ALEX SOLNIK // http://www.brasil247.com/
Se houvesse um Guiness para
países que derrubam seus presidentes o Brasil ficaria, facilmente, com ele para
sempre. O talento do brasileiro nesse quesito é assombroso. Mais que talento, é
quase uma obsessão, uma tara! Derruba-se presidentes a pretexto de tudo e de
nada. Não importa o motivo. O que interessa é derrubar, cassar, afastar,
esmigalhar. Ver o circo pegar fogo. Sem medir as consequências.
Getúlio inaugurou a série de
golpes em 1930. Vestiu-se de militar para tirar do poder Washington Luís,
punido porque seu candidato, Julio Prestes fora eleito com fraude eleitoral –
segundo os getulistas. É claro que Getúlio jamais provou a fraude, arrancou Washington
Luís do palácio à força – sabe-se lá como tinha mais poder militar que o
governo federal - e conseguiu convencer a nação que o criminoso era quem tinha
"fraudado" as eleições e não quem tinha dado o golpe – ou seja, ele.
As consequências do golpe foram
trágicas. Getúlio logo percebeu que a primeira providência a tomar era
proteger-se para não ser derrubado, por isso instituiu a ditadura. Fim das
eleições, censura à imprensa, censura de opiniões, prisão, tortura e morte para
quem criticar o governo.
Os paulistas tentaram dar um
golpe nele, sem sucesso, em 1932, o chamado golpe do bem, mas seria um golpe -
para derrubar quem tinha derrubado – e tiveram que esperar até 29 de outubro de
1945 quando ele foi deposto pelo general Gois Monteiro – naquela época, e até
1985, golpe era exclusividade dos militares .
Getúlio tomou um novo golpe em
1954, no sentido figurado: na realidade suicidou-se, mas foi a forma que
encontrou de resistir ao golpe dos generais que exigiam a sua queda.
O vice, Café Filho, que deveria
ficar até a posse do novo presidente eleito, não esquentou a cadeira, caiu logo
e entregou a faixa a Nereu Ramos, que caiu logo em seguida por intervenção do
marechal Lott que o acusou de conspirar contra a posse de JK. Empossado ele foi
mas não governou sem tentativas de golpe, como a revolta de Aragarças.
Também foram os militares,
indiretamente, os responsáveis pela ruptura seguinte quando, em 1961, Jânio
Quadros renunciou por não resistir a "forças terríveis", que não há
como não associar aos quartéis. Dessa vez os militares não entregaram a
presidência de mão beijada ao vice, como fizeram com Café Filho, impuseram
condições, ou seja, desobedeceram à constituição que determina que no
impedimento do presidente assume o vice e ponto final.
Os militares deram um golpe na
constituição em 1961 antes de dar o golpe final em 1964 quando Jango abandonou
o palácio assim como fizera Jânio. Estranhamente, tentaram transformar Jango em
heroi e Jânio em vilão.
Finalmente no poder por meio do
golpe a que chamaram de revolução, os militares deram o segundo golpe com a
edição do AI-5, que foi o pontapé inicial de uma guerra sangrenta entre os
golpistas e os democratas, que os primeiros tentaram rotular de comunistas para
justificar as atrocidades que perpetraram.
Os golpistas também sofreram
golpes de seus pares. Silvio Frota, o mandarim da linha dura, tentou derrubar
Geisel. E então foi derrubado por ele. Otávio Medeiros e Newton Cruz, adeptos
de Frota conspiraram para derrubar Figueiredo e colocar no cargo alguém mais
afinado com sua linha política contrária à abertura com o atentado do
Riocentro.
Os militares voltaram aos
quartéis, mas as tentativas de golpe, não. Fora Sarney, fora Collor, fora
Itamar, fora FHC, fora Lula, fora Dilma passaram a cobrir muros e paredões das
capitais brasileiras, é o que se repete há 30 anos.
Os números são eloquentes. Dos 20
governos no poder desde 1930 temos 14 episódios em que presidentes sofreram
tentativas de golpe ou foram derrubados: 1) Getúlio derrubou Washington Luis;
2) Gois Monteiro derrubou Getúlio; 3) generais derrubaram Getúlio levando-o a
se suicidar; 4) Café Filho foi afastado; 5) Nereu Ramos deposto: 6) tentativa
de golpe contra posse e a revolta de Aragarças contra JK; 7) Jânio derrubado
por "forças terríveis" renuncia; 8) Jango foi derrubado: 9) tentativa
de derrubar Geisel; 10) tentativa de derrubar Figueiredo; 11) Collor derrubado;
12) tentativa de derrubar FHC; 13) tentativa de derrubar Lula e 14) tentativa
de derrubar Dilma.
Não tenho como avaliar o que o
país perdeu com essa sucessão de guerras civis, armadas ou não, mas é certeza
que perdeu muito porque o desenvolvimento não convive bem com terremoto
político. Mais do que lamentar as perdas cabe constatar que esse não é o
caminho, não se constrói um país destruindo seus líderes a torto e a direito.
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