Escritor Ayrton Centeno narra o diálogo entre Michel Temer e o grande dramaturgo inglês, que teria enxergado no vice traços de Macbeth, Iago e Ricardo III; confira
Por Ayrton Centeno // http://www.brasil247.com/
Foi num fétido pântano, açoitado por ventos ferozes, agitando a névoa perene, que o ganancioso MacTemer encontrou as três bruxas. "Viva MacTemer" saudaram Janaína, Miguelina e Bicudina, todas encarquilhadas porém Bicudina a mais de todas. Profetizaram que ele haveria de ser rei mas lançaram pesada sombra sobre o que depois viria. Aflito, MacTemer não sossegou enquanto não encontrou o pai das três assombrosas criaturas. Queria ouvir de Shakespeare algum consolo que lhe mitigasse a insegurança mesclada àquela sensação de fratura exposta do caráter. Sentir-se menos minúsculo perante a empreitada adiante. Sentado num promontório desde o qual, ao longe, avistava-se o mar quebrando nas falésias, Shakespeare olhou de soslaio para o estranho. Enxergou nele um pot pourri de seus personagens, um Macbeth mais frouxo, um aprendiz de Ricardo III, um Iago mais tosco. Parte por isso, parte pela curiosidade, dignou-se a ouví-lo. E o Usurpador então falou:
MacTemer - Ando lidando mal com tudo isso. Começou com aquela carta pra Dilma onde disse que eu era decorativo e que o PMDB queria mais cargos...
Shakespeare - "É melhor ser rei de teu silêncio do que escravo de tuas palavras."
MacTemer – Pois é, fiz bobagem...
Shakespeare – "Possuo um coração tão impetuoso quanto o vosso. Contudo, tenho cérebro que sabe dirigir a estuosa cólera para vantagem própria"
MacTemer – O Grande Bardo está me chamando de burro?
Shakespeare - "Somente os asnos se deixam frear"
MacTemer – Não entendi. Devo parar ou seguir em frente?
Shakespeare - "Cuidado para com a fogueira que acendes contra teu inimigo; ela poderá chamuscar a ti mesmo."
MacTemer – Sinto que um tição saltou dessa fogueira e está queimando meus fundilhos... Nas ruas me chamam de golpista, traidor, fraco, medíocre, vendido...
Shakespeare -"Não sujes a fonte onde aplacaste tua sede."
MacTemer - Pois é, mas fazer o quê agora? Tenho medo...
Shakespeare – "Das paixões ínfimas, o medo é a mais maldita".
MacTemer – Receio o passo seguinte...
Shakespeare - "Os covardes morrem muitas vezes antes de sua morte; os valentes morrem uma única vez."
MacTemer – Fico irritado com esse negócio...
Shakespeare - "Ficar enfurecido é revelar-se assombrado de medo"
MacTemer – Mais furioso fico por saber que a imprensa internacional não entrou na conversa do Merval, da Cantanhede, da Leitão e dos nossos superamigos da nossa superamiga mídia. E está chamando o golpe de golpe! E, por cima, a Dilma vai sair pelo mundo botando a boca no trombone...
Shakespeare - "A raiva é um veneno que bebemos esperando que os outros morram."
MacTemer – Ponho a mão na consciência e sinto que errei. Fui desencaminhado pelo MacCunha. Eu era um cara bom...
Shakespeare - "A consciência é apenas uma palavra que os covardes usam para amedrontar os fortes. Que nossos braços sejam a nossa consciência e nossas espadas as nossas leis."
MacTemer – Agora sim! Senti firmeza! Isto é Ricardo III, não?
Shakespeare – "Uso os trapos dos livros sagrados e finjo-me de santo sempre que demonizo."
MacTemer – Mas é o retrato do Cunha! Meu malvado favorito! O que mais ele diria?
Shakespeare - "Eu fui a besta de carga de seus grandes negócios. O exterminador de seus orgulhosos inimigos. O comprador generoso de seus amigos."
MacTemer – Comprador! É o próprio! Ricardão sabia das coisas e nosso querido Cunha aprendeu bem...
Shakespeare - "Minha consciência tem mil línguas e cada língua conta uma história diferente e cada história me condena como um criminoso miserável."
MacTemer – Perdão, mas o Bardo está falando do Cunha ou de mim?
Shakespeare - "O Inferno está vazio e todos os demônios estão aqui."
MacTemer – Epa, isto é a Câmara! Ou é o nosso governo de salvação nacional? (cobre a boca com a mão e solta uma risadinha abafada)
Shakespeare – "O poder é a escola do crime".
MacTemer – E vai dizer pra mim? Só eu sei as punhaladas que desferi depois daquele encontro com as bruxas – aposto que aquilo foi arranjado pelo velho MacPadilha. Mas confesso: Janaína, Miguelina e Bicudina me enfeitiçaram. Foi a bruxaria daquela música louca que surgiu não sei de onde! Janaína sacudia os braços e girava a cabeça como um pião, enquanto atrás Miguelina e Bicudina faziam aquela coreografia das dançarinas do Faustão...
Shakespeare – "O homem que não tem a música dentro de si e que não se emociona com um concerto de doces acordes é capaz de traições, de conjuras e de rapinas."
MacTemer – Viu? Eu sou sensível! E ainda me chamam de traíra! Já estava convencido mas quando Janaína fez a dança da garrafa meu coração disparou...Tive que botar um comprimido debaixo da língua...Mas me senti bem ali. Ninguém me chamou de Drácula. Elas perceberam que sou um sujeito do bem e que, se alguém fez algo torto, não fui eu. Talvez os MacMarinho, os MacCivita, os MacFrias etc.
Shakespeare -"Cometo um crime e sou o primeiro a clamar por justiça. Os males que faço em segredo faço cair sobre os ombros dos outros."
MacTemer – Com licença, Grande Bardo! A culpa é das suas bruxas que me transformaram no que sou agora...Aquela poção diabólica...
Shakespeare – "Lombo de cobra novinha atirai no pote asinha, pé de sapo e lagartixa, de cão a língua que espicha, pelos de morcego, asa de bufo-sossego, de lagarto a perna fina, acúleo de colubrina jogai na sopa do mal nesta mistura infernal...."
MacTemer – Eu chamaria tal petisco de nojento!
Shakespeare – "Três escamas de dragão, com bucho de tubarão que os mareantes intimida; cicuta à noite colhida, bofes de um judeu malvado, ramo de teixo tirado em noite de muito escuro; beiço de tártaro, o duro nariz de turco, o dedinho de uma criança sem linho que matado a mãe houvesse sem dizer nenhuma prece. Deixai bem forte a mistura; juntai do tigre a fressura, porque nosso caldeirão tenha caldo em profusão".
MacTemer – Arghhh... Mas acho que Janaína, Miguelina e Bicudina jogaram outros ingredientes no caldeirão. Senti um cheirinho de AI-5, uma pitada de Pacote de Abril, um travo de Gama e Silva...
Shakespeare – "Trabalha, meu veneno! Trabalha!"
MacTemer – Isto! Veneno é, foi e será essencial. Não só o das três megeras mas aquele inoculado anos a fio nos ouvidos dos sonsos, aquele pingado pontualmente nos olhos dos cegos, dia sim outro também. E repetido e reciclado e regurgitado. Ah, MacBonner...Os jornalões me chamam até de ponte para o futuro! E os lulus deles, os tais colunistas? Aprecio vê-los rastejantes. Ou sentadinhos nas patinhas de trás esperando a migalha da mesa. Ontem me ignoravam, hoje me idolatram. Como capricham! Até me constrangem pelo exagero...Bastou o patrão estalar os dedos que passei de mordomo do vampiro para estadista!
Shakespeare – "Aquele que gosta de ser adulado é digno do adulador".
MacTemer – Sim, mas fazer o quê. Esta é a alma do negócio! Estamos no ramo da mentira, eu e eles. E você também! Diga-me: o que seria da sua obra sem canalhas como Iago, o rei Claudius, Ricardo III, hein?
Shakespeare – "Com a isca de uma mentira, pesca-se uma carpa de verdade".
MacTemer – Viu? Estamos nos entendendo...E que carpa eu pesquei!
Shakespeare – "É uma infelicidade da época, que os loucos guiem os cegos".
MacTemer – Nosso diálogo está difícil. Primeiro me chamou de asno e agora de maluco! O que importa é tenho poder e esta é a vida que sempre quis.
Shakespeare – "A vida é uma sombra errante; um pobre tolo que se pavoneia no breve instante que lhe reserva a cena, para depois não ser mais ouvido. É uma história cheia de som e fúria narrada por um idiota significando nada".
MacTemer – Mais xingamentos. Que boca a sua! Mesmo assim, ajude-me. Como devo escolher meu ministério?
Shakespeare –"Entre maçãs podres não há o que escolher".
MacTemer – Maçãs podres? O Serra? O Padilha? O Jucá? O Zé Agripino? O que há contra eles? Humm...vamos deixar esses de lado...Mas e o...o...deixa ver...
Shakespeare - "Desde que um ninguém se tornou um nobre, muitos nobres se portam como ninguém!"
MacTemer – Asno, tolo, louco e, agora, ninguém. Para ouvir isso nem precisava vir até aqui. Era só pedir pra Dilma...Não suporto mais seus escrachos. Quero apenas ouvir a voz da sua experiência...
Shakespeare - "Um cetro arrebatado pela violência precisa ser mantido por processos iguais ao da conquista".
MacTemer – Então, este é o seu prognóstico? Vai quebrar o pau?
Shakespeare – "Oh! como o Inferno é negro!"
MacTemer – Inferno negro? Cada pergunta que faço mais me arrependo...
Shakespeare – "Então, entrega-te, covarde, e vive para te tornares espetáculo e assombro do universo".
MacTemer – Não agüento mais tantos insultos. Você é pior do que a Dilma!
Shakespeare – "Como fazemos com esses monstros raros, teu retrato será posto num mastro, tendo em baixo a inscrição: "Eis o tirano!"
MacTemer – Monstro? Tirano? Basta de amargura! Vou ler e ouvir as doces palavras do Merval. Que é imortal também. E tem fardão, coisa que você nunca teve e nem terá. Além do mais, eu também escrevo poemas. Vou declamar um deles para você do meu livro Anônima Intimidade, que tive a honra de autografar para outro Imortal, o Sarney: "Embarquei na tua nau/ Sem rumo/ Eu e tu./ Tu, porque não sabias/ Para onde querias ir./ Eu, porque já tomei muitos rumos/ Sem chegar a lugar nenhum"...E então?
Shakespeare – (suspiro) "Choramos quando nascemos porque estamos chegando a este imenso palco de tolos"...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
12