Querem ocultar as corrupções do presente, prendendo líderes populares da esquerda como banquete para a opinião pública, entorpecida pelo ódio à política.
Editorial do jornal El Telégrafo, do Equador // www.cartamaior.com.br
É evidente que não se trata de uma simples coincidência. Se antes foram os grupos de conspiradores formados dentro das instituições militares latino-americanas as que protagonizaram os casos de tomada de poder derrubando governos legitimamente constituídos, agora são os aparatos judiciais e midiáticos os que lideram esta nova retomada do poder por parte dos setores empresariais, defensores do neoliberalismo, que desta vez atacam os governos progressistas que se constituíram no subcontinente.
Claro que, por trás dessa nova onda, impulsadas pelos mesmos de sempre, estão os mesmos objetivos de outrora, ainda que com novos métodos: desta ve, usam como arma a difamação, buscam o desprestígio, a constante condenação moral de tudo aquilo que fazem os líderes de governos progressistas, tentando sempre vinculá-los a atos de corrupção.
São as mesmas narrativas, criadas e difundidas pelos grandes meios de comunicação, que deformam a realidade para parecer que líderes populares como Lula da Silva e Cristina Kirchner se dedicaram, em seus governos, a gerar grandes esquemas de corrupção, e não a mudar a realidade social em seus países – e claro, através disso, defender a judicialização do legado destes ex-presidentes. Não há dúvidas de que esta é uma estratégia que visa um só objetivo: recuperar o poder imperial, uma nova hegemonia neoliberal na região, acabando com todo um período de avanços sociais bastante significativos em vários países – que incluíram a erradicação da pobreza e a defesa da soberania nacional – e reivindicando os interesses dos grandes grupos econômicos, especialmente os norte-americanos. Era preciso destruir o máximo possível do modelo que vinha sendo construído, para que os mesmos de sempre possam voltar a se enriquecer como antes.
No caso de Lula da Silva, ex-presidente do Brasil, vemos a angustia daquele que é o homem mais popular da história deste país. Seus rivais sabem que se houvesse eleições presidenciais neste instante, ele seria o vencedor, e por isso precisam deslegitimá-lo. O plano é que a perseguição jurídica, se não puder levá-lo à cadeia, que ao menos o impeça de se candidatar em 2018.
Algo similar acontece com a ex-mandatária argentina Cristina Fernández de Kirchner, que também enfrenta a sanha da Justiça em seu país, sendo ela a principal líder da oposição e a figura que incomoda o impopular governo de Mauricio Macri. No seu caso, a perseguição ganha contornos de ironia, ao se observar a diferença da cobertura midiática ao seu caso e ao que envolve o próprio presidente Macri e suas relações com empresas offshore no Panamá e em Bahamas.
O que querem, portanto, é ocultar as corruptelas do presente, entregando a prisão dos líderes populares da esquerda como banquete para a opinião pública, entorpecida pelo ódio à política.
Tradução: Victor Farinelli
Créditos da foto: reprodução
Nenhum comentário:
Postar um comentário
12