Jornal GGN - Os países em desenvolvimento devem se preparara para um ano de forte desaceleração. Dados divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU) mostram que o crescimento médio de tais países não passou dos 3,8% em 2015, a menor variação desde a crise financeira global em 2009 e apenas igualada, neste século, pelo recessivo ano de 2001. E a desaceleração da China, assim como as recessões de Brasil e Rússia, explicam apenas uma parte da queda generalizada.
Em artigo publicado no site Project Syndicate, os economistas Joseph E. Stiglitz & Hamid Rashid dizem que a menor demanda por recursos naturais pela China (que responde por perto da metade da procura global por metais de base) tem relação com as acentuadas quedas de preços, que afetaram diversas economias em desenvolvimento na América Latina e na África. “De fato, o relatório da ONU refere 29 economias que terão probabilidade de ser grandemente afetadas pelo abrandamento da China. E o colapso dos preços do petróleo, superior a 60% desde Julho de 2014, abalou as perspectivas de crescimento dos exportadores de petróleo”.
Contudo, os economistas dizem que a verdadeira preocupação não está apenas na queda dos preços das mercadorias, mas também na saída de capital. Entre os anos de 2009 e 2014, os países em desenvolvimento receberam, em seu conjunto, US$ 2,2 trilhões em entradas líquidas de capital, em parte por conta da flexibilização quantitativa nas economias avançadas, que empurrou as suas taxas de juro quase até zero.
“A busca por maiores rendimentos levou os investidores e os especuladores até aos países em desenvolvimento, onde as entradas de capital aumentaram a alavancagem, estimularam os preços dos títulos, e em alguns casos fomentaram um aumento abrupto do preço das mercadorias”, pontuam os economistas. “A capitalização bolsista nas bolsas de Mumbai, Joanesburgo, São Paulo e Xangai, por exemplo, quase triplicou nos anos que se seguiram à crise financeira. Os mercados de títulos noutros países em desenvolvimento também testemunharam aumentos dramáticos semelhantes durante este período”.
Agora, os fluxos de capital estão se invertendo, e tornando-se negativos pela primeira vez desde 2006, com as saídas líquidas nos países em desenvolvimento em 2015 a excederem US$ 600 bilhões (mais de um quarto das entradas recebidas durante os seis anos anteriores). As maiores saídas ocorreram através dos canais bancários, com os bancos internacionais a reduzirem as suas exposições ilíquidas ao crédito a países em desenvolvimento em mais de US$ 800 bilhões em 2015. “Esta não é a primeira vez em que os países em desenvolvimento tiveram de enfrentar os desafios de gerir capital especulativo pró-cíclico, mas as magnitudes atuais são avassaladoras”, pontuam os economistas.
Por conta disso, os setores empresariais dos países em desenvolvimento encontram-se em estado vulnerável, uma vez que ampliaram sua alavancagem com as entradas de capital registradas no período pós-2008. De acordo com os articulistas, as saídas de capital terão um efeito adverso sobre os preços do seu capital, incrementando a parcela das dívidas sobre o capital, e aumentando a probabilidade de incumprimentos. “O problema é particularmente grave nas economias em desenvolvimento exportadoras de mercadorias, onde as empresas se endividaram extensivamente, prevendo que os preços das mercadorias continuassem elevados”.
Segundo Stiglitz e Rashid, “muitos governos de países em desenvolvimento não souberam aprender as lições de crises anteriores, que deveriam ter desencadeado regulamentações e impostos que restringissem e desencorajassem as exposições cambiais”, e agora devem tomar medidas rápidas para evitar as responsabilidades por tais exposições. “Procedimentos de insolvência mais expeditos e amigáveis para os devedores poderiam garantir reestruturações rápidas e constituir um enquadramento para a renegociação de dívidas”, dizem os articulistas, entre outras medidas que poderiam ser adotadas.
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