Como a população será informada
sobre a real situação das mudanças climáticas se os próprios autores dessas
informações são dominados pelas corporações?
Najar Tubino // www.cartamaior.com.br
A Comissão Internacional de
Estratigrafia vai definir em 2016 se a espécie humana é a maior força natural
do planeta, o que precisa de registro nas pedras, tal como já acontece com a
radioatividade liberada em mais de dois mil testes nucleares já ocorridos.
Argumentos para reforçar a tese de alguns pesquisadores não faltam: metade das
florestas foi detonada, mais de 50% das populações de vertebrados, o que
envolve pássaros, peixes, anfíbios, mamíferos, foram aniquiladas, o mesmo
valendo para populações de espécies de água doce ou marinhas. Anualmente os
extratores revolvem as entranhas da terra para buscar dois bilhões de toneladas
de ferro, 15 milhões de toneladas de cobre – somente os Estados Unidos extraem
três bilhões de toneladas de minérios.
Além de 272 milhões de toneladas
de plásticos produzidas em 192 países, sendo que uma parcela entre 4,8 milhões
e 12 milhões são jogadas nos oceanos. E as 57 mil represas existentes no mundo
que drenaram metade das zonas úmidas e retêm 6.500km3 de água, algo equivalente
a 15% do fluxo hidrológico dos rios. Sem contar os 2,3 gigatoneladas de
sedimentos retidos nos reservatórios. Não é a toa que nos últimos 10 anos, 85%
dos deltas foram inundados pelo mar.
O livro: Capitalismo e colapso
ambiental
Podemos acrescentar mais números:
2,2 bilhões toneladas de resíduos sólidos jogados no ambiente, incluindo fezes
e urina da população urbana que já domina o planeta – mais de quatro bilhões de
pessoas. Ou seis trilhões de cigarros fumados, que depois formam uma montanha
de 750 mil toneladas de plástico e resíduos cancerígenos. Ou ainda mais, na
direção da era digital: 93,5 milhões de toneladas de lixo eletrônico previstas
para este ano, com a grande contribuição de computadores e smartphones, que
agora usam 63 elementos na sua composição. É óbvio que os Estados Unidos
lideram a excrescência- 29,8 quilos per capita, seguidos pela União Europeia
com 19,2, sendo que na Alemanha o consumo per capita é de 23,2kg. Não custa
acrescentar mais uma informação – o Centro de Dados do Facebook, na Carolina do
Norte, inaugurado em 2012 consumirá na próxima década um milhão de toneladas de
carvão. A Agência Internacional de Energia prevê que em 2030 o carvão será a
grande fonte de energia elétrica no mundo – entre 34 e 43% da capacidade das
usinas.
Os números circulam diariamente
pelo globo terrestre e o professor Luiz Marques, da UNICAMP, transformou no
livro “Capitalismo e Colapso Ambiental”, com 641 páginas e uma interrogação:
será que ainda estamos vivos ou só falta aguardar a hora da catástrofe. Mas tem
um fundamento que define melhor a situação no mundo globalizado em 2016. Uma
citação do livro “Capitalismo e Colapso Ambiental”:
“- A riqueza da humanidade adulta
de 4,7 bilhões de pessoas é de US$240,8 trilhões (2013), 68,7%, mais de dois
terços dos indivíduos adultos situados na base da pirâmide de riqueza possuem
3% - US$7,3 trilhões da riqueza global, com ativos de no máximo 10 mil dólares.
No topo da pirâmide – 0,7% dos adultos possuem 41% da riqueza mundial ou o
equivalente a US$98,7 trilhões de dólares. Somados os estratos superiores da
pirâmide – 393 milhões de pessoas, 8,4% da população adulta – detêm 83,3% da
riqueza global.”
Para completar: as 500 milhões de
pessoas mais ricas no planeta produzem metade das emissões de CO2, enquanto os
três bilhões mais pobres emitem 7%.
Quem são os responsáveis?
Por isso, quando a mídia
conservadora e idiota disseminada pelo mundo como um gás tóxico alardeia a
força da espécie, ou do “homem”, como sempre preferem, como destruidora do meio
ambiente é preciso perguntar o seguinte: quem são os representantes da espécie,
de que sociedade participam, qual o conluio socioeconômico e político que estão
investidos? Enfim, quem são os responsáveis pela sexta onda de extinção de
espécies do planeta, pela destruição das florestas, dos mangues, das margens
dos rios, do envenenamento dos solos e do ar e que jogam grande parte da
humanidade numa corrida insana atrás de acumulação e desperdício?
O professor Luiz Marques tem
razão quando diz que a definição do Antropoceno é uma questão filosófica. Não
existe mais a visão da divisão entre homem e natureza, agora é natural que a
natureza se humanize. Dito isso, após listar todas as consequências da onda
capitalista que varre o planeta nos últimos 300 anos.
Entretanto, quem está envolvido
com a realidade ambiental, social e econômica do mundo, do país, da sua cidade
sabe que a pergunta mais complicada de responder é: por que as pessoas não
reagem, não lutam contra a maré acumulativa, contra o apelo consumista, afinal,
temos uma catástrofe logo ali na esquina nos esperando. Ou, no mínimo, sabemos
que estamos condenando os nossos descendentes a viver no Planeta sobre o
administração de HADES, o inferno grego.
Metano da calota polar é um
detonador
Deixando de lado o que é óbvio,
porque no mundo moderno, onde 28 megacidades têm mais de 10 milhões de
habitantes, a corrida pela sobrevivência ou pela manutenção do patrimônio
mínimo – casa, carro, bicicleta, skate, que seja – não dá margem para vacilo.
Ou a pessoa está dentro do sistema e comunga das regras, ou está à margem e
luta unicamente pela sobrevivência física. Teoricamente, as informações sobre a
situação do mundo circulam, mas de uma forma exótica, sempre com um caráter
longínquo ou até mesmo controverso, ou polêmico, como dizem os agentes da mídia
corporativa. Aliás, como as populações serão informadas sobre a real situação
das mudanças climáticas, se os próprios autores dessas informações rezam pela
cartilha de conservadores e autoritários políticos e as corporações que os
dominam, sem o mínimo escrúpulo em discutir o assunto. A maior preocupação dos
pesquisadores envolvidos nas questões ambientais e sociais do planeta é com a
velocidade do aquecimento da temperatura. Segundo ponto: uma maior aceleração
pode incluir a calota polar ártica, a parte da Sibéria onde as temperaturas
subiram acima das médias dos últimos anos, e estão abrindo furos no permafrost-
que é o solo congelado com vegetais- e uma imensa quantidade de metano – entre
100 bilhões e um trilhão de toneladas permanece estocada.
Isso não é uma dedução ou uma
análise filosófica. Pode realmente ser um detonador do aumento da temperatura
global em poucos anos, antecipando entre 15 e 35 anos a data em que o aumento
da temperatura ultrapassaria os dois graus centígrados. Agora, em 2030,
exatamente daqui a 14 anos, quando a população ultrapassar os oito bilhões de
pessoas, a quantidade de carros que deverá circular no planeta será de dois
bilhões. A pergunta é simples: alguém acredita que a velha Terra com seus 4,6
bilhões de anos aguenta dois bilhões de veículos fumegando de norte a sul?
Créditos da foto: David Baird
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