domingo, 20 de março de 2016

Janio: Moro mentiu. Tem que ir em cana

bessinha licença
Moro sabia da gravação sem cobertura legal, quem estava nela e seu teor!

http://www.conversaafiada.com.br/

Os Estados Unidos tiveram um Moro.

O obscuro senador Joseph McCarthy, que entrou para a história com um infame neologismo: "macartismo".

A perseguição aos esquerdistas americanos, sem prova, com a manipulação da imprensa e o acoelhamento do Executivo, do Legislativo e do Judiciário.

Aí, um jornalista chamado Ed Murrow, que ancorava o programa "See it now", na rede CBS de televisão, com patrocínio da Alcoa, destruiu a carreira nefanda do McCarthy.
Murrow não disse nada.

Limitou-se a colar declarações de McCarthy à televisão, que manipulava e por ele se deixava manipular.

Uma após a outra, sem interferência do âncora.

McCarthy por ele mesmo.

McCarthy se enforcou-se nas próprias palavras.

É o que Janio de Freitas, incomparável jornalista num país em que, em 99% dos casos, como diz o Mino Carta, os jornalistas são piores que os patrões, é o que Janio de Freitas acaba de fazer com o McCarthy de Curitiba.

McCarthy, alcoólatra e cardiopata, morreu pouco depois de encerrar o mandato (era senador de primeiro mandato, tão obscuro e superficial quanto seu descendente de Maringá).

Moro pode ser convidado pelo professor Boff a dirigir-se ao Inferno: à cadeia em que mictórios são grampeados pela Polícia, mantém cidadãos sem culpa formada, pois nem julgados foram, como é o caso do José Dirceu, que ficará preso porque está preso e, solto, desmoralizará o Moro!

Em tempo: por causa desse programa, a Alcoa deixou de patrocinar o See it Now e, pouco tempo depois, Murrow foi demitido.

Espera-se que o Otavím não conheça esse episódio, que vai contado, em mais detalhes em "O Quarto Poder".

E no filme "Boa noite e boa sorte", de George Clooney

Ao Janio magnífico!


Se fosse preciso, para o combate à corrupção disseminada no Brasil, aceitar nos Poderes algumas ilegalidades, prepotência e discriminações, seria preferível a permanência tolerada da corrupção. Os regimes autoritários são piores do que as ditaduras, ao manterem aparências cínicas e falsos bons propósitos sociais e nacionais, que dificultam a união de forças para destituí-los.

A corrupção é um crime, como é um crime o tráfico de drogas, como o contrabando de armas é crime, como criminoso é –embora falte a coragem de dizê-lo– o sistema carcerário permitido e mantido pelo Judiciário e pelos Executivos estaduais. Mas ninguém apoiaria a adoção de um regime autoritário para tentar a eliminação de qualquer desses crimes paralelos à corrupção.

A única perspectiva que o Brasil tem de encontrar-se com um futuro razoavelmente civilizado, mais organizado e mais justo, considerado entre as nações respeitáveis do mundo, é entregar-se sem concessões à consolidação das suas instituições democráticas como descritas, palavra por palavra, pela Constituição. Talvez estejamos vivendo a oportunidade final dessa perspectiva, tamanhas são a profundidade e a extensão mal percebidas mas já atingidas pela atual crise.

Apesar desse risco, mais do que admiti-las ou apoiá-las, estão sendo até louvadas ilegalidades, arbitrariedades e atos de abuso, inclusive em meios de comunicação, crescentes em número e gravidade. Os excessos do juiz Sergio Moro, apontados no sensato editorial "Protagonismo perigoso" da Folha (18.mar), e os da Lava Jato devem-se, em grande parte, à irresponsabilidade de uns e à má informação da maioria que incentivam prepotência e ódio porque não podem pedir sangue e morte, que é o seu desejo.

Moro e seus apoiadores alegam que as gravações clandestinas foram legais porque cobertas por (sua) ordem judicial, válida até 11h12 da quinta 17. Dilma e Lula foram gravados às 13h32. Esta gravação sem cobertura judicial foi jogada para culpa da telefônica. Mas quem a anexou como legal a um inquérito foi a PF, em absoluta ilegalidade. E quem divulgou a gravação feita sem cobertura judicial foi o juiz Sergio Moro, cerca de 16h20.

Na sua explicação que seguiu a divulgação, porém, Moro deixou a evidência que desmonta seu alegado e inocentador desconhecimento daquele "excedente" gravado. Ao pretender justificá-lo como informação aos governados sobre "o que fazem os governantes" mesmo se "protegidos pelas sombras", comprovou que sabia da gravação sem cobertura ilegal, de quem estava nela e do seu teor. E tornou-a pública, contra a proibição explícita da lei.

A ilegalidade foi ampliada com a divulgação, em meio às gravações, dos telefones particulares e das conversas meramente pessoais, que Moro ouviu/leu e, por lei, devia manter em reserva, como intimidades protegidas pela Constituição. E jornais em que a publicação de pornografia e obscenidades está liberada, para pasmo da memória de Roberto Marinho, atacam a "falta de decoro" das conversas pessoais.

O STF decidiu desconectar as ações sobre contas externas de Eduardo Cunha e de Cláudia Cruz: a dela foi entregue a Moro. No mensalão, em 38 julgados no STF só três tinham foro privilegiado. Os demais foram considerados conexos. Há duas semanas, o STF manteve em seu âmbito, como conexos, os processos do senador Delcídio e o do seu advogado. Por que a decisão diferente para Cruz? A incoerência não pode impedir suposições de influência da opinião pública, por se tratar de Cunha e sua mulher.

Ainda no Supremo, Gilmar Mendes, a meio da semana, interrompeu uma votação para mais um dos seus costumeiros e irados discursos contra Dilma, o governo, Lula e o PT. Seja qual for a sua capacidade de isenção, se existe, Mendes fez uma definição pessoal que o incompatibilizaria, em condições normais, para julgar as ações. Assim era.

Muitos sustentam, como o advogado Ives Gandra, que "a gravação [a ilegal] torna evidente que o intuito da nomeação [como ministro] foi proteger Lula", o que justificaria o impeachment. Foi o mesmo intuito da medida provisória de FHC que deu ao advogado-geral da União título de ministro para proteger Mendes, com foro especial, contra ações judiciais em primeira instância. Uns poucos exemplos já mostram a dimensão do que se está arruinando no Brasil, talvez sem volta.

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