terça-feira, 19 de abril de 2016

UM DESAFIO CHAMADO VIDA


Nadia Daher*

Gosto de pensar na vida como um grande desafio, algo grandioso que depende muito do nosso próprio empenho. Essa configuração torna cada dia especial, auto centrado, planejado, vívido, ao contrário daquelas em que viver passa a ser algo passivo... Permanecer onde se está... Aceitar os acontecimentos... Esperar respostas e situações.
A diferença que se estabelece entre esses dois modos de encarar a mesma coisa – o ato de viver - transforma completamente cada pensamento, atitude, sentimento. Muda radicalmente a forma com que nos posicionamos em relação ao tempo, ao espaço, às pessoas. Adiciona responsabilidade pessoal a cada fato ou acontecimento, dando assim um novo significado a tudo o que nos sucede.

Quanta beleza se pode extrair de uma única paisagem se o ato de ver e se maravilhar é adicionado ao simples fato de observar passivamente enquanto os cenários acontecem através de janelas e dos óculos. Quanto se é capaz de criar através de um pensamento propositalmente original e focado, para resolver uma questão pendente. Que força moral se invoca para realizar algo difícil, inacessível, mas tão desejado...

Viver passa a ser então a maior de todas as ações, aquela que nos convoca à grande guerra contra a mesmice, a dor, o desânimo. Porque quando alguém se deixa abater já depôs as armas todas e está vencido pelas circunstâncias. Quando, ao contrário, nos armamos de coragem, de amor, de confiança, cada pequena batalha ganha é um sucesso, uma alegria, uma vitória.

Administrar a vida requer competência, assim como qualquer outro grande negócio, grande empresa. Por isso é necessário nos prepararmos para empreender o que for necessário e obter lucro – no caso, a felicidade.

Quando alguém diz que não tem tempo para nada, como se viver correndo fosse uma vantagem, só consigo sentir pena... Não ter tempo para nada só comprova uma grande ineficiência em administrar o próprio tempo. Não é sinal de importância ter vários compromissos conflitantes, mas de incapacidade administrativa. Quem sabe viver tem tempo: para amar, viajar, cuidar dos amigos, preparar jantares, plantar violetas, bordar, ir à praia. E a cada dia invoca o dom de priorizar aquilo que realmente importa, como as pessoas que estão mais próximas. Ter tempo é sinal de que o primeiro quesito foi satisfeito e a vida tem valor real pelo fato de estar também sob controle... Se recusar a fazer parte da grande corrente de insatisfeitos e estressados colegas, faz parte do processo seletivo do bem viver.

Deixar nas mãos alheias a escolha do nosso destino é outra maneira de permitir uma falência total nos negócios vitais, sejam nossos pais, namorados, amigos ou situações. Ninguém no mundo tem o poder de direcionar nossa vida, a não ser que a gente permita. Quando não tomamos as rédeas do negócio, seja por medo, omissão, comodismo, com certeza outra pessoa o fará. Deus nos deu o livre arbítrio, mas a nós cabe desenvolver os dons que temos para multiplicar... Enterrar qualquer um deles vai nos levar para o inferno, que é um lugar assustadoramente desanimado, depressivo, desencantado. O inferno é a ausência de atitude. Lá estão os que culpam os outros e as circunstâncias por tudo que lhes acontece ao invés de assumir a própria responsabilidade perante si mesmo.

Nascer, viver, morrer. 

Quando for a última hora também a coragem é necessária. E a gratidão... Não tínhamos nada, saímos do nada para uma existência que nos foi dada como um presente maravilhoso, pelo tempo determinado por Deus para que pudéssemos existir e usufruir de todas as belezas que estão no mundo. Se não fizemos isso, se passamos o tempo nos lamentando, desanimados e frouxos, reclamando da saúde, da falta de recursos, da ausência de amor, azar o nosso. O tempo se esgotará igualmente para satisfeitos e insatisfeitos. Bons viventes e maus viventes. Saudáveis ou doentes, alegres ou tristes. O tempo passará para todos, independentemente de como administrou sua vida. Os fracassados morrem mais dolorosamente porque sempre precisam de ainda um pouco mais... Não cumpriram sua parte... Não lutaram o bom combate, cumpriram a corrida, viveram a fé. E quando a hora chega estão cheios de remorsos por tudo aquilo que não viveram...

Olhar a vida através da janela é poético, mas não satisfaz. Viver é correr alguns riscos, mesmo que calculados. É passar apuros, dormir em camas duras, sentir um pouco de fome porque a aventura de existir pode exigir viagens e transtornos logísticos. 

Pode ser que tenhamos que aturar chatos, pedantes, exibidos. Comer comidas sem sal, escalar paredes morrendo de medo, subir montanhas quando temos pânico de altura, passar noites em claro por uma grande ideia, um grande projeto, uma ótima experiência.

Faz parte. Faz parte dar vexame, falar o que não deve, engordar, estar mal vestido, fazer papel de idiota. Principalmente fazer papel de idiota... Porque na ânsia de viver podemos extrapolar conceitos e fazer bobagens. Podemos magoar alguns ou nos apaixonar pela pessoa errada, por exemplo. Fazer declarações de amor descabidas e ser ridículos. E muitas vezes passamos os pés pelas mãos e erramos feio, perdemos coisas preciosas, pessoas valorosas, espaços conquistados a duras penas... Perdemos sim, mas no geral ganhamos bem mais. No balanço final do bom administrador da vida está escrito em números azuis o saldo positivo. Perder um pouco faz parte para obter o maior lucro – uma vida encantada e realmente plena.




Nadia Daher é Arquiteta
Mora em Anápolis-GO

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