Se vivêssemos em um país cuja mídia se pautasse minimamente por princípios jornalísticos, e não fosse protagonista de golpes de estado, hoje (13/9), dia seguinte à cassação do maior câncer da política brasileira, o agora ex-deputado Eduardo Cunha, um ou outro jornal haveria de estampar manchetes apontando o óbvio : não pode ser válido um processo de impeachment liderado por um bandido do calibre de Cunha.
Mas isso seria sonhar com um país que está longe de existir. Longos 13 anos de governos petistas se passaram sem que uma miserável iniciativa sequer tenha sido tomada no sentido de enfrentar uma dura realidade : não haverá democracia de fato no Brasil enquanto o monopólio midiático seguir dando as cartas do jogo político.
Tampouco poderemos sonhar com a cicatrização da ferida aberta da desigualdade social enquanto meia dúzia de porta-vozes da casa grande detiverem sozinhos instrumentos de comunicação de massa, capturando corações e mentes para os interesses da plutocracia.
A sessão desta segunda-feira (12), da Câmara dos Deputados, que cassou Cunha por impressionantes 450 votos, só reforça a urgência de o campo democrático, progressista e de esquerda despertar finalmente para a centralidade de uma efetiva reforma política no país. O sistema de representação e o padrão de se fazer política no país estão absolutamente falidos.
Senão vejamos. Fora o PT e demais partidos de esquerda, a totalidade dos votos pela cassação de Cunha partiu de deputados que não hesitaram em adular e cerrar fileiras junto ao então presidente da Câmara, quando ele, para se vingar do PT cujos parlamentares votaram em seu desfavor no Conselho de Ética da Câmara, aceitou um pedido de impeachment da presidenta Dilma e deu início ao processo mais fraudulento da história do parlamento brasileiro.
O padrão moral e político rasteiro de suas excelências fez com que fizessem ouvidos de mercador às evidências aterradoras quanto aos vícios daquele processo. Qualquer país que disponha de uma classe política menos indigente não permitiria que um gângster liderasse o afastamento de uma mandatária digna e honesta, levada a presidir a República pela soberania popular que lhe confiou mais de 54 milhões de votos.
Mas aqui não. Na terra do cinismo e da demagogia mais escrachadas, os sócios de Cunha no crime do golpe são os mesmos que quase cinco meses depois defendem a cassação do velhaco como se arautos fossem de premissas como ética na política e lisura na condução da coisa pública. Muitos deles, diga-se de passagem, atolados até o pescoço em casos de corrupção.
Esses mesmos deputados, junto com seus irmãos siameses do Senado, se preparam para entregar as riquezas nacionais, como a do pré-sal, e liquidar direitos trabalhistas, previdenciários e civilizatórios dos brasileiros e brasileiras. Já estão todos avisados pelo usurpador-mor que roubou a cadeira presidencial que a conta dos financiadores do golpe parlamentar-judicial-midiático precisa ser paga.
Rua, redes, greves, desobediência civil e diretas já neles. isso agora. Quanto ao futuro, o lugar mais fétido e imundo está reservado para os que rasgaram a democracia.
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