Como resposta às políticas de ajuste econômico do novo governo, está sendo preparada para o dia 11 de novembro uma greve geral no país.
Mario Augusto Jakobskind, para o periódico Brecha, do Uruguai // www.cartamaior.com.br
Eduardo Cunha, que como presidente da Câmara dos Deputados foi o responsável por bloquear a agenda de governo de Dilma Rousseff em 2015, terminando o ano com a abertura do processo de impeachment contra a agora ex-presidenta do Brasil, foi detido na última quarta-feira (19/10), por ordem do juiz Sérgio Moro, encarrego da investigação de corrupção na estatal Petrobras.
A justiça da Suíça acusa Cunha de manter três contas em bancos do país – uma delas em nome de sua mulher, a jornalista Cláudia Cruz –, onde acumula 68 milhões de dólares. O montante seria proveniente de esquemas de lavagem de dinheiro. As investigações no Brasil, lideradas por Moro, levaram à conclusão de que boa parte desse dinheiro provinha de esquemas de corrupção dentro da Petrobras.
Entre outros esquemas, o ex-presidente da Câmara dos Deputados do Brasil, que foi cassado em setembro, teria sido o mediador da compra de um campo petroleiro em Benin. Cunha é integrante do PMDB, a mesma legenda a qual pertence o atual presidente, Michel Temer – que decidiu interromper uma viagem oficial que realizava no Japão para regressar às pressas ao Brasil assim que soube da prisão do colega de partido. O PMDB também é o principal partido do país, sendo a força de centro decisiva para a conformação de qualquer aliança que busque ter um mínimo de governabilidade. O temor dos seus aliados é que a detenção deste alto dirigente seja o começo de uma caçada de outros quadros poderosos, ou mesmo intermediários. “Cunha é um gangster. Esperemos que se comporte como tal, que faça sua delação premiada e entregue todos os seus cúmplices”, desejou o deputado Ivan Valente, militante do PSOL, que teve um papel importante no processo de cassação do mandato de Cunha.
Outro partido que sente a pressão após a prisão do ex-deputado é o PSDB, partido do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e também do atual chanceler brasileiro e ex-candidato presidencial José Serra. A construtora Delta estaria negociando com a Justiça a divulgação dos nomes dos políticos aos quais pagou subornos em troca de que seus principais executivos não terminassem na cadeia. A lista contém figuras de vários partidos, principalmente do PSDB e do PMDB.
Greve geral à vista
Por outro lado, está sendo preparada para o dia 11 de novembro uma greve geral no país, como resposta às políticas de ajuste econômico do novo governo, com clara tendência ao retorno da doutrina neoliberal, em especial a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241, que significaria o congelamento dos gastos públicos por 20 anos, incluindo áreas como saúde, educação e moradia. Na última segunda-feira (17/10), a PEC 241 foi aprovada em sua primeira votação na Câmara, enquanto o executivo apresentava suas propostas de reforma das leis do trabalho e da estrutura do ensino médio – ao mesmo tempo, centenas de escolas secundárias vêm sendo ocupadas no Brasil, por estudantes de diferentes estados, que protestam contra a PEC 241 e também contra a reforma educacional.
Na terça-feira (18/10), enquanto 20 mil pessoas marcharam em São Paulo contra a política econômica do governo, no Rio de Janeiro, a Polícia Militar reprimia com violência uma manifestação organizada pela Frente Brasil Popular, com o mesmo objetivo.
Estudiosos brasileiros consideram que caso a PEC 241 seja promulgada, o país poderia entrar novamente no chamado “mapa da fome”. “A desnutrição e a subalimentação podem voltar a formar parte dos quadros críticos do país”, como consequência do aumento do desemprego, da redução dos investimentos sociais e do financiamento da produção de alimentos, além do desmantelamento das estruturas montadas para respaldar a produção e a abastecimento, segundo comunicado oficial difundido pelo Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). Instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial manifestaram recentemente seu apoio às medidas de Temer, qualificando-as de “valentes”.
Segundo uma análise divulgada nesta semana, se o congelamento do gasto público fosse imposto há 20 anos atrás, os brasileiros hoje teriam um salário médio de apenas 440 reais, a metade do salário mínimo atual. A economista Fabíola Vieira, coordenadora de estudos do Instituto de Investigação Econômica Aplicada (IPEA), foi quem alertou sobre as consequências dos cortes sociais propostos pelo governo sobre o orçamento da saúde e da educação dos brasileiros. A atitude de Vieira levou a que o presidente da entidade, Ernesto Lozardo, fizesse uma reprimenda pública contra ela, que acabou renunciando ao posto devido ao incidente.
Enquanto isso, a campanha eleitoral municipal continua, desta vez com a disputa do segundo turno em algumas cidades – que será realizado no dia 30 de outubro. O cenário que atrai mais as atenções é o do Rio de Janeiro, onde o candidato da direita evangélica, Marcelo Crivella, começa a ter problemas devido a antigas declarações suas que revelam conceitos colonialistas, machistas e homofóbicos, alguns deles exibidos em vídeos, outros encontrados no livro “Evangelizando a África”, publicado em 2002. “Eu era muito jovem”, justificou Crivella, cuja obra, um relato dos seus anos como missioneiro da Igreja Universal do Reino de Deus no continente africano, foi escrita quando ele tinha 42 anos. Hoje, o candidato percorre os bairros pobres cariocas prometendo respeito àqueles por quem ele revelou ter profundo desprezo anos atrás.
Contudo, Crivella conta com o apoio do deputado mais votado nas últimas eleições parlamentares, o também carioca Jair Bolsonaro, um nostálgico do regime militar que costuma enaltecer a figura do falecido coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos mais conhecidos torturadores da polícia secreta de São Paulo durante a ditadura e acusado pela desaparição e morte de ao menos 60 pessoas.
Tradução: Victor Farinelli
Créditos da foto: reprodução
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