Para a filósofa, processo golpista revelou "ausência de reflexão, emoções controladas, manipuladas e embotadas" e o resultado é que "estamos tratando o fato de um jeito pouco sério"
por Redação RBA // http://www.redebrasilatual.com.br/
São Paulo – “O Brasil não é mais uma democracia. Vivemos em um estado de exceção”, afirmou a filósofa, escritora e artista plástica Marcia Tiburi. Para a pensadora, o processo golpista que afastou a presidenta Dilma Rousseff (PT) e empossou interinamente seu vice, Michel Temer (PMDB), faz parte de uma conjuntura de separação do indivíduo com o coletivo. “As pessoas ficaram vendidas para uma visão individualista, e a sociedade vive um profundo esquecimento do que significa ser sociedade.”
As palavras duras de Márcia foram divulgadas hoje (13) por meio de vídeo compartilhado pelo vereador paulistano Nabil Bonduki (PT). “Temos ausência de reflexão, emoções controladas, manipuladas e embotadas”, e este panorama, de acordo com a filósofa, surge de um contexto de distorção dos fatos. “As instituições manipulam o poder de uma forma pesada, não só o Judiciário apodrecido ou o Legislativo, mas também a mídia, veículos de comunicação em massa manipulam as pessoas”, disse.
Márcia argumenta que o conhecimento da formação histórica brasileira é importante para entender a gravidade do golpe. “Quem não souber que nossa história envolve escravidão de pessoas, colonização, interesses capitalistas da política financeira internacional (…) talvez não consiga entender o que se passa agora”, afirmou.
O abolicionista Joaquim Nabuco, em sua obra Um Estadista do Império, ajuda a pensar a importância do histórico citado por Márcia. Para ele, o ponto fundamental da nossa história é a escravidão e seus frutos. “O Brasil é uma sociedade não só baseada, como na civilização antiga, sobre a escravidão, e permeada em todas as classes por ela, mas também constituída, na sua maior parte, de secreções daquele vasto aparelho.”
Então, Márcia critica a exclusão da visão de diferença, que moldou a sociedade brasileira, por Temer, que montou uma equipe ministerial uniforme: homens, brancos, ricos e velhos. “Estamos vivendo em um país ultrapassado. Ele (Temer) tirou todos os ministérios que poderiam ter alguma relação com a alteridade, com a diferença e com o estranho. Desses sujeitos novos que estão entrando na política depois dessa era machista.”
Ainda sobre a formação do gabinete do presidente interino, a filósofa disse que “foi um ato de provocação por um lado, mas bem ao estilo coronelista, capitalista e machista. "Porque é tudo muito parecido. Todos esses pertencem ao mesmo campo conceitual e prático. Foi uma demonstração do sentido deste poder que se estabelece. A alteridade é negada, aí vem a repressão, a opressão, um poder anacrônico, pesado, pater potestas, que não combina com a democracia.”
A filósofa finaliza seu pensamento com a reflexão de que o golpe pode significar prejuízos mais severos do que a sociedade espera. “Estamos tratando o fato de um jeito pouco sério. Perdemos nossa democracia e não sei se temos condições de nos enlutar o suficiente para poder chorar por isso, porque o autoritarismo virou a regra do nosso modo de pensar.”
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