Foi em situações de alta polarização e incerteza
social que surgiram forças políticas obscurantistas e fundamentalistas, sempre
com apoio da elite financeira.
Cinquenta anos depois, a “redemocratização” da
década de 80, marcou uma nova inflexão histórica indissociável da mudança
geopolítica e econômica mundial, que
começou com a crise e redefinição da estratégia internacional dos EUA, que
passou pela reafirmação do Dólar, pela desregulação das finanças
internacionais, e pela escalada armamentista que levou à desintegração da URSS,
ao fim da Guerra Fria, e à instauração da “uni-polaridade imperial” dos EUA,
que durou até o 11 de setembro de 2001.
Assim mesmo, depois de três décadas aproximadamente, o Brasil segue sem
conseguir definir e consolidar uma estratégia nacional e internacional
hegemônica. Pelo contrário, ainda hoje se pode dizer que este é o verdadeiro
“núcleo duro” da disputa cada vez mais violenta, entre as duas vertentes
políticas – o PT e o PSDB - de um mesmo projeto bifronte que nasceu nos anos
80/90. Sua base social era diferente, mas sua matriz teórico-ideológica
originária foi mais ou menos a mesma: paulista e democrática, mas ao mesmo tempo,
anti-estatista, anti-nacionalista, anti-populista, e em última instância,
também, anti-desenvolvimentista. Este projeto bifronte, entretanto, se dividiu
de forma cada vez mais nítida e antagônica, a partir dos anos 90, quando o PSDB
liderou uma política governamental de apoio, ajuste e integração do Brasil à
nova estratégia econômica internacional dos EUA, de desregulação e globalização
monetário-financeira, e de apoio ao projeto da ALCA. Da mesma forma que na
década seguinte, o PT liderou um governo de coalisão que foi adernando cada vez
mais na direção de um projeto de estado e de “capitalismo organizado” e de
“bem-estar social”, ao lado de uma política externa cada vez mais autônoma e
voltada para as “potências emergentes”, mesmo que nunca tenha conseguido
alterar as regras e instituições monetário-financeiras criadas pelos governos
do PSDB. O que passou nesta última década e meia foi que as mudanças de rumo e
os próprios desdobramentos inovadores da estratégia petista foram provocando
deserções e criando vetos cada vez mais radicais, de forças nacionais e
internacionais, de dentro e de fora da própria coalisão governamental. E como
consequência previsível, a coalisão governamental petista foi perdendo a
unidade e a força que seriam necessárias para tomar as decisões capazes de
enfrentar a crise econômica atual sem abandonar a estratégia econômica que foi
sendo construída, a partir do segundo governo Lula. Este panorama de
fragmentação e polarização nacional interna, entretanto, se agrava ainda mais quando
ele é colocado na perspectiva de um conflito internacional cada vez mais aberto
e violento, entre os EUA e a Rússia, e de uma competição política e militar
cada vez mais explícita, entre os EUA e a China, sendo Rússia e China os dois
principais aliados do Brasil, no projeto BRICS.
Assim mesmo, o que mais assusta e preocupa neste
momento é que o receituário tradicional do PSDB parece agora cada vez mais
simplista e esclerosado; enquanto o PT parece cada vez mais apoplético e
paralisado; e o governo, cada vez mais dividido e fragilizado. É óbvio que o
Brasil sairá desta situação e seguirá em frente, como já o fez no passado, mas
não está claro qual será a estratégia e o caminho vencedor.
No entanto, é preciso ter atenção, porque foi
nestas situações de alta polarização e incerteza social que surgiram e
galvanizaram o poder em outras sociedades ocidentais, forças sociais e
políticas fundamentalistas, obscurantistas e retrógradas, que sempre contaram
com o apoio oportunista de amplos setores da elite financeira e iluminista,
nacional e internacional. Os mesmos setores que depois derramam “lágrimas de
crocodilo” na porta dos campos de concentração onde se tentou purificar e
corrigir o mundo através da exclusão ou da morte dos impuros e dos hereges.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
12