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Rogério Medeiros, diretor do Século Diário, denuncia campanha de intimidação e censura
Jornal GGN – Em entrevista exclusiva para Luis Nassif, Rogério Medeiros, fundador e diretor o jornal capixaba, Século Diário, o único do estado a fazer oposição ao governo de Paulo Hartung, conta a fórmula utilizada pelo peemedebista para acabar com o Espírito Santo.
Medeiros tem um extenso currículo no jornalismo brasileiro. Passou pelo Estado de São Paulo, Jornal Diário (como diretor), Jornal da Gazeta, onde foi editor chefe, e correspondente no Espirito Santo para o Jornal do Brasil, por 24 anos. Foi candidato a primeira eleição direta da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), em 1983, perdendo por uma margem muito pequena para o alagoano Audálio Dantas.
De volta ao Espírito Santo, tentou a vida política como vice-prefeito de Vitória, na chapa do petista Vitor Buaiz, ainda nos anos 1980, e em seguida candidatou-se ao governo do estado, alcançando 16% das intenções de voto.
Com a popularização da internet, fundou o Século Diário, na terra natal. “Eu viajava muito, mas minha cabeça estava no Espírito Santo, lugar muito rico, uma síntese desse país”, a partir dessa convicção, Medeiros publicou, em 1997, o livro Espirito Santo – encontro das raças.
Anos mais tarde, em 2010, ele lançou a obra Um novo espírito Santo – Onde a corrupção veste Toga, dessa vez assinada junto com o jornalista Stenka do Amaral Calado, fruto do um extenso trabalho de reportagens do Século Diário sobre um esquema que envolvia o judiciário capixaba com a Operação Naufrágio, revelada em 2007 pela Polícia Federal.
Medeiros se recorda que seu jornal foi o único veículo local a trabalhar fortemente em cima do caso.
"Nós incluímos [na notícia] 13 de 24 desembargadores. E isso acabou dando sequência a um livro que foi vendido nacionalmente, menos aqui, porque eles não deixaram. No título usamos uma frase [da campanha] de Paulo Hartung: um novo Espírito Santo", completa.
Além do reconhecimento na imprensa nacional, a cobertura sobre o esquema lhe rendeu perseguições de setores de dentro do judiciário, que vieram em forma de processos.
“Eu tenho 54 processos. Vou mais a audiência do que trabalho”, ironiza Madeiros completando que em nenhum dos processos que responde consta que as informações dadas pelo Século Diário foram incorretas.
“Teve uma época [de tantos processos] que até [o jornal] O Globo ficou indignado com que o que estavam fazendo, porque tem uma sentença que diz como é que eu tenho que escrever a notícia”. Medeiros está recorrendo em todos os casos. Em um deles teve uma de suas contas bloqueadas com o argumento de que o Século Diário não poderia continuar praticando seu estilo de produção de matérias.
“Quem mexe com o judiciário quer uma sentença de morte. Eu não estou fazendo drama disso, mas é uma sentença de morte”, avaliou em termos econômicos.
Apesar da perseguição que vem de todos os poderes, Medeiros diz que se recusa a sair do Espírito Santo. “Não quero ir para fora, porque eu acho que tenho que brigar aqui, na minha terra.
A receita de Paulo Hartung
Além de enfrentar o judiciário, o Século Diário se aprofundou nas denúncias contra os “mandos e desmandos” do governador Paulo Hartung, com destaque para uma série especial sobre uma mansão não declarada pelo governador no ano eleitoral de 2014, localizada na região de Pedra Azul, um dos principais destinos dos milionários capixabas.
O Século Diário também alertou para os riscos das escolhas administrativa de Hartung.
Uma política de incentivos fiscais destinada às empresas, fazendo o Estado abrir mão de mais de R$ 4,2 bilhões em quatro anos, somada a um forte ajuste fiscal, congelando até mesmo os salários dos funcionários públicos, mas deixando de fora o orçamento do Judiciário e Ministério Público Estadual que, em oito anos, saltou de R$ 360 milhões para R$ 1,1 bilhão.
Assim, Hartung passou para economistas e analistas de mercado a impressão de ser um bom gestor público, tornando-se um dos poucos governadores a equilibrar as finanças do Estado. Por outro lado, conseguiu levar o Espírito Santo a uma crise na segurança pública – justificada pela falta de orçamento para a manutenção de serviços básicos e um reajuste aguardado há mais de quatro anos pelos policiais.
Quando propôs a política de incentivos fiscais, o Século Diário divulgou uma série de reportagens denunciando a falta da criação de uma lei específica ou que indicasse os benefícios práticos à sociedade dos valores que o Estado estava abrindo mão.
Na época, o Tribunal de Contas do Estado (TCE) chegou a protocolar uma denúncia contra o governador pedindo que Hartung fosse responsabilizado por descumprir a obrigação de enviar a lei para a revisão anual dos serviços à Assembleia Legislativa.
Medeiros conta, entretanto, que graças ao capital político na Casa, Hartung conseguiu, logo depois, fazer os deputados estaduais aprovarem o impensável: retirar o Artigo 145 da Constituição do Estado, justamente aquele que exigia que a política do deferimento fiscal fosse discutida publicamente.
O diretor do Século Diário destaca que o político mantém também uma relação de “total entrosamento” com o Ministério Público Estadual e Judiciário, o que talvez explique porque durante todo o processo de ajuste fiscal, esses tenham sido os únicos poderes a receber aumento de mais de 150%, nos últimos oito anos.
Apesar de essa ser a terceira gestão de Hartung, os quatro anos anteriores foram governados pelo ex-senador Renato Casagrande (PSB), apoiado durante toda sua gestão por Hartung. A relação entre os dois foi quebrada após o peemedebista anunciar, em 2015, seu programa de ajuste fiscal, dando a entender que a gestão anterior, de Casagrande, havia desorganizado as contas públicas do Espírito Santo.
Inconformado, na época, o socialista atacou Hartung, lembrando denúncias feitas contra o político, como altos gastos do Estado com viagens da sua família e compra de terrenos por pessoas ligadas a ele, por "preços estratosféricos".
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