
(Jornal do Brasil) - A Agência Espacial japonesa lançou, há
poucos dias, o Telescópio Astro-H, destinado ao estudo do espaço profundo, por
meio da captação de raios-x.
Trabalhando a uma temperatura próxima do zero absoluto, as
diferentes câmeras do Hitomi, ou “pupila” como também é conhecido, são capazes
de identificar fontes extremamente distantes e tênues de raios X, e separar a
sua luz em um espectro, semelhante a um arco-íris, identificando os fótons que a compõem, por
meio da variação de sua temperatura individual, permitindo o estudo de
estruturas supermassivas, como aglomerados de galáxias, e eventos de alta
energia, como buracos negros.
Se dispuséssemos de um instrumento com acuidade semelhante
para detectar, no universo político e empresarial brasileiro um brilho tênue de razão e equilíbrio, no
caótico buraco negro marcado pelo radicalismo,
a cegueira e a rápida sucessão de acontecimentos – muitos deles propositadamente
fabricados - destes tempos confusos e sombrios, é possível que ele tivesse
captado, no início desta semana, as observações feitas pelo empresário Eli
Horn, fundador do Grupo Imobiliário Cyrela, após um evento organizado por sua
empresa sobre as perspectivas para o Brasil e a importância do
empreendedorismo.
Afirmando, em entrevista ao jornal Valor Econômico, estar
otimista com a economia – sua empresa faturou mais de 3 bilhões de reais no ano
passado – e que a “crise atual é pequena e faz parte da vida”, Horn deu a
entender que é preciso negociar, e que a solução para a atual crise política é
a realização de um acordo entre todos os partidos, que tenha como objetivo o
“bem do país”.
“Tem que haver um acordo político – afirmou – e se os políticos quiserem, é
possível fazê-lo. É só querer do fundo do coração.”
As afirmações de Elie Horn são um lampejo de razão, em um país dividido pela ambição, o egoísmo e a
conspiração, caminhando celeremente para o abismo, em um momento em que parte
daqueles que possuem mandato eletivo se lançam, desesperadamente, à derrubada
do governo, sem perceber que há uma terceira força, descontrolada e radical, em
ascensão, que se baseia e se alimenta da antipolítica e da sabotagem da
governabilidade, e aposta na destruição da democracia como a conhecemos para
entregar a tutela do Estado a castas sem voto, que agem colocando a lei a
serviço de seus interesses, por meio da força discricionária do personalismo e
do arbítrio.
Tudo isso – não se iludam aqueles que acham que o Brasil
amanhecerá um mar de rosas no day after de um eventual impeachment - seguindo
uma estratégia contínua, permanente, coordenada, que está voltada para a
conquista do poder, e que não será afrouxada, ou abandonada, se o PT for
afastado do governo federal.
Ainda mais razão tem Elie Horn, em suas palavras, quando as
ruas estão tomadas e ocupadas, como já ocorreu em praças de países que se
autodestruíram, como o Egito, a Síria, a Líbia, a Ucrânia, por multidões
desatinadas, verdadeiras colchas de retalho, que não dispõem de outro consenso
que não o do ódio e já começam a agredir não apenas transeuntes ou cidadãos que
não se curvam aos seus gritos e à sua vontade – convocando pela internet grupos
de “bombados” imbecilizados para fazer isso - como qualquer um que delas se
aproxime, reservando o culto da personalidade para “mitos” que se travestem,
justamente, de “antipolíticos” e que se situam, até mesmo pelas “limitações” técnicas de seus cargos, teoricamente à margem do contexto “político”.
Nas manifestações contra Dilma, um casal foi espancado, na
quarta-feira, dia 16.
E um menino de 17 anos de idade quase foi linchado na
quinta-feira em que a direção da FIESP mandou publicar anúncios coloridos de
página inteira, com o apelo, em letras garrafais de RENÚNCIA JÁ, provavelmente
dirigidos à Presidente da República.
A mesma quinta-feira em que a Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo ordenou, em uma cena digna de um filme de Fellini, que seus
elegantes garçons servissem filé mignon, torta e purê de batatas aos líderes
das forças antidemocráticas e anti-petistas acampadas em frente à sua sede da
Avenida Paulista.
Como cidadãos e empresários, talvez tivesse sido melhor que
os dirigentes da FIESP dessem ouvidos a ponderações como a do colega Eli Horn,
proprietário da Cyrela, em vez de se deixar seduzir pela malta acampada em seus
portões.
Até porque, apesar dos anúncios e do repasto, quando o
Presidente da Federação, Paulo Skaf, saiu à rua, com alguns assessores, para
tentar cantar, horas depois, o hino nacional entre os manifestantes, ele também
foi escorraçado aos gritos, e teve que voltar, correndo, para o abrigo e a
segurança de sua instituição, assim como ocorreu com outras autoridades e
personalidades, como o Secretário de Segurança Pública de São Paulo, Alexandre
de Moraes, e o próprio Senador Aécio Neves e o Governador Geraldo Alckmin,
também expulsos, no domingo, da Avenida Paulista, pela multidão.
A esperança é que esses episódios - principalmente os
espancamentos ocorridos na principal via pública do país - abram o ouvido dos
surdos e os olhos dos cegos, e contribuam, didaticamente, no universo político
e do empresariado, e no que resta de bom senso na opinião pública, para o
entendimento de uma verdade histórica simples e cristalina:
Como as feras do Coliseu Romano e certos cães, quando
enfermos ou enfurecidos, o fascismo é, por natureza, desatado e incontrolável, e se nutre de ignorância, ódio,
preconceito, truculência e sangue.
Sangue como o do menino espancado por um numeroso bando de
covardes na Avenida Paulista - por mais que se tente bajulá-lo, e alimentá-lo,
com suculentos steaks de filé mignon.
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