Por Percival Maricato / http://jornalggn.com.br/
A
FÓRMULA DA DIREiTA PARA ACABAR COM A CORRUPÇÃO: VOTANDO A FAVOR DO
FINANCIAMENTO DAS CAMPANHAS ELEITORAIS PELAS EMPREITEIRAS E BANCOS
Todas as análises mais
respeitáveis da corrupção no sistema eleitoral atual concluem que a principal
causa está no financiamento de campanhas por empresas privadas. A mesma empresa ou banco doa a vários políticos
e partidos, alguns por identificação ideológica, outros porque querem estar
próximo do poder. Alguma perspectiva de poder sempre é necessário, afinal, é
investimento, tem que se pensar no retorno.
Como se percebeu no Lava Jato,
empresas que tem relacionamento íntimo com obras, concessões, financiamento
estatal, que mais precisam da tolerância e compreensão dos políticos,
especialmente no posicionamento destes em projetos de lei, são as que mais
investem. Quando se descobre corrupção,
os partidos explicam que as doações foram legais. De fato, formalmente foram
legais. Até o PT se defendeu dessa forma, às vezes dizendo que todos os
partidos recebem doações ou que a corrupção existe desde 1500. Até tem razão,
mas quem imaginava décadas atrás que estas seriam as explicações para os
relacionamentos suspeitos envolvendo o Partido dos Trabalhadores? O mensalão foi algo parecido: havia partidos
vendendo o voto, então decidiu-se pela compra dos que estavam a venda, por uma
boa causa: aprovação de projetos como o SIMPLES, reforma da previdência etc. Os
fins justificavam os meios. Ninguém do PT enfiou dinheiro no bolso, mas...
A mídia, sabendo da fragilidade
dessas explicações, bateu o tempo todo, há anos não fala em outra coisa.
Corrupção é coisa feia, é preciso acabar com ela etc. Com ajuda fundamental do PT,
desgastou-o, tremendamente.
Tivemos recentemente a votação na
Câmara para proibir ou permitir o financiamento de campanha por empresas
privadas. Era a grande oportunidade de moralizar o processo eleitoral. O PSDB
votou 46 x 2 e o DEM 20 X 0 para
permitir esse conluio. O PT tenta se redimir, 62 x 0, mas contra o
financiamento por empresas. Se voltar a fazer isso constantemente, quem sabe
recupere parte do prestígio que teve até algum tempo atrás.
A mídia até que noticiou o
resultado da votação, en passant, uma notícia a mais em meio a tantas outras.
No entanto, ao contrário da Folha, nem no Estadão, nem na Globo ou demais TVs,
nem uma única notícia sobre como votaram os partidos, sobre a incoerência dos partidos
mais à direita que há anos ocupam espaços nobres com catilinárias contra a
corrupção. A empreiteiras e bancos que preparem os cheques para as próximas
eleições. Os opositores se calam, a mídia nada pergunta sobre motivações do
voto. Quando muito alguém diz que é só para os partidos, mas PSDB e DEM votaram
em bloco também pelo financiamento de candidatos por empresas privadas.
Ainda resta a esperança de que os
parlamentares aprovem algum projeto de lei que proíba as doadoras de terem
qualquer tipo de contrato ou relacionamento negocial com o governo, fazerem
obras, receberem permissões, concessões etc, na gestão seguinte à da doação.
Com isso demonstrariam que o dinheiro foi feito ao partido donatário, de forma
desinteressada. Alguém acredita nisso?
Há uma última barreira a essa
torpeza fora do Congresso é o STF. Há uma ação judicial pela qual se tenta
declarar inconstitucional esse tipo de financiamento no STF. Até agora, seis
ministros votaram pela proibição, nenhum a favor. Mesmo que todos doravante
votem contra, a proibição seria vitorisoa. E já deveria ter sido assim há muito
tempo. Acontece que Gilmar Mendes pediu vistas há mais de um ano e engavetou os
autos, esperando pela aprovação definitiva desse tipo de financiamento no
Congresso (ainda tem que ser aprovada no Senado e sancionada pela Presidente).
Muito provavelmente, votará depois, se aprovado e sancionado o projeto de lei,
afirmando que a ação perdeu o objeto. No entanto, os que votaram contra essa
imoralidade o fizeram por ela deturpar a manifestação democrática, cláusula
pétrea da Constituição. Há alguns anos passado a mídia apoiou o STF nesse tipo
de interpretação, quando cassou deputados petistas do mensalão, prerrogativa
que poderia ser interpretada como sendo da Câmara de Deputados. Como se
comportará nesta outra polêmica, a ser instalada? Como dizer que há igualdade
entre o voto de um trabalhador que ganha um ou alguns salários mínimos, contra
o banqueiro que pode doar R$ 50 milhões? Nos EUA a Suprema Corte já aprovou a
legalidade das doações sem limites; julgaram os juízes, a maioria nomeada pelos
bushs, que isso não deturpa a igualdade no processo eleitoral. Há outra ação
iniciada pelo PSOL, contra esperteza de Eduardo Cunha. Ele propôs em votação
uma proposta que permitia a doação por empresas, tanto para o candidato como
para o partido. Perdeu e então propôs outra no dia seguinte, como se fosse
diferente, prevendo apenas financiamento a partidos. Desta vez, após manobrar
pelo fisiologismo, conseguiu aprovação. Evidente no entanto que o financiamento
para partidos já tinha sido derrotada na votação anterior e não poderia ser
posta em votação novamente neste ano.
Como se vê, a conquista da
liberdade, da democracia, da igualdade, da justiça, da decência, continua sendo
uma corrida de obstáculos a serem vencidos. Mas que pode acontecer de mais
interessante na vida do que lutar contra obstáculos desse teor, se possível
vencê-los, e por fim tão nobre como obter uma verdadeira democracia.
Percival Maricato
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