quinta-feira, 15 de junho de 2017

Conciliação com inimigos ainda ilude dirigentes petistas


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Embora esteja na hora de virar a página do caso Miriam Leitão, no qual a nova presidenta do partido acabou reprovada no seu primeiro teste público, não custa recolher lições do episódio.

Quando tomou como verdade absoluta a versão de uma jornalista global cuja especialidade é justamente distorcer os fatos, manipular informações, mentir e fazer projeções catastróficas que jamais se confirmam, Gleisi Hoffmann nada mais fez do que repetir uma linha de atuação política que em boa medida é responsável pela crise atual vivida pelo PT.
Ao emitir nota de desagravo à porta-voz da Rede Globo, Gleisi certamente foi movida pelo mesmo sentimento que levou Dilma ao programa de Ana Maria Braga, para se aventurar na preparação de um omelete fracassado; que fez com Lula e Dilma saíssem direto de suas vitórias eleitorais para entrevistas exclusivas na bancada do Jornal Nacional e que impeliu Dilma a aceitar o convite para abrilhantar a festa de aniversário da Folha de São Paulo.

O golpe de estado traria à tona o fracasso retumbante dessa tática de adular os inimigos, na expectativa de amolecer-lhes o coração. Mas esse republicanismo ingênuo e suicida não se limitou a eventos sociais ou participação em entrevistas com algozes. Teve sérias implicações também na ocupação de espaço nas instituições do Estado brasileiro. 

Lula e Dilma chegaram inclusive a abrir mão de suas prerrogativas como chefes do Executivo, como nas nomeações dos procuradores-gerais da República, quando se curvaram à lista tríplice do Ministério Público. Deu no que deu. Do fortalecimento do corporativismo do MP ao seu protagonismo nas articulações golpistas foi um pulo.

O PT cometeu um grave erro estratégico ao apostar no compromisso democrático e republicano da burguesia brasileira. Não que as alianças não fossem necessárias no presidencialismo de coalizão em vigor no Brasil, que condenam governos sem maioria parlamentar à derrocada. Mas desde que acompanhadas de investimento em formação política, em comunicação e na organização do povo, para pressionar os congressistas pela aprovação das reformas de interesse popular e matar no nascedouro as conspirações contra a democracia.

Lembro perfeitamente das platitudes com as quais a presidenta Dilma respondia às nossas pressões para que levasse à sociedade o debate sobre a regulação democrática da mídia.Dizia que bastava o seletor de canais para resolver o problema ou que preferia o barulho da democracia ao silêncio das ditaduras. No fundo, uma mal disfarçada tentativa de acenar amistosamente para os barões da mídia, enquanto eles tramavam sua degola.

Bepe Damasco

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