Os motivos de escrever-lhe esta carta são dois.
O primeiro se justifica pelo fato de
tê-la como representante do povo, em nossa Casa Legislativa. Não por ter tido,
entre seus eleitores, o meu voto, esse jamais o daria à senhora, mas pela
simples tolerância democrática que devo ter com quem foi escolhida para
legislar em nome de todos da nossa cidade por quatro duros anos.
O segundo motivo é a respeito do Ofício
nº 008/2016-GAB18, de 21 de junho último, dirigido ao Diretor do Centro
Educacional nº 6 de Ceilândia. Este é um motivo especial, dado o teor do
documento, que trata de pedido de esclarecimento sobre algo absolutamente
relevante para a sociedade e para uma legisladora. No caso, a senhora.
Seu pedido de esclarecimento ao Diretor
da Escola é de uma preciosidade singular e por isso, para ser objetivo e
sucinto, reproduzo o que nele há de mais importante: o relato do fato em si:
Independente de seu pedido ser atendido
ou não, alguns comentários precisam ser feitos sobre os motivos que fundamentam
sua solicitação de esclarecimento.
Um eles é o que o confuso terceiro
parágrafo do seu documento, abaixo reproduzido, alega:
Para uma correspondência oficial, nada
mais desalentador do que uma redação prolixa e sem clareza, justo pelo que não
tinha o que dizer e por isso não disse absolutamente nada. Não
sou dado à criação de neologismos, mas aqui abro exceção: a mim parece que por
falta de conhecimento da matéria, a senhora optou por um grotesco “enrolês”.
Que proposta original encaminhada pelos
Poderes Executivos foi esta?
O que a senhora pensou em dizer com:
”suprimiram todas as alusões e termos da redação às expressões”?
Sua estranheza revelada pela “denúncia”
e as justificativas legais para o cumprimento do seu dever, são provas de um
pensamento confuso e desprovido do mínimo discernimento sobre a função de uma
legisladora. Como se pode ver na reprodução abaixo:
Em que momento a tal “denúncia” pôs à prova a função fiscalizadora desse poder legislativo, ainda que a nobre deputada, por pura falta do que se ocupar, pretenda patrulhar os professores no que fazem ou deixam de fazer em sala de aula?
De estranhar mesmo, senhora deputada, seria este
caso soar como surpresa, pois nossa Câmara Legislativa tem sido pródiga em
confundir seus próprios limites como provedora da legalidade, justo quando cria
leis que confrontam até a Constituição Federal.
Um exemplo recente desta anomalia foi criação da
lei que limita a RPV em quarenta salários mínimos, quando se sabe que a
Constituição Federal determina que a definição de critérios para pagamento de
precatórios é competência privativa do poder executivo.
Então, deputada Sandra Faraj, de estranhar mesmo é
sua iniciativa de querer intimidar um professor no desempenho de suas
atividades, sem sequer se preocupar em consultar o Art. 206, incisos II e III,
da nossa Constituição, que não deixa nenhuma dúvida sobre os princípios do
exercício de ensinar. Os quais sejam: “liberdade de aprender, ensinar,
pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber. Com pluralismo de ideias e
de concepções pedagógicas”.
Não sei se a senhora deputada
consegue entender, mas o absurdo de sua solicitação é de tal ordem, que implica
a tentativa de normatização do uso da Língua Portuguesa. Nem os mais renomados
linguistas do país teriam coragem para falar em (...) termos foram eliminados do texto (...). Isto para não falar
em liberdade de expressão.
Por fim, senhora deputada, caso haja interesse seu
e de seus pares, o que nosso ensino precisa mesmo é de atenção para o baixo
desempenho que ali se desenrola, para as difíceis condições de trabalho da
docência, entre tantos outros problemas, que talvez, por desconhecimento seu,
não mereçam sequer um ofício de qualquer diretor de escola, dando
esclarecimentos sobre o que o poder legislativo tem feito para ajudá-los.
Ademais, seria exigir muito de quem se empenha
tanto em avaliar bijuterias, quando sequer tem conhecimento das joias.
Sinceramente,
Nonato Menezes
Parabéns pelo brilhante texto, professor Nonato, a clareza e o requinte de sua publicação é de grande valia para todos que queiram entender que não se cala um professor, pois caso contrário, estamos matando uma planta a partir de suas raízes.O professor é o alicerce de qualquer sociedade e até uma "deputadazinha" dessas, teve professores, porém,pelo visto deve ter sido reprovada várias vezes.
ResponderExcluirOutra coisa, esqueci de me identificar, sou o professor Kléber Caverna.
ExcluirPrimeiramente Fora Temer!
ExcluirQuando vi o documento da da representante de alguns, digo isso porque ela não me representa, fiquei chocada com sua prepotência, até onde eu sei ela não é do executivo nem do judiciario, portanto, novamente Fora Temer e leve junto essa tal aí.
Que papelão, senhora Faraj! E da próxima vez, vá fiscalizar os fiéis de sua igreja!
ResponderExcluirGrande amigo Kleber Caverna. Saudades de ti. Vamos todos a ativa. Abraço. Parabéns Nonato. Belo texto.
ResponderExcluirMe envergonho de que uma religião que contribui à humanidade por elevar a mulher e proteger crianças tenha se deteriorado ao ponto de macular as liberdades de consciência de seus membros e de invadir o Estado laico para policiar e coagir a sociedade. Defendamos um cristianismo libertador e que "dê a César o que é de César e a Deus o que é de Deus".
ResponderExcluirMe envergonho de que uma religião que contribui à humanidade por elevar a mulher e proteger crianças tenha se deteriorado ao ponto de macular as liberdades de consciência de seus membros e de invadir o Estado laico para policiar e coagir a sociedade. Defendamos um cristianismo libertador e que "dê a César o que é de César e a Deus o que é de Deus".
ResponderExcluirÉ Clayton, mas as religiões não surgiram para libertar ninguém. Esse princípio libertador apregoado surgiu com a origem do Cristianismo por causa a opressão política romana, que motivou uma reação política através da fé, ou seja, a fé usada como instrumento político. Nada mais que isso.
ExcluirO CED 06 e principalmente eu Deneir de Jesus Meirelles agradeço por colocar de forma tão precisa a minha indignação amigo. Um grande abraço.
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