domingo, 24 de julho de 2016

Considerações sobre a guerra, por Gustavo Gollo

por Gustavo Gollo // http://jornalggn.com.br/
Vivemos uma era ímpar, relativamente pacífica se comparada com todas as outras. Desde o término da segunda guerra mundial, em 1945, todos os conflitos ocorridos tiveram circunscrições regionais, mesmo que vários tenham sido absurdamente sangrentos.
A América do Sul é, sem dúvida, a região mais pacífica do planeta; aqui, nenhum conflito de monta tem se generalizado. Por essa razão, ao contrário de todo o resto do mundo, tendemos a não acreditar em guerras, tendemos a achar que guerras são eventos distantes que só ocorrem muito longe e que só acontecem em locais remotos, como os furacões e terremotos destruidores.

Evidências da iminência de uma grande guerra
O mundo, no entanto, se prepara para uma grande guerra mais destruidora que qualquer coisa jamais vista pela humanidade. Os sinais disso são claríssimos, os preparativos para a guerra estão evidenciados nitidamente na radicalização e na polarização política que têm ocorrido por todo o planeta; não víamos algo assim desde as vésperas da segunda grande guerra.
Também percebemos, pelo mundo inteiro, um acirramento das forças de repressão. Ditaduras vão sendo implantadas onde, por décadas, grassava a democracia; são preparativos para os momentos de grande tensão e controle das populações. Devemos nos precaver, aliás, para que tal flagelo não torne a nos oprimir, o golpe recentemente sofrido por nós pode se desdobrar em algo ainda pior do que já é.
Os Estados Unidos têm implantado bases militares pelo mundo inteiro, concentrando-se ultimamente em fechar o cerco sobre China e Rússia, (embora sem desconsiderar outras paragens, como a Argentina, com duas novas bases americanas, uma na divisa entre países, onde há muita água).
Causas da guerra em fermentação
Guerras são disputas de poder. Guerreia-se para estabelecer quem manda. Usualmente, mandam os mais ricos que, além do dinheiro, costumam também deter as armas. Os mais ricos têm mais dinheiro para comprar armas, e sempre o fazem para garantir, com elas, a imposição de suas vontades; é o que se chama “poder”. Por essa razão, sempre dominam simultaneamente o dinheiro e as armas.
Desde o final da segunda guerra, pelo menos, os Estados Unidos vinham dominando amplamente a economia mundial, aproveitaram essa supremacia para estender, também, o seu domínio bélico. Desde então, desenvolveram armas de destruição espantosas, e as espalharam por bases militares encravadas por todo o planeta, além de outras, móveis, estabelecidas em porta-aviões e submarinos com poder de fogo avassalador, capazes, cada um deles, de arrasar países inteiros.
Na semana passada, a Alemanha anunciou a oferta de empréstimos a taxas de juros negativas juntando-se nessa estratégia ao Japão e outros países, sinalizando com isso a descrença no dólar e a expectativa da derrocada iminente dessa moeda, símbolo do poder em queda. Taxas de juros negativas decorrem da convicção da iminência de um gigantesco desastre financeiro.
Mantendo simultaneamente a hegemonia econômica e a bélica, foi fácil para os EUA iniciar e circunscrever diversos conflitos, sempre longe de suas terras.
Recentemente, no entanto, a economia americana foi superada pela chinesa, fato escamoteado e oculto pela imprensa ocidental. Por essa razão, o momento atual é único, especialíssimo, no qual a dissociação entre o poder econômico e o bélico coloca o mundo em uma situação de extrema instabilidade. Todos gostam de mandar, todos acreditam ter esse direito, especialmente os mais ricos e os mais fortes. Nesse momento, no entanto, uns estarão de um lado, outros de outro, uma receita clara para a guerra.
Nas últimas décadas, os EUA acabaram enredados por forças paradoxais que os compeliram a deslocar suas forças produtivas para a Ásia, especialmente para a China, em busca de lucros mais gordos decorrentes de serviços mais bem remunerados. Quase toda a indústria, quase toda a economia real, a que produz bens materiais, palpáveis, deslocou-se para lá, deixando o suor para os chineses, permitindo aos americanos se concentrarem em recolher os lucros.
Em consequência dessa estratégia lucrativa, as forças produtivas se deslocaram para o outro lado do mundo, de modo que hoje, quase toda a economia real se desenvolve por lá. Se tiver dúvidas sobre isso observe os objetos ao seu redor, foram quase todos produzidos no oriente, confira. A indústria chinesa, hoje, é muitíssimo superior à americana; será mais fácil para os chineses produzir 10 mísseis que para os americanos fabricar 1. Talvez essa desproporção chegue bem perto dos 100.
Presente e futuro
Nos últimos anos os EUA decidiram apertar o cerco em torno de Rússia e China. A decisão deve ter ocorrido por volta de 2012 ou 2013. Desde então, o mundo vem sendo assediado por propaganda política semeando preceitos extremistas e campanhas com o intuito de gerar a desestabilização de governos democráticos. Tais campanhas têm como objetivo o isolamento de China e Rússia, preparando o palco para um violento ataque a essas potências.
Tal ataque, seguido, certamente, de retaliação, resultaria em bilhões de mortes pelo mundo inteiro. Os sobreviventes da tragédia absurda ficariam compelidos a viver em buracos, impedidos de ver a luz do dia em um mundo patrulhado por drones e outros brinquedos explosivos vasculhando autonomamente as antigas ruas sob as diretrizes de busca e destruição, e em meio ao lixo radioativo e a contaminação do ar e da água.
Maus presságios.
Um veredito recente de tribunal internacional condenando as aspirações chinesas de soberania sobre ilhas no Mar da China constitui um pretexto perfeito para o isolamento da China. Será fácil incitar vietnamitas a criar um incidente que levará os EUA a se posicionar contra a China, levando-os, assim, “bondosamente”, a bombardear China e Rússia e exterminando bilhões de vidas. O veredito gerou uma enorme onda nacionalista entre os chineses, atiçando a vontade de defesa da região, e suscitando demonstrações do poderio bélico chinês crescente. Também intensificou as atividades militares chinesas na região.
Amanhã chega à China uma funcionária do segundo escalão americano para comunicar aos chineses que os militares americanos continuarão navegando, voando e operando no Mar da China, apesar da advertência dos chineses de que tais patrulhas resultarão em desastre. Enquanto isso, o secretário de defesa dos EUA está na Ásia insuflando os países banhados pelo Mar da China a desafiar as alegações chinesas de soberania sobre o Mar da China e prometendo o respaldo americano para garantir a defesa de tais ações.
Temos que atentar para as claras evidências de uma guerra em gestação, denunciá-la e tentar impedi-la. Dessa guerra resultarão apenas mortes, devastação, sofrimento. Nada de bom resultará dela.
Mobilizemo-nos contra a guerra mundial em gestação.

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