, entregou um
CD-Rom ao governo grego, batizado então de “lista Lagarde”. Esta lista será
publicada, na íntegra, dois anos mais tarde, após suspeitas de manobras para
retirar os nomes de pessoas próximas ao então ministro das Finanças grego,
George Papaconstantinou.
Vários outros países europeus receberam a lista de clientes
ligados a cada um em 2010, como Alemanha, Espanha, Irlanda, Bélgica, Reino
Unido e Itália. Índia, Estados Unidos e
Argentina também receberam suas respectivas listas nesta ocasião. De posse
destes nomes, muitos destes governos puderam analisar e interpelar os maiores
sonegadores, com investigações mais ou menos aprofundadas e resultados
variados. A Argentina e a Bélgica, assim como na França, anunciaram que
processaram o HSBC por evasão fiscal.
Tradução de Clarisse Meireles
Créditos da foto: Elliott Brown / Flickr
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